Capítulo 1

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São Paulo, 1990, oito anos depois...

Sarah, estava na sala de embarque do aeroporto internacional de São Paulo. Seu tio já havia despachado a bagagem de ambos. Ela carregava apenas sua bolsa de mão. Estava um pouco assustada. Afinal, aquele era um passo muito importante em sua vida. Porém, ela tentava disfarçar o que estava sentindo.

—Não se afaste de mim! — O velho senhor falou autoritário.

—Não se preocupe! Já tenho dezoito anos! Não sou mais criança e nem irresponsável!— A jovem respondeu tentando fingir uma falsa maturidade.

Quem observava, aquela linda jovem, de uma beleza exótica que chamava atenção: Longos cabelos negros, rosto afilado, pele morena clara, olhos verde esmeralda. A mistura do sangue cigano com o brasileiro, sem falar da bisavó materna que diziam ser alemã. Não conseguiria imaginar o nervosismo que ela escondia dentro de si. Ali de pé, no salão de embarque, vestindo calça jeans, blusinha, casaco e ao lado de um senhor de aparência exótica. Ninguém imaginaria que era uma cigana que por ironia do destino, em pleno século vinte, estava sendo conduzida para um casamento arranjado.

—Vejo que carrega em seu pescoço o medalhão de ouro, com a foto do seu noivo ainda criança. Símbolo do seu compromisso! O meu sobrinho Aaron também faz o mesmo! — O senhor de idade falou sério ao olhar para o pescoço da jovem. Enquanto ambos aguardavam o voo para Madri na Espanha.

—Apenas porque o meu pai me entregou isto antes de morrer! Revelou o motivo e pediu para que eu a usasse sempre! Apenas por isso !

A jovem de dezessete anos respondeu malcriada. Apesar de sensível, ela tinha os seus momentos de gênio forte, fruto da criação mimada da mãe. Porém, ela ficou um pouco surpresa em saber que o tal noivo, mesmo após tantos anos, também carregava a mesma corrente no pescoço, junto com medalhão. Onde continha a foto dela criança, pois da Sarah mulher, ele nunca procurou saber.

—Não fale comigo nesse tom malcriado! Eu sou o seu tio mais velho! Seu pai me respeitava como um pai! O seu tio, pai do seu noivo também fazia o mesmo! Portanto você me deve obediência! — O homem a repreendeu.

—Desculpe, não foi a minha intenção!— A jovem respondeu a contra gosto.

Sarah, ainda se recordava quando aos dez anos seu pai lhe entregou aquela corrente e revelou que ela era noiva do seu primo cigano na Espanha. Pediu para ela sempre a usar e que um dia seu primo viria busca-la para se casar. Na verdade, ela não sabia que seu pai estava tão doente ao ponto de morrer e que aquilo era praticamente uma despedida. Então, no dia seguinte ele faleceu. Contudo, apesar de nunca ter acreditado naquele compromisso surreal, em pleno século vinte. Ainda usava aquela corrente no pescoço, porque foi um pedido do seu pai, antes de falecer. Era como se fosse uma lembrança dele.

—Sarinha, tão jovem já fisgou um marido!— Já adolescente, a sua mãe, brasileira não cigana, costumava brincar a respeito. Mesmo já passado tantos anos, apesar de não ser a favor daquele compromisso.

—Ah mamãe! Não fale isso para minhas amigas do colégio! Elas sabem da minha origem cigana, mas essa história de casamento arranjado, vai me fazer passar vergonha! — A jovem reclamava.

—Calma filha! Eu não vou falar sua bobinha! Acho até que a essa altura o seu primo já esqueceu. Afinal nunca nem nos procurou. Isso foi coisa do seu pai, com as tradições ciganas dele! Já se passaram sete anos da morte dele, você já tá uma moça de dezessete anos e ninguém nunca nos procurou...

—Sinto falta do papai, mas não desse compromisso! Não quero casar tão jovem, quero estudar, fazer faculdade, trabalhar!— A jovem falou segura de si.

O Destino da Cigana ( Degustação- série Casamento Arranjado)Onde histórias criam vida. Descubra agora