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Gon Freecs tinha um fascínio pelo céu noturno, olhar todas aquelas luzes magníficas fazia brotar em seu peito um sentimento especial. Era preferível para ele estar com aqueles astros ao relento por toda a madrugada, à estar sozinho em seu quarto escuro.
Todas as noites, Gon sentava no campo e olhava para as estrelas, mais para uma em especial. Aquela que emitia a luz mais branca e brilhante, tão separada das outras que se uniam para formar belas constelações.
Gostava de pensar que ela não se dava bem com as estrelas, e por isso se afastava, ou que as estrelas sentiam inveja de seu brilho mais forte e a ignoravam, imaginava que apenas talvez, aquela única estrela lhe entendesse.

Ele entendia como era ser solitário, como aquela estrela.

O que ele não imaginava era que, do céu, a estrela solitária também o observava todas as noites, e no céu, era julgada por todas as outras, e rejeitada, mas ela não sentia falta de formar constelações. Apenas aquele humano que sentava no campo lhe interessava, passava os dias e as noites lhe direcionando olhares e brilhava mais forte que as outras estrelas apenas para ser notada.

Depois de um tempo, naquele 'encara-encara' de ambas as partes, um burburinho começou entre os astros noturnos. "Quando estrelas brilham tanto assim, é porque estão apaixonadas" ou "Você sabe o que acontece com estrelas que brilham demais certo?" "Sim, ouvi dizer que elas caem no mundo humano". Na Terra, as outras pessoas estranhavam o garoto que passava as madrugadas olhando pro céu, e respondiam se afastando.
Ambos, estrela e humano procuravam amparo e consolo um no outro para satisfazer aquele vazio que lhes preenchia.

Num certo dia quando a noite chegou, a solidão apertou tanto no peito de Gon que ele sentiu o ar escapar, e lágrimas molharem seus olhos. Suas órbitas viraram então uma piscina delicada, e seus olhos miraram a estrela solitária, que por um segundo crepitou, e seu brilho oscilou como se chorasse também. Na Terra, o garoto ficou surpreso, e olhando para vastidão daquele negro-azulado pediu a Lua que lhe desse aquela estrela para abater sua solidão.
A Lua, que via todas as noites seus dois filhos chorarem naquela solidão, se compadeceu e devolveu aquela alma ao seu lugar original.
O peito de Gon afundou, e seu coração pulou quando viu a estrela solitária cair, o ar lhe faltou quando a viu se aproximando lentamente.
Quanto mais perto chegava, melhor podia ver sua forma, parecia uma criança, um garoto. Uma aura branca-neve o envolvia, conforme chegava mais perto, Gon percebia a velocidade, e ergueu seus braços para apará-lo, ambos indo ao chão quando os corpos se encontraram. Mesmo que tivesse acabado de ser deportado do céu, aquele garoto, aquela estrela ainda sorria e lhe abraçava forte.

"Gon! Gon! Gon! Como eu queria te abraçar assim!" exclamou sorrindo ainda mantendo seus braços ao redor do pescoço do garoto que tentava assimilar tudo.

"Você... realmente é aquela estrela?" ele estava hesitante, mas com uma euforia tão grande que suas mãos tremiam ao retribuir o abraço.

"Sim! Eu sou o Killua, a estrela que te olhava todas as noites e ansiava pelo dia que poderia te tocar assim!" dizia rápido parando para olhar naquela imensidão castanha que eram os olhos do garoto à sua frente, e limpando com seus dedos delicados os rastros remanescentes do sofrimento do seu menino.

"K-Killua?" Gon olhou melhor aquele ser que se dizia uma estrela, fato que era irrefutável. Tocou sua pele tão branca e macia quanto jade, aquele garoto tinha os céus diurno e noturno no olhar, e os cabelos tão prateados quanto a lua. "Mas como?"

Em seu coração, Gon explodia de felicidade. Na verdade, não importava muito como aquela estrela que antes brilhava no céu, agora brilhava nos seus braços, ele se sentia inexplicavelmente completo, como se Killua fosse o pedaço que faltava para completar o seu vazio.

A partir daquele dia, Gon não se sentia mais solitário, mesmo quando era ignorado pelos outros, pois Killua sempre segurava sua mão onde quer que fosse. Durante o dia, eles caçavam, brincavam e corriam iluminando o dia com sorrisos mais brilhantes que o Astro rei. E durante as noites, ambos sentavam na campina verdejante, e admiravam a deusa Lua que lhes permitiu se unir novamente.

Em umas das noites em específico, quando Killua estava confortavelmente alocando Gon em seus finos braços pálidos, o rodeando em um abraço cálido, este lhe chamou atenção.

"Gon..."

O garoto que apenas apreciava o céu, o olhou diretamente nos olhos azulados. "Hm?"

"Você sabia que existiam humanos perfeitos?" atiçou a curiosidade do garoto moreno.

"Isso é impossível, não é?"

"Não, quer dizer, sim, hoje em dia" se atrapalhou, mas sorriu se recompondo, e adicionando um cafuné nos cabelos castanhos macios. "Muito tempo atrás, existiam criaturas chamadas andróginos, eles era humanos que tinham quatro membros superiores e quatro inferiores, e uma cabeça com dois rostos" pausou analisando a expressão confusa de seu menino. "Esses seres semiperfeitos eram filhos do Sol e da Lua, vagavam pela terra ambiciosamente, eles podiam caminhar para frente e para trás, e podiam rolar também." Gon ouvia tudo sem ao menos piscar, super envolvido na história.
"Quando Zeus viu que a ambição deles cresceu, e eles quiseram se igualar ao deuses, e resolveu lhes dar uma lição. Então, os dividiu em dois, em dois corpos, duas almas.
Quando divididos, eles não eram mais almas inteiras, as metades então morreram de fome e desespero, abraçando-se até que a morte chegasse para o primeiro, e o outro morresse de tristeza depois.
Mas Zeus, em sua misericórdia, e compadecer, virou então suas partes reprodutoras que estavam nas costas para a nova frente onde estavam agora os seus rostos para que, num abraço, eles pudessem se unir novamente. Mas havia um porém" Gon abadonou os braços calorosos, e se pois sentado ao lado de Killua, apoiando sua cabeça no ombro deste. "A alma saberia que só o reencontro com sua antiga metade em um abraço os libertaria da saudade e da busca eterna."

"Que história triste, qual é a chance de uma metade encontrar a outra?"

"Quase nula..." Killua respondeu. "O que eu quero dizer, é que" tocou suas bochechas mornas, e encostou suas testas, como se eles pudessem trocar energia. "Gon, você é a metade que Zeus tirou de mim, e a Lua devolveu..."

Gon, emocionado por aquelas palavras tão doces, e tão vidrado dos olhos azulados como cristais brutos, tocou sua bochecha também. "E vamos ficar juntos até o fim, sem mais solidão, e nem tristeza, apenas... "

"Nos completando, e nos amando, até o final." completou e selou os lábios de seu menino com os seus num selo quente e lento.

No céu, a deusa Lua sorria para seus filhos não mais tristes e solitários.

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⏰ Última atualização: Jul 22, 2021 ⏰

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