Oi, essa é a história de como eu morri.
Como todo dia de costume, eu acordava, olhava as mensagens no celular, levantava, tomava meu banho, escovava os dentes, me arrumava,e pegava meu carro para ir ao trabalho. Na metade do caminho, parava no Café da senhora Jane, o café mais conhecido da cidade. Enquanto pegava o café, Alex, minha amiga e colega de trabalho, me esperava na porta, para irmos juntas ao trabalho. Nos conhecemos no parque, graças ao Finn, meu labrador que saiu correndo enquanto eu comprava um cachorro quente, e então Alex conseguiu parar ele, e assim viramos amigas. Seus cabelos castanhos ondulados sempre estavam brilhosos e sedosos. Ela amava usar vestidos, seu guarda roupa todo eram só vestidos. Ok, posso estar exagerando, mas ela sempre que podia comprava um. Trabalhávamos na editora de uma revista. Quer dizer, ela ainda trabalha. Era só mais um dia comum. Resolvia alguns trabalhos pendentes, escolhia a capa da revista, e era mais ou menos isso no meu dia a dia.
- Ainda bem que a hora passou voando! A única coisa que só conseguia pensar era no almoço. - Falou passando a mão na barriga.
Esse é o Luke. Um dos caras mais legais que já conheci. Seu sorriso era capaz de alegrar o dia de qualquer um. Fizemos faculdade juntos, e desde então nos tornamos amigos.
- Meu Deus! Você só pensa em comer! - revirei os olhos para Luke.
- E você só pensa em trabalho. - Disse Alex colocando alguns arquivos em minha mesa. - Vamos almoçar logo porque estou faminta.
- É pra já, meus queridos. - Disse pegando minha bolsa, que ficava ao lado da porta.
O lugar que costumávamos almoçar era perto da editora. Luke estava com tanta fome que andava quase que correndo para almoçar logo.
-Nossa, se demorássemos mais alguns segundos, não sei o que seria de mim – comentou Luke.
- De onde vem essa fome toda? - Alex perguntou enquanto estava com a cara enfiada no celular olhando as ultimas fofocas das celebridades. – Não olha agora – continuou ela – Olha quem esta vindo almoçar agora...
Olhei disfarçadamente, mas já tinha uma ideia de quem seria: JOE. Joe é o fotografo da editora. Ele era alto, forte, tinhas os olhos azuis, que eu quase não conseguia encarar porque sempre ficava nervosa.
Digamos que eu tinha/tenho uma queda por ele.
- Ei pessoal!
-E ai? – Respondemos.
-Que pena que cheguei tarde para o almoço. O ensaio de hoje com as modelos foi demorado. Bom, não quero atrapalhar a conversa de vocês. Vou me sentar com o Justin – disse já caminhando em direção a outra mesa.
- Exibido. – Falou Luke revirando os olhos para Joe.
- Disseram algo? – Perguntou Joe olhando para trás.
Não! – Disse Alex com um sorrindo nervosa.
-Qual o seu problema? – Perguntei. – Ele poderia ter escutado.
- Só não gosto desse cara. – disse dando de ombros.
-Ok. Gostando ou não a hora do recreio acabou, vamos!
Pagamos a conta e voltamos ao trabalho. Depois do almoço parecia que o trabalho tinha triplicado. Foi uma tarde cansativa de trabalho como qualquer outra. Só estava esperando que o relógio batesse logo em 19:00 para poder ir para casa, tomar um banho bem relaxante e assistir um filme.
- Ei, posso entrar? – Luke falou já entrando.
- Bom, eu ia dizer que não, mas você já entrou. – repliquei, mas acabei rindo.
- Me desculpa por hoje mais cedo. – falou sorrindo de lado.
- Tudo bem, já me acostumei com sua implicância. – Falei rindo- Só não quero que se meta em problemas, o Joe é sobrinho do chefe.
- Vou tentar, minha Neve Amarela. – Luke sabia como eu morria de vergonha dessa história, mesmo que na época eu tinha 5 anos de idade.
Como o Luke era distante de sua família, geralmente nas festa ele passava sempre comigo e com meus pais. Era mais feriados de Ação de Graças quando Amy, minha irmã mais velha. Amy era uma mulher bem atraente, com suas maçãs do rosto,cabelos negros como o carvão. Ela não demonstrava fraqueza,e tudo que ela queria, ela conseguia. Sempre admirei esse lado dela. Amy querendo quebrar o silencio que havia invadido nossa mesa naquele instante, resolveu lembrar de um episodio de nossa infância.Na antiga cidade em que moramos, sempre nevava, o que eu achava incrível, apesar de ser muito frio. Mamãe e papai tinham saído para fazer compras, e haviam me deixado com Amy, que sempre me fazia de boneca para suas brincadeiras loucas.
