Aconteceu de eu estar sentado sob o sol com um livro e, assim que eu estava prestes a cochilar, ouvi uma pequena voz dizer:
— Com licença, para que isto serve?
Uma pequena formiga havia escalado o meu livro e estava sentada a encarar-me.
— O que? – eu disse
— Com licença – a formiga disse, — Para que isto serve?
— Do que você está falando? – perguntei-lhe.
— Este grande terreno preto e branco em que estou no momento. – ela tocou o livro com suas pequenas perninhas pretas.
— Olha, – eu disse, — você não entenderia mesmo que eu te explicasse.
— Isso pode ser verdade. – a formiga disse.
— Mas apesar de eu ser muito pequena, eu sou muito curiosa, e eu não quero me tornar pó sem saber de nada. Então, por favor me diga, o que é isto? – ela ficou de pé apoiando-se somente em suas duas pernas traseiras ansiosamente aguardando minha resposta, com suas antenas atenciosas com grande respeito.
Eu disse:
— *Suspiro* É o seguinte: você está de pé sobre uma página. Páginas são feitas de árvores, nós colocamos várias delas juntas e chamamos de livro.
— Para que serve um livro, então? – ela perguntou-me.
— Bom, ele guarda pensamentos. – eu disse. — Para que possamos transmiti-los para outras pessoas que estejam muito distantes.
— Como? – ela disse.
— Olha, agora não é a hora e aqui não é o lugar. – eu disse com mais força do que o necessário. A formiga abaixou sua pequena cabeça e suas antenas murcharam. Eu disse suavemente:
— Olha, você vê esses pequenos rabiscos pretos? Oh, me desculpa, para você, grandes rabiscos pretos abaixo de você na página. – eu disse, e a formiga confirmou com sua cabeça.
— Estas são palavras e números.
— Elas não se parecem com palavras e números. – a formiga disse.
— Elas os representam. – eu disse.
— Hum... – a formiga disse e pensou sobre por um tempo.
— Você entendeu?
— Não. – a formiga disse. — Você estava certo, está além de mim.
— Mas, apesar de eu não ser tão esperta quanto vocês, animais, eu estou pelo menos um pouco mais sábia do que estava momentos atrás. Então, obrigada por isso.
— Não foi nada. – eu disse.
— Bom, boa sorte em ser algo no mundo. – a formiga me disse.
— Boa sorte para você também.
A pequena formiga seguiu seu rumo e desapareceu na grama. Eu li até o fim de minha página, mas não fui capaz de esquecer a pequena formiga. Eventualmente eu tirei meus olhos do livro, e olhei para as árvores, para a montanha e para o céu. A lua subia no céu, pássaros faziam sua migração no horizonte. Eu gritei:
— Com licença, para que serve tudo isto?
— O que? – veio uma voz ensudercedora do céu. — Esta grande esfera azul e verde em que eu me encontro agora. – eu toquei o chão com meus pés. — Para que serve tudo isto?
— Olha, – a voz disse, — você não entenderia mesmo que eu te explicasse.
— Isso pode ser verdade. – eu gritei. — Mas apesar de eu ser muito pequeno, eu sou muito curioso. E eu não quero me tornar pó sem saber de nada. Então, por favor me diga, para que serve tudo isto?
E a voz disse:
— *Suspiro* É o seguinte...
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A Formiga
Short StoryQuestionamentos de uma pequena formiga. Nenhuma formiga foi filosoficamente machucada. CR: exurb1a (YouTube)