Algo estranho aconteceu, estava deitada no chão sem nenhuma dor, me sentei e vi algo pelo canto dos meus olhos, fiquei com medo, mas tomei coragem e olhei.
- Não pode ser! - Meu corpo estava estirado ao meu lado, não expressava nenhuma reação, não mexia, estava totalmente parado. Finalmente minha ficha caiu, eu estava morta!
Por que isso estava acontecendo comigo? Comecei a chorar sem parar.
- Deve estar fazendo a pergunta que todos fazem quando chegam aqui. Por que disso está acontecendo com você , acertei? - Ele parecia ter uns cinquenta e poucos anos, era alto, me lembrava o ator Forest Whitaker.
- Quem é você? - Perguntei.
- Bom, meu verdadeiro nome eu não costumo usar muito, mas me chamam de Henry. - Ele disse se aproximando.
- O que você é? Você morreu também? Ou você é uma espécie de elfo, ou coisa do tipo? - confesso que estava um pouco desorientada sobre tudo o que estava acontecendo.
- Um elfo? Quanta imaginação você tem, minha jovem.- falou rindo. - Bom, pode-se dizer que eu cuido das coisas por aqui, recebo as novas pessoas que chegam por aqui, apresento o lugar, e explico como funciona.
Tudo era assustador e novo para mim. Saber que nunca mais veria minha família, Luke e Alex... Não conseguia segurar o choro, estava uma mistura de sentimentos, medo, raiva, tristeza.
- Eu só não entendo o que está acontecendo.
- Todos nós não entendemos, e talvez não faça sentido ainda, se é que tem sentido algum. Mas é realmente o que as pessoas falam, a vida é um sopro.
Ouvi um barulho, alguém estava vindo, pensei em me esconder, mas lembrei que não me veriam, afinal, já estava morta.
Era uma mulher, tinha cabelos longos e escuros, ela não era muito alta, e era bem magra, só não conseguia enxergar muito bem o seu rosto.
- Meu Deus! - ela recuou. - Por favor esteja viva. - ela falou bem nervosa. Checou o pulso e nada. De repente uma música começou a tocar, e eu conhecia aquela música, era meu celular.
- Merda! Atendo ou não? - Ela repetia andando de um lado para o outro.
- Atende, por favor!
- Que sensação estranha. - Ela falou olhando para os lados.
- Por favor, atende! - Eu repetia freneticamente.
Agora a mulher parecia assustada, foi como se ela tivesse escutado algo, ou me escutado. - Henry, ela pode me ouvir?
- Tem pessoas especiais, aqueles que podem notar aquilo que os olhos carnais não notam.
- Tem alguém aí? - A mulher perguntou.
- Só atende o telefone! - Falei com a voz firme.
- Que se dane! - ela deu de ombros. - Seu nome é Luke, já vi aqui, me escuta bem. Aconteceu um crime aqui, vou te passar o endereço por mensagem, manda a polícia imediatamente. Sinto muito. - ela desligou da ligação e começou a digitar o endereço.
- Obrigada, por ter atendido. - Ela parecia conseguir me ver. - Você consegue me ver ou me sentir?
- Sinto muito, pelo o que aconteceu. Mas sim, eu consigo te ver, das outras vezes só conseguia ouvir, mas você eu consigo ver. Minha vó dizia que era raro, mas acontecia, ela também era assim. Você viu quem fez isso?
- Não, eu não consegui.
- Seja lá quem foi, espero que pague. A energia desse lugar está super carregada. Nunca senti algo assim. Você conhecia a outra menina?
- Apenas poucos minutos antes de morrer, tentei ajudá-la, mas foi em vão. Havia visto umas fotos dela, estava sumida um tempo.
- Olha, você foi bem corajosa. – Ela parecia tentar me confortar.
- E olha onde essa coragem toda me levou.
Parecia que eu estava em um pesadelo sem fim, do qual eu nunca iria acordar. As memórias da minha vida pareciam rodar como um filme, desde a minha infância até o último momento. Agora eu entendia o porquê de sentir algo ruim quando me despedi de Luke. De certa forma, parecia que eu já estava sentindo que algo iria acontecer, só não sabia o que.