- Papai e mamãe saíram. Vamos brincar lá fora? - Amy perguntou entusiasmada.
- Não sei... - respondi em dúvida, pois da última vez que brincamos escondidas na neve, acabamos de castigo. - E se ficarmos de castigo de novo?
- Não vamos. Vem, confia em mim! - falou me puxando para fora de casa.
Aquele dia estava bem frio, como da última vez que tínhamos acabado enfrentadas. Fizemos um boneco de neve que ficou bem torto.
- Já estamos bastante tempo aqui fora - Amy não parava de olhar para os lados, procurando algum sinal de nossos pais. - Vem vamos entrar.
- Olha a cor dessa neve, está amarela, que estranho. - Até hoje não entendo do porquê fui falar dessa neve.
Amy deu um sorriso de lado, se abaixou para mim e falou:
- Ah, toda neve amarela é produção das fadas das neves. Pra gente saber que ela esteve aqui, ela deixa uma parte amarela. Uma vez eu comi, e sabe qual sabor tinha?
- Não, qual? - Estava tão eufórica por saber que uma "fada" esteve ali.
- Algodão doce! –Amy estava com um sorriso malicioso estampado em seu rosto. – Pode provar.
Como eu era uma criança que confiava em sua irmã mais velha, agarrei um pouco da neve, fiz uma pequena bola e coloquei na boca. Do sabor eu não lembro, mas tenho certeza que não tinha nada de algodão doce! A única coisa que me lembro foi do grito de papai que ouvi me mandando cuspir aquela neve amarela.
- O que você esta fazendo? – Disse papai todo nervoso, colocando as bolsas do mercado no chão. – O cachorro da senhora Eliza marcou território aí, o que quer dizer que a neve amarela é xixi do Spoke.
Me lembro perfeitamente de ter levado as mãos a boca, e depois tirado pois fiquei com nojo.
- Amy disse que a neve amarela era das fadas da neve, e que tinha gosto de algodão doce! – falei apontando para Amy.
- Amy, entre e vá direto para o seu quarto! – Mamãe dizia bem zangada. Mas mesmo zangada ela continuava com o ar doce e meigo, dificilmente ela se irritava com algo.
Depois disso, Amy nunca mais me fez de cobaia para suas travessuras , pois ficou dois meses de castigo. As vezes eu ficava triste porque ela não podia sair, mas quem ficou com xixi do cachorro foi eu!
- Cara, neve amarela não. Esquece isso! – já sentia minhas bochechas coradas. – Péssimo dia de ação de graças pra você passar com a minha família!
- Ok, não te chamo mais de neve amarela...– Ele parou, respirou fundo. – Não te chamo mais assim se você me disser qual gosto que tem o xixi? – E começou a rir novamente.-
- Desculpa atrapalhar o casalzinho, mas já podemos ir embora. – Alex parecia aliviada.
- Você me livrou de uma! – Respondi olhando para Luke. – Você nunca irá saber, Luke.
- Saber o que? – Disse Alex desconfiada.
- Do dia que ela comeu neve de...
- A gente pode ir embora, então vamos? – falei interrompendo.
- Vocês estão bem estranhos
Luke e eu nos olhamos e começamos a rir. Luke nos acompanhou ao estacionamento como de costume, mas algo diferente aconteceu: Não era de nosso costume nos abraçar muito, mas naquele momento tudo o que eu queria era um abraço dele. Do meu melhor amigo!
- O que foi isso? – Luke disse preocupado.
- Nada, só senti vontade de te abraçar. Só não se acostuma! – falei rindo. - Te vejo segunda! – Quando falei isso parecia não ser real, que não iria vê-lo mais, e isso me tomou de terror por um por um instante, nunca mais ver o Luke, ver aqueles olhos castanhos que sempre estavam brilhante, e aquele sorriso, que era capaz de iluminar um cômodo.
- Ta tudo bem mesmo? – Parecia que ele estava sentindo o mesmo que eu.
- Sim, não se preocupe! – Falei dando um tapinha no braço dele.
Luke e Alex se despediram, e olhei para Luke, como se fosse a ultima vez que o veria.Entrei em meu carro e tentei eternizar aquele momento, e assim foi surgindo uma chuva de memórias em minha mente, cada momento nosso. Cada risada, choro, briga, e isso me fez perceber o meu amor por aqueles dois.
