Capítulo 1

3 0 0
                                    


Capítulo I

Com o vento batendo em seu rosto, Luciano corria. Estava extremamente atrasado para seu primeiro dia de aula. Estava ingressando na sexta série, e sabia que se demorasse, os portões da escola se fechariam e tia Ana jamais o deixaria entrar.

Estava muito ansioso para saber se havia caído na mesma sala de seus amigos, ele precisava de seus companheiros de encrenca.

- Espera! – Gritou para Tia Ana que se preparava para fechar a grade. – Tia Ana!

Não sabia se teve uma impressão errada ou se a Inspetora realmente havia se apressado para fechar o portão. "Porcaria! " – Pensou Luciano.

Começou a correr ainda mais.

- Não fecha! – Pediu enquanto corria. Ana foi fechando cada vez mais o portão, e quando estava extremamente próxima de fazê-lo, Luciano passou sua mão para dentro do portão, fazendo Ana prensar seu pulso contra a outra metade do portão. Acabou exclamando de dor. – Tia Ana! Meu Deus! Meu braço, Tia Ana! Se você não abrir o portão ele vai cair! Ah! Que acidente terrível! Você vai pagar a minha consulta médica! Vai me pagar o seguro de braço e também vai me pagar uma prótese! – Dramatizou.

- Aí Moleque, para de graça, entra logo antes que eu realmente corte sua mão fora! – Ela abriu uma pequena brecha para que Luciano pudesse passar.

- Muito obrigado, Tia. – Ele passou, todo sorridente.

- Agora vai logo para sua sala, Luci...fer. – Ana brincou com o nome do menino, por ele ser um garotinho muito arteiro.

- Eeei! – Iria chamar-lhe a atenção, mas acabou lembrando que precisava ao menos saber qual era sua sala.

E então passou a procurar seu nome pelas cinco listas de sexto ano. Procurou em uma, procurou noutra, em mais outra, até que enfim, achou seu nome.

- Vai, garoto. Quanta demora! – Tia Ana apressou.

- Espera aí... estou procurando... – Mentiu, pois já havia achado seu próprio nome. Agora procurava o nome de seus amigos. E acabou comemorando silenciosamente ao notar que todos estavam juntos novamente, no segundo ano seguido. – Achei! – Disse.

- Então vá! – Mandou.

- Tchauzinho, Tia Ana... até o lanche... - Disse sorrindo para ela, acenando com sua mão.

O pequeno Luciano caminhou em direção à sala de aula e logo uma alegria explosiva contagiou seu coração, seu lugar favorito estava vazio: a primeira carteira da parede próxima à porta. E não era qualquer lugar, era um estratégico que possibilitava a visão privilegiada da sala, além de claro, ser sempre o primeiro a sair do recinto. Seus amigos estavam todos na mesma classe, o que era mais um motivo para estar feliz e com toda essa empolgação que sentia, disse:

-Olá pessoas! - Em alto e bom tom, propagando suas emoções e rompendo o silêncio que pairava no ar.

No mesmo instante uma voz ecoa de cuja origem parecia ter vindo do fundo da sala:

-Cala boca moleque! - A voz era grosseira e rude, soava como um trovão personificado em fala humana.

Luciano que antes continha um sorriso estampado em seu rosto agora apresenta pavor em seus olhos, rapidamente, acomoda-se em seu lugar e nele permanece em estado de choque. Depois em um sussurro de confissão chega até os ouvidos do menino amedrontado, era seu amigo e dizia somente duas palavras que se fizeram suficientes:

-É o Glodoaldo.

Glodoaldo: A lenda passada de aluno para aluno, o menino era um repetente que, constantemente, arrumava confusão com os outros alunos, era expulso geralmente logo no início do ano no restante do qual passava em casa, repetia de ano e da mesma forma o ciclo. Luciano, por sua vez, mudara de casa e começara a estudar nessa escola um pouco depois do início das aulas no ano passado, portanto apenas tinha a imaginação de como seria Glodoaldo, o qual era alto com o corpo desenvolvido, barba e expressão de mau humor.

O fato de Luciano estar na mesma classe que Glodoaldo, seria um extremo problema, ainda mais agora, que havia irritado o brutamontes na primeira palavra que saíra de sua boca! Tentaria ao máximo se manter afastado do repetente que mais parecia um ex presidiário.

Em um dia qualquer, na hora do recreio, Luciano e seus amigos se reúnem e começam a conversar enquanto tomam o lanche, o qual era leite misturado com aquilo que supostamente era para ser achocolatado e pão carinhosamente apelidado pelos alunos de "Pão com Epa" porque as tias da cantina tinham o trabalho que cortar o pão, quando cortavam, mas não havia nada dentro, criando uma expectativa nos famintos alunos: ter algo dentro do pão; porém nunca tinha. Fazendo com que os alunos se decepcionem e digam "Epa!", por isso o nome.

Durante esses poucos minutos, Luciano como de costume estava conversando com seus colegas muito empolgado indo de um lado para outro, o que ele não percebeu é que acompanhando de seus passos de direita para esquerda estava o Glodoaldo que tentava passar. Quando o grandalhão se viu bloqueado pela terceira vez, não pensou duas vezes e esbofeteou o pequenino que recebeu o tapa de surpresa e dolorosamente, caiu no chão e cheio de raiva, levantou-se pronto para xingar o abestalhado que havia o empurrado.

- O seu Babaca! Não viu que eu... – Ao ver quem havia o empurrado, engoliu todas as palavras de baixo calão em sua garganta. "Me ferrei..." – Pensou Luciano.

Glodoaldo o encarava com seu rosto inexpressivo, deixando o garoto passar segundos imaginando possíveis mortes que poderia ter.

E então o brutamontes simplesmente colocou sua enorme mão no rosto de Luciano e o empurrou para longe com força, para finalmente passar pelo corredor tranquilamente.

"Ok, foi só isso... ufa..."

Só alegriaOnde histórias criam vida. Descubra agora