Peso

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Eu não tinha ideia de como as coisas estavam ruins para todo mundo até chegar no apartamento do Cesar... Acho que essa última semana eu acabei me fechando demais para tudo ao meu redor, pois agora parece que eu consigo sentir na pele o clima tenso rolando por toda parte da Equipe E.

Sai de casa quase voando, até pensei em chamar um Uber para ir até lá, já que é um pouco distante de ir caminhando em uma hora de emergência, como disse Cesar, porém até o carro chegar eu perderia alguns longos minutos, então decidi que se eu corresse eu chegaria mais rápido. Sai tropeçando pela rua enquanto recebia vários olhares de pessoas que estavam por perto, mas ignorei.

Chegando no apartamento, pude ver Cesar com seu semblante cansado, olheiras bem marcadas debaixo de seus olhos, cabelos bagunçados e bastante desesperado, tendo em vista que eu mal havia chegado e já estava recebendo esporro do mesmo sem motivo algum.

Tentei acalmá-lo e fui direto ver como estava Joui, já que pela ligação parecia que o mesmo estava muito mal. Pude ver o menino largado no sofá, dormindo de mal jeito, porém ele estava descansando e acordá-lo não seria a melhor escolha a se fazer naquele momento.

Eu e Cesar então fomos para a mesa de estar, sentamos e ficamos um bom tempo em silêncio esperando Joui acordar para eu poder conferir como ele estava se sentindo, até que o silêncio é quebrado:

- "É... desculpa por ligar desesperado, eu realmente não sabia o que fazer e eu desesperei, tentei ligar pra Liz, mas ela não atendeu... Desculpa se eu te atrapalhei em alguma coisa, eu não queria mesmo te preocupar a essa hora da noite..."

- "Não tem problema Cesar, na verdade eu que deveria me desculpar..." - falei bem tímido. Era muito complicado assumir que por uma falha gigantesca minha eu magoei um dos meus amigos que não tinha nada a ver com os meus surtos.

- "Como assim Arthur? Você não fez nada demais com ele."

- "Eu... mandei o Joui se afastar de mim..."

Cesar então vira seus olhos para a minha pessoa, mas por eu estar envergonhado demais para encará-lo não soube se ele me olhava com cara de surpreso ou com indignação.

- "Você... fez isso? Por que?"

Um grande nó na minha garganta começou a se fazer presente naquele momento. Era como se eu estivesse revivendo o que tinha acabado de acontecer há algumas horas atrás onde eu gritei desnecessariamente com Joui e agora eu pudesse sentir o peso de como isso deve ter impactado ele. Me segurei bastante, me controlando para não chorar ali mesmo, respirei fundo e continuei:

- "A-ah, eu sei lá... Eu não tava me sentindo muito bem e o Joui chegou em uma hora bem... 'delicada'?" - tentei esconder o que eu tinha feito. Se eu ainda não tinha sido expulso da Equipe pela minha incompetência aquilo provavelmente seria a gota d'água.

- "Olha, se você não quiser falar tudo bem, eu entendo... eu também não fui muito legal com o Joui..."

Foi então que pela primeira vez eu criei coragem para encarar Cesar. Senti que era mais que hora de fazer alguma coisa, encarar a vida de maneira certa, encarando meus medos. Foi então que eu vi Cesar olhando para outro cômodo da casa com muita vergonha por ter confessado aquilo.

- "Me desculpa pela pergunta, mas o que que você fez?"

Cesar respira fundo e com os olhos fechados, quase sussurrando pela vergonha explica que havia evitado o contato com Joui pois não sabia o que conversar com o mesmo.

Na hora, senti que ele também estava confuso ainda por tudo o que havia acontecido, afinal, quem conseguiria sair de uma missão como aquelas e voltar a ter a sua vida normalmente como se nada tivesse acontecido? Querendo ou não, todos nós estávamos passando pelo mesmo sentimento de luto pelo nosso amigo, o problema é que cada um lidou com isso da maneira que achou melhor, mesmo que acabasse ferindo as pessoas que você tanto ama...

