Minhyuk é um garoto muito extrovertido. Ele ama sair com seus amigos e se comportar como a pessoa divertida que é, fazendo suas loucuras apenas entre eles, já que são as únicas pessoas que confia. Adora ouvir as ondas do mar quebrando e aproveitar a luz do sol em seu rosto. Mensalmente gosta de variar cremes dentais para adicioná-los ao seu ranking dos melhores aos piores. Sempre soube disso, sempre foi assim. Todavia, gostar apenas de garotos foi uma coisa que descobriu ao longo de sua pré adolescência. Imediatamente sentiu medo do que aconteceria caso alguém conservador e intolerante como seu pai descobrisse seu segredo, porque apesar de ser uma coisa normal, nem todas as mentes são evoluídas o bastante para entender essa normalidade; ou apenas se esforçam para que não entendam.
Bem, foi exatamente isso o que aconteceu. Ele foi descoberto pela pessoa que menos gostaria que soubesse. Não imaginava que seu pai fosse aparecer na escola logo quando trocava juras de amor com seu namorado (até então escondido).
Naquele dia soube que tudo seria um inferno. Foi ainda pior do que imaginou quando chegou em casa, mas não parou depois disso.
Desde daquele dia, sempre é reprimido por seu pai – único familiar presente em sua vida – em todos os momentos possíveis. Todos os dias, ao receber a ordem violenta de que deveria se consertar, ele notava que não tinha mais alguém em quem confiar.Se até seu próprio sangue o tratava desse jeito, o que os outros poderiam fazer?
Faz muito tempo que Minhyuk passou a sonhar com sua independência, desejando mais do que tudo poder se livrar daquele homem. Não importa como, queria apenas ser livre.
Mas como todas as pessoas que buscam independência, o Lee tem seus problemas com a dependência de uma pessoa específica e incoveniente, o responsável por suas noites de choro e olhos inchados, aquele que não considera mais como um pai. É uma ferida social que não tem sutura, mas ele sabe que precisa tentar. É somente o que lhe resta.Desde os quatorze anos de idade, vem aguentando a situação solitária e sombria onde se encontra. Por um tempo até chegou a achar normal a forma grosseira e nojenta como é tratado em casa. Mas, aos dezessete, assistiu uma palestra em sua nova escola que tinha como tema A Violência Decorrida da Intolerância e a Liberdade de Expressão. Foi então que percebeu que ninguém deveria ser tratado do jeito que ele vinha sendo. Mesmo que tenha sido necessário três anos e a migração para o ensino médio, sentiu esperança naqueles palestrantes e seu coração acelerou com a ideia de pedir ajuda.
Foi então que conheceu seu atual melhor amigo, Im Changkyun, um estudante que estava ao seu lado e notou o nervosismo que ele pensava esconder tão bem.-- Você está bem? Está passando mal? Eu posso te ajudar?
Minhyuk o olhou com vontade de ser ajudado, as lágrimas escorrendo de seus olhos ao lembrar da sensação agoniante do cinto de couro machucando sua pele; ele não queria isso para mais ninguém, não queria que outra pessoa se envolvesse em sua vida e passasse pelo mesmo tormento, então mentiu.
-- Estou com calor, pode me ajudar a sair daqui? - deu um meio sorriso -
E assim fez amizade com alguém pela primeira vez desde aquele dia sufocante.
Changkyun estava também em sua turma, não foi difícil se apegar, assim como não foi difícil para ele notar que havia algo errado com o Lee. Apesar da desconfiança, sempre recebia a mesma resposta: Não tem nada de errado comigo, Changkyun, estou bem.
Mas um dia foi impossível segurar o choro ao ter uma de suas crises existenciais, e então o Im descobriu o que estava acontecendo, mesmo que tenha ameaçado a amizade deles por isso. Viu todas as suas cicatrizes e até mesmo as marcas recentes da noite anterior. Elas estavam por todas as partes do corpo esguio de Minhyuk, e ele sentiu uma raiva que nunca imaginou que sentiria por alguém. Jurou que ele pagaria, fará com que pague."Um dia eu vou fazer aquele filho da puta pagar por tudo o que faz com você. Ele vai implorar por misericórdia e eu vou cuspir em sua cara de merda."
Voltando aos dias atuais, no último ano do ensino médio, aqui está Minhyuk chorando no ombro de Changkyun durante o intervalo, ao lado de seu novo amigo Kihyun.
-- Chang... Eu não aguento mais.
-- Ele te bateu de novo?
-- Ele disse que vai me mandar embora se eu não provar... Aquilo.
-- Seu pai é um idiota. Eu odeio tanto esse cara.
-- Eu não sei o que fazer. Ele já sabe que eu não gosto de garotas. Ter me visto de saia foi a gota d'água pra ele.
Minhyuk sabia que não deveria fazer isso em casa, disse a si mesmo que não demonstraria sua personalidade para aquele homem. Mas parecia tão errado. Era tão errado esconder-se de si mesmo e das suas perspectivas de vida, de todas as suas convicções. Não era justo, não é justo. Não é justo ser ameaçado por um pedaço de pano ou por algo que nem consiga controlar. Filho morto ou filho gay? Filho morto. Tão morto que morre um pouco a cada dia que passa, tão morto que a vida parece distante demais para alcançar e a memória manchada de uma existência de tormento lhe resta de consciência pela eternidade fúnebre em que se encontra, até que em fim descubra que a morte é a passagem injusta e não randomizada para a vida que, pasme, será repleta de pequenas mortes lentas de sua alma. Porque a ferida social é funda demais, porque mesmo que quase suture, algumas pessoas são como facas, são armas que não permitem cicatrizes. Elas não têm medo de ferir ou de matar o filho morto.
-- Você não tem que fazer o que ele quer. Eu disse que pode vir morar comigo quando quiser.
-- Eu não posso fazer isso, Changkyun. Não é justo te envolver desse jeito nos meus problemas.
-- Claro que pode. Minha mãe gosta de você, e eu amo você. Não aguento mais te ver chorando por causa daquele homem estúpido.
-- Gente, sei que não é da minha conta, mas eu posso ajudar.
Os dois voltaram a atenção para o Yoo. Aquela situação o estava incomodando profundamente. Odiaria não fazer nada para ajudar enquanto pode cobrar diversos favores a um amigo específico.
-- Ninguém pode me ajudar, Kihyun.
-- Deixa ele falar, Minhyuk. Como pode ajudar, Kihyun?
-- Eu tenho um amigo que está alugando um quarto na casa dele. Se quiser eu posso falar com ele e o quarto é seu.
-- Se eu tivesse dinheiro, já teria ido embora daquela casa.
-- Ele tá me devendo alguns favores. Por favor aceite, você não terá que pagar nada.
-- Ele aceita!
-- Changkyun! - Minhyuk o encarou com os olhos ainda úmidos -
-- Faça isso, por favor. Eu ajudo você no que precisar, hyung.
-- Tem certeza que é uma boa ideia, Kihyun?
-- É a melhor que você tem.
Minhyuk ficou pensativo, mas cedeu, vendo essa oportunidade como o passo inicial para alcançar a sua sonhada independência, ou quase.
Kihyun falou com seu amigo Jooheon e depois passou o endereço para ele. Eles tirarão Minhyuk daquela casa custe o que custar.
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We [Joohyuk]
FanfictionMinhyuk faria qualquer coisa para se livrar de seu pai preconceituoso e opressor, inclusive mudar-se para a casa de um desconhecido. Jooheon devia favores a um amigo e estava disposto a pagar tudo quando a oportunidade surgisse, mesmo que isso signi...