Capítulo VIII.

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Quando ele acordou novamente já não estava na mesma sala, ele não encontrou Hazza ao seu lado e automaticamente seus olhos se encheram de lágrimas, ouviu a voz da sua mãe mas não prestou atenção, só conseguia chorar pensando nas palavras daquele maldito doutor.
''Horário da morte 10:47'' aquela frase se repetia em sua mente e ele não sabia como reagir.
Alguém abriu a porta do quarto excessivamente branco e Louis virou o rosto vendo uma médica loira e sorridente entrar.
''Boa noite Louis, como está se sentindo, querido?!'' Ela não tirava aquele maldito sorriso enquanto Louis se sentava na cama ignorando os pedidos de sua mãe para que ele continuasse deitado.
''Aonde ele ta?!'' Sentiu sua garganta arranhando enquanto forçava as palavras a saírem de sua boca.
A médica fez uma expressão de pesar e pegou a mão de Louis que recuou sob o toque da mesma, ele não queria compaixão, ele queria respostas.
''Aonde ele ta porra?!'' Ergueu o tom ignorando novamente a repreensão da mãe.
''Se acalme querido, eu sinto muito por sua perda ok?! Ele não resistiu, o corpo está sendo preparado a uns quartos daqui, eu sinto muito.'' O tom da mulher misturado com suas palavras fazia o estômago de Lou embrulhar.
''O que vocês vão fazer com ele?! Preparado para o que?! Vocês não podem fazer nada com ele, eu quero vê-lo'' sentiu seus olhos lacrimejarem novamente ao que subia o tom proferindo suas palavras cada vez mais rápido.
''Vai ficar tudo bem Louis, eu sinto muito'' a doutora repetiu ignorando todas as perguntas do garoto.
''EU QUERO VÊ-LO PELA ULTIMA VEZ PELO AMOR DE DEUS EU SÓ PRECISO VER ELE MAIS UMA VEZ'' Louis nem percebeu que já chorava copiosamente gritando e implorando aos pés da mulher enquanto sua mãe se desesperava e a doutora ficava sem reação. Nesse mesmo instante um homem fardado abriu a porta entrando pela mesma e se deparando com a cena.
Louis foi acalmado e assistiu enquanto todos saiam do quarto e apenas o homem fardado ficava ali, o homem o encarou por alguns segundos antes iniciar uma conversa.

- Olá Louis, eu sei que você não deve estar muito disposto a conversar agora mas eu vou te fazer uma proposta. Eu sou o capitão Bloomfield, responsável por toda essa operação. - Louis sentiu o estômago revirar quando reconheceu a voz daquele homem, era a mesma que havia saído do rádio aquela noite, a mesma voz que tinha dito que não deveriam haver sobreviventes, sentiu vontade de espancar o homem ali mesmo, porém não se manifestou.
- Então, minha proposta é a seguinte, você disse que quer vê-lo certo?! Eu te deixo ver a criatura pela ultima vez se você estiver disposto a nos responder qualquer coisa depois disso.
- Hazza, o nome dele é Hazza, não é a porra de uma criatura. - Louis rosnou entredentes sentindo o sangue esquentar.
- Que seja garoto, a proposta está feita, o que me diz?!
- Tudo bem, mas o que vocês vão fazer com ele?!
- Isso são assuntos confidenciais, senhor Tomlinson.

Louis apenas concordou com a cabeça, claro que não concordava com aquilo mas não tinha o que fazer, não podia perder a chance de ver seu garoto pela ultima vez. Com a proposta firmada Louis se recompôs e foi guiado até uma sala completamente fechada, observou todos os caminhos e possíveis saídas, sim, ele estava planejando pegar o corpo de Hazza e fugir dali por mais estranho que isso pareça, ele não podia deixar que fizessem experiências com seu garoto como se ele fosse um nada, pura ciência.
Nem percebeu quando já haviam alcançado o fim do corredor e estavam parados à frente de uma porta de metal que foi aberta com uma senha, entrou devagar sentindo o cheiro de formol da sala invadir suas narinas e sentindo seus olhos arderem cada vez mais, ele não queria chorar mas nada estava ajudando a situação.
Depois de muito implorar conseguiu que encostassem a porta e deixassem-o a sós com o corpo que se encontrava ao centro da sala totalmente coberto com um pano branco.
Se aproximou devagar já sentindo as lágrimas teimosas escorrerem por seu rosto, levou a mão até a barra do pano puxando devagar vendo seu corpo inteiro tremer mesmo sabendo o que encontraria ali.
Sentiu seus joelhos fraquejarem e se apoiou na mesa quando viu lá o rosto mais pálido que o normal, os olhos fechados e os lábios entreabertos completamente sem cor, ele queria que o garoto, seu Hazza, estivesse apenas dormindo, ele realmente queria que o outro levantasse como se nada estivesse acontecendo, mas isso não aconteceu.
Não aconteceu, e quando sua ficha caiu Louis não conseguiu manter mais as lágrimas que passaram a descer rapidamente e logo largaram de ser silenciosas e passaram a ser acompanhadas de fungos e desespero.
O garoto fechou os olhos azuis com força e se curvou sobre o corpo sem vida o agarrando entre seus braços e apertando com força, começou a sussurrar dezenas de ''por favor'' mesmo sabendo que nada aconteceria.
Ele se afastou continuando curvado sobre o corpo e levou seu rosto até o nível do rosto do outro, segurou em suas bochechas e aproximou seus lábios sentindo o gosto de suas próprias lágrimas, mas foi apenas isso que sentiu, não tinha mais nada ali, não tinha vida, não tinha reação do próximo, e ele passou a chorar mais ainda.
Deitou a cabeça no peito descoberto de Hazza e se permitiu fechar os olhos e chorar mais, agora silenciosamente, apenas apertando o corpo contra si, levou sua mão até a mão do outro do lado oposto que estava, apertando a mão maior que a sua.
Foi quando viu uma luz fraca refletindo no teto branco, olhou para cima e voltou o olhar para o peitoral de Hazza que estava, curiosamente, emitindo tal iluminação, quando foi se aproximar para tentar entender o que estava acontecendo ali foi que ele sentiu.
Ele sentiu seu coração se acelerando, ele sentiu uma ponta de esperança por todo seu corpo, ele sentiu Hazza retribuindo o aperto em sua mão.

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