- Quem é Luke? – Ela parecia querer mudar de assunto.
- Meu amigo. Liguei pra ele pedindo ajuda, mas não deu tempo...
- Olha, não havia nada que vocês pudessem fazer. Não se culpe por ter um coração bondoso. Vovó sempre dizia que era melhor morrer fazendo o bem, que ficar vivo fazendo maldades. Ela.. – Ela tinha sido interrompida por uma voz masculina.
- Maya!! - ouvi alguém gritando junto de uma sirene, era Luke com a polícia.
- Vem vindo alguém. Tenho que ir . Sinto muito por tudo! - a mulher estava se distanciando.
- Não. Espere! Tenho uma pulseira, por favor, pegue e entregue ao Luke, foi a que ele me deu no meu aniversário de 19 anos.
- Você está louca?
- Não, eu estou morta, então a louca é você. Por favor pegue e arrume um jeito de entregar a ele. Quero que fique com ele.
- Você é muito abusada. Vou fazer porque eu quero. Ela tirou a pulseira do meu pulso , e foi se afastando.
- Qual o seu nome? - Havia me esquecido de perguntar esse detalhe.
- Samantha. - Logo assim que disse seu nome, ela foi embora.
- Vamos, minha jovem, vai ser melhor se você não ficar muito aqui. - Henry estava com um olhar triste, claro, minha dor era contagiosa.
- Não, por favor, me deixe ficar aqui, preciso ver cada passo, cada procedimento.
- Maya! Fala comigo! - Assim que ele me viu, saiu correndo ao meu encontro. - Não pode ser. Por favor fala comigo!
- Senhor, se afaste, isso aqui é uma cena de crime. - Disse um dos policiais que chegou junto de Luke.
Eu só queria poder abraçar ele, e dizer que tudo ficaria bem, que era apenas um pesadelo, mas eu sabia que seria mentira, pois nada ficaria bem. Eu só queria gritar o mais alto que pudesse, e assim fiz. Nada mudou, tudo permaneceu o mesmo. Não poderia mais alcançar os meus tantos sonhos que eu tinha, construir uma família, viajar à Escócia que era meu sonho desde que comecei a assistir Outlander. Não poderia realizar mais nada, porque tudo tinha acabado. Tudo! Eu só queria ter tido mais tempo com eles, mais tempo pra fazer as coisas que eu não tivera coragem. Mas enfim, minha chance havia acabado. Game over.
Luke estava em choque, melhor resumindo. Vi uma mulher se aproximando dele, era Alex, foi correndo abraça-lo. Eles choravam tanto que eu não consegui ficar lá. Senti uma dor que parecia que alguém tivesse arrancado meu coração, ou tivessem enfiado uma espada nele, e assim o fatiado. De certa forma,aquele monstro fez isso.
- Vamos, minha jovem, não adianta ficar aqui, só vai piorar as coisas para você. - Henry parecia bem comovido com aquela cena. – Vou te levar ao Lugar. – E começamos a andar, apenas dei uma última olhada para aqueles dois.
- Que lugar? – Estava assustada e curiosa.
- O Lugar.
- Espera, o nome do lugar é Lugar?
- Sim, qual o problema. – Henry estava rindo.
- Que estranho e totalmente sem criatividade. É a mesma coisa de ter um cão e dar o nome dele de cão. Esperava algo que fosse mais impactante! Tipo, paraíso ou qualquer coisa do gênero.
- Todos pensam assim. – Ele estava me olhando com um sorrisinho leve em seu rosto.
- Bom, em outras ocasiões eu ficaria com medo, mas o que eu tenho mais a perder? Estou morta mesmo. – Nos entreolhamos e começamos a rir. Aquela tinha sido a minha primeira risada até agora. Depois de um tempo, Henry olhou para mim, e disse:
Chegamos.
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O lugar
Mystery / ThrillerO que você faria se acordasse em outro lugar? Bom, não estou falando de um lugar exatamente como uma outra casa, cidade, ou país, deixe me explicar melhor.