O nó em minha garganta começou a me sufocar, as lágrimas já estavam quase escorrendo pelo meu rosto. Me levantei e dei um abraço em Cesar. Não sabia se ele estava desconfortável ou não, pois o mesmo não havia retribuído na hora e eu já estava começando a me arrepender. Quando estava prestes a me desfazer pude sentir seus braços começarem a se envolver nas minhas costas.

- "Eu... eu não queria machucar ele de forma alguma, eu só nao sabia como lidar com os meus sentimentos..." - disse Cesar baixinho com a voz chorosa.

Também comecei a chorar baixinho. Tudo o que acabamos fazendo feriu diretamente Joui. Ele só queria que nós ficássemos bem.

- "Cesar, eu afastei o Joui porque achei que vocês não me queriam mais na Equipe..."

- "Que? Como assim?" - perguntou, se desvencilhando do abraço e secando seu rosto que estava um pouco molhado.

- "Ah... É que eu nunca de fato consegui ser importante para a equipe e achei que vocês tinham mandado o Joui para lá só para ele me demitir da Equipe por ele ser o melhor com as palavras..." - falei, sentindo todo o peso que eu carregava sobre esse assunto sair de mim. Era tão libertador poder me livrar desse incômodo.

- "Arthur, deixa de ser bobo, você acha mesmo que a gente não gosta de você?"

- "Eu sei lá... só achei que depois de tudo eu não seria mais útil para a Ordem..."

- "É óbvio que você é útil Arthur. Tu sempre tá disposto a proteger todo mundo! Você faz parte da nossa equipe agora cabeção, não tem mais volta não."

- "Hahaha... entendi." - ri meio tímido pelo apelido "carinhoso".

Depois disso passamos mais um tempo quietos até Joui acordar.

Assim que fomos até ele já pude perceber de cara que o menino não estava nada bem. Sua pele estava pálida, tinha seus olhos vermelhos e rosto inchado, por causa de sua choradeira em excesso, estava até um pouco mais magro aparentemente.

Ao tentarmos nos aproximar, Joui começou a fugir de nós dois e pude perceber que o mesmo iria desmaiar, pois estava desacelerando o passo. Corri o mais rápido que pude e peguei ele com meu único braço para que a queda não o machucasse mais do que já está ferido internamente. No processo, acabei caindo junto dele, porém não me importava muito agora comigo, precisava ver como ele estava.

Sua cabeça estava fervendo, ardendo de tanta febre que ele devia estar sentindo. Seu coração batia de forma totalmente descontrolada, estava muito acelerado e na hora quase entrei em pânico. Queria tanto poder voltar e refazer as minhas escolhas... Como que eu podia ter dito palavras tão ruins para ele? Ele só queria me ajudar e eu consegui somente machucar seus sentimentos.

Respirei fundo antes de fazer qualquer coisa.

- "Cesar, rápido, tenta ligar para a Liz mais uma vez, se ela não atender a gente vai levar o Joui no hospital agora, entendeu?"

- "A-AH, OK..." - disse desesperado correndo atrás do seu celular.

Enquanto Cesar ligava incessantemente para Liz, peguei alguns panos de prato e molhei eles em água gelada, colocando sobre a testa de Joui para tentar pelo menos abaixar um pouco a sua febre, visto que essa era a única coisa que eu podia fazer no momento.

Depois de alguns minutos sem sucesso de Liz atender o telefone, já estávamos eu, Cesar e Joui em uma maca dentro de um carro do Samu indo direto para a emergência, já que nada estava adiantando.

Minha ansiedade só aumentava cada vez mais juntamente da culpa.

Eu não podia estar acreditando que tudo aquilo estava acontecendo diante dos meus olhos.

Cesar então ligou para Ordem para ver se eles conseguiam algum contato com Liz enquanto eu olhava para a estrada, cada vez mais próximos ao hospital.

Como que aquilo havia escalado de uma maneira tão rápida desse jeito?

O Que Restou - OSNFOnde histórias criam vida. Descubra agora