- Só quero chegar em casa logo e tomar meu banho, e relaxar! – Alex olhava para o celular checando o horário. Alex era uma das pessoas que eu mais confiava na vida. Éramos tão parecidas, diferente de Amy e eu, que apesar de sermos irmãs, somos totalmente o oposto.
- Ele gosta de você.
- O que? Quem ?
- Luke. – Alex olhava fixamente para mim.
- Luke? O que? Não! Você está louca? – Estava surpresa.
- Sério que você nunca percebeu? É só olhar para ele quando ele está te olhando que qualquer um percebe isso. – Alex falava com um sorriso estampado em seu rosto. – Mas como você só tem olhos para Joe, nunca percebeu o Luke.
Olha, nisso Alex poderia ter um pouco de razão, afinal, quando Joe ficava perto de mim, eu esquecia até o meu nome. Mas acho que ele nunca me notou dessa forma.
- Luke e eu somos apenas amigos, e olha só, sua casa ali.
- Não adianta fugir do óbvio, você não vai se livrar dessa conversa. – Alex me puxou para um abraço, e logo desceu carro.
- ok, mas hoje não. – Respirei aliviada.
- Tchau, Amo você! – Alex dizia acenando da calçada
- Amo você também.
Depois de me despedir de Alex, fiquei pensando no que ela havia falado sobre o Luke. Faltava pouco para chegar em casa, a rua estava tranquila como sempre, sem ninguém nela. Estava distraída com meus pensamentos até que avistei algo estranho.
- O que é isso? – apertei bem os olhos para conseguir enxergar melhor.
Vi uma mulher correndo em minha direção, ela estava toda suja, e parecia muito assustada. Achei totalmente estranho e assustador aquilo, mas parei meu carro e desci para saber o que estava acontecendo. Conforme ela ia ficando mais perto, percebi algo, eu conhecia ela. Só não me lembrava de onde.
- EI! O que está acontecendo? – Ela gritava algo, mas eu não conseguia entender, ela não estava falando coisa com coisa. Somente quando ela chegou perto de mim, e caiu ao chão eu pude me lembrar:
- Já sei! Você é Rosália García! – Rosália García era a garota que estava três semanas desaparecida, a terceira em um intervalo de quatro meses
– Você tá toda ensanguentada! O que aconteceu? Eu vou te levar para o hospital agora!
- Ele tá... – Ela me olhou com uma expressão assustada e desmaiou.
- Rosália, fica comigo, por favor! – tirei o celular do bolso e comecei a discar para a emergência até que ouvi algo atrás de mim e instantaneamente senti uma forte dor em minha cabeça e apaguei.
Acordei em um lugar estranho e estava um pouco escuro, olhei para o meu lado e vi Rosália também no chão com os olhos abertos olhando em minha direção. Ela estava morta. Senti uma onda de terror invadindo meu corpo. Não podia está acontecendo aquilo comigo, tinha que ser um sonho, ou melhor , um pesadelo. Estava sentindo uma forte dor na minha cabeça, quando de repente avistei meu celular. Comecei a me arrastar, só queria fugir daquele lugar, meu celular estava ao lado da caçamba de lixo, fui o mais rápido possível, comecei a digitar o número e pronto
- Já está com saudades? – Luke começou a gargalhar
- Me ajuda, liga pra polícia. Tem uma garota morta aqui. Ele quer me matar! – a única coisa que eu queria eu saber exatamente o lugar que eu estava.
- O que? Onde você está?
- Eu não sei! – Disse em prantos. Senti um puxão no meu cabelo. - SOCORRO! ALGUEM ME AJUDA! – Então me virei e vi uma pessoa vestida de preto. - ME SOLTA POR FAVOR! – Pela silhueta com certeza era um homem. Ele parecia nervoso, estava tremendo. Eu não conseguia olhar o rosto dele, ele estava com uma máscara. Só me restava uma coisa, lutar para sobreviver!
Consegui chutar ele na virilha, ele me soltou, então vi um pedaço de madeira, e era aquilo mesmo que usaria. Estendi os braços para bater na cabeça dele, mas ele conseguiu segurar.
- Você achou que seria mais forte que eu? – Parecia que ele estava se esforçando para mudar a voz. Ele conseguiu pegar a madeira da minha mão. Então vi uma tatuagem, uma rosa com três pétalas caídas em seu antebraço. Aquela foi a minha última lembrança. Uma rosa com pétalas caídas.
Meu nome é Maya e eu fui assassinada no dia 16 de julho de 2018.
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O lugar
Mystery / ThrillerO que você faria se acordasse em outro lugar? Bom, não estou falando de um lugar exatamente como uma outra casa, cidade, ou país, deixe me explicar melhor.