Chica encarava as duas meninas do outro lado da área de refeições. Seu semblante horripilante causava nelas calafrios intensos na espinha e um frio descomumente na barriga. A animatronic não estava de fato olhando para elas, pois não estava as enchergando na escuridão, mas a forma como seus olhos esféricos e brilhantes encaravam o exato ponto onde elas estavam era, no mínimo, assustador.
Elas ficaram imóveis, uma se segurando na outra, e esperaram até que Chica se mexesse, o que não demorou muito. Ao ouvirem os rangidos de suas peças enferrujadas se movendo para longe, as meninas suspiraram, aliviadas.
Elas andaram sorrateiramente até o outro lado da ampla área de refeições infestada de balões e adentraram a cozinha, percebendo a falta de animatronics ali. Layla ofegou.
- Eu não aguento mais ficar aqui. Precisamos sair o mais rápido possível desse lugar. - Ela disse, em palavras entre-cortadas pela rápida e curta respiração. As meninas andaram lentamente pela cozinha, se agaichando em uma parte escura, atrás da bancada.
- Acha que vamos ficar seguras aqui? - Perguntou Layla, em um sussurro demasiadamente baixo. Meggie pensou bem antes de responder.
- Não. - Ela disse, por fim, se deixando abater pelo cansaço, em seguida continuou. - Mas é nossa única alternativa antes de encontrar a Chica ou o Foxy novamente. Nós ainda não fomos vistos por aquela raposa maldita. Isso é bom. Ele corre muito rápido e nos alcançaria em segundos. Precisamos de roupas mais escuras. - Disse Meggie, analisando as vestimentas de sua amiga e em seguida, suas próprias.
A morena usava uma maria chiquinha no cabelo escuro, uma blusa laranja acompanhada de um casaco de linho cor de rosa e uma saia verde bem chamativa. Ela também possuía sapatilhas rosa extra macias que facilitavam a locomoção silenciosa.
Já Meggie usava um casaco de linho verde-água, que ganhou de presente de aniversário da mãe de Layla, uma blusa preta por baixo e um short marrom que ia até o meio da coxa. Também usava sapatilhas, porém com uma cor diferenciada das de Layla. Estas, eram pretas.
- E onde você acha que... - Parou subitamente de fala ao ver uma pilha de roupas amontoada ao lado da geladeira bem iluminada que ficava perto da porta. Era o ponto mais iluminado da cozinha e alguém que andasse até lá seria facilmente visto. Elas engoliram em seco.
- Eu vou. - Meggie disse, se levantando e não dando um tempo de resposta para a amiga, que franzia a testa em preocupação. A ruiva andou cautelosamente pelo mármore branco que compunha o chão da cozinha e conseguiu chegar nas roupas.
Haviam roupas de todos os tipos, todas eram de crianças de 7 a 14 anos. Também haviam muitos uniformes roxos de vigias, ensanguentados. Algumas peças em específico chamaram a atenção de Layla, por serem mais velhas e estarem com manchas enormes de sangue. A primeira era um vestidinho rosa de alcinha que aparentava estar a 7 ou 8 anos ali. Estava com a barra rasgada na ponta e a parte peitoral estava aberta e com sangue já seco por conta do tempo. Também viu um short marrom, parecido com o que estava usando, mas rasgado nas pontas e uma blusa vermelha cor de sangue. O short estava com manchas escuras por toda a coxa direita e a blusa estava rasgada na parte da barriga.
Outras peças de roupas que chamaram a atenção de Meggie foram um macacão marrom, acompanhado de suspensórios pretos e uma camisa branca manchada de sangue e uma blusa larga e roxa que parecia ter pertencido a um garoto de 10 ou 11 anos.
Os devaneios de Meggie sobre quem poderia ter vestido essas roupas antes foram interrompidos ao escutar um barulho alto vindo da porta da cozinha. Alguém estava entrando. Em um movimento rápido, Meggie se enfiou desconfortávelmente dentro da geladeira já desligada e aguardou. Pôde ouvir um murmurinho vindo do lado de fora, sem realmente se atrever a olhar, embora a curiosidade fosse latente. Ela escutou passos largos e rangidos de peças de ferro enferrujados. O cheiro adocicado de cupcakes adentrou o alojamento e naquele momento Meggie teve certeza absoluta de que era Chica a entrar na cozinha.
Se preucupou com Layla. A galinha não podia vê-la, se não a mataria. Com um suspiro, Meggie abriu uma brecha fina da porta da geladeira. O cheiro doce de Chica veio com tudo em suas narinas. Avistou a porta da cozinha e calculou que estava relativamente próxima. Pegou um cupcake estragado que havia sido deixado naquela geladeira provavelmente pelos vigias, e jogou porta a fora, escondendo o braço e fechando a porta rapidamente em seguida. Pôde ouvir um rangido alto, seguido de mais passos enferrujados, e enfim, o silêncio absoluto.
Meggie pôde ouvir o risinho baixo de Layla. A morena apreciava a inteligência e coragem de sua amiga, por mais que nunca admitisse isso em voz alta. Ao sair da geladeira, Meggie sorriu e voltou a se dirigir a pilha de roupas. Pegou uma blusa preta de mangas longas para si e um vestido cinza escuro para Layla. Ambas se trocaram, ali, na cozinha e andaram silenciosamente até a porta.
Subitamente, Meggie ouviu um grito atrás de si, quando se virou, pôde ver Layla sendo erguida no ar. Foxy, com sua aparência amedrontadora, a levantava pelo pescoço com sua mão desprovida de pele, apenas o endoesqueleto, enquanto passava o gancho na bochecha de menina.
Meggie entrou em pânico, avistando uma caixa de vidro presa na parede, com um machado dentro, para emergências. Com um movimento rápido, ela quebrou o vidro com o cotovelo e retirou o machado da parede. Era pesado, mas ela aguentava. Estava novo e a lâmina era excelentemente afiada.
Meggie se endireitou e posicionou o machado em sua mão, atacando Foxy com tudo. O machado foi cravado em suas costas e ele soltou a menina. Retirando o machado de Foxy, ainda um pouco atordoado, elas correram pela pizzaria, sendo perseguidas por um Foxy rápido e preciso, porém, uma coisa chamou a atenção de Meggie enquanto corria.
Foxy estava mais lento do que o normal. Foi então que percebeu o líquido preto e viscoso que saía da parte de trás das suas costas e pingava no chão, deixando um rastro nojento. Pensou se teria de acertar ele de novo para que ficasse mais lento ainda.
Sem aviso prévio, a ruiva desacelerou o passo e esperou até que Foxy chegasse até ela. Quando isso aconteceu, ela se abaixou, antes que ele a tocasse, e passou por debaixo de suas pernas, acertando novamente as costas do robô com uma maestria da qual ela desconhecia a origem, já que era a primeira vez que segurava um machado.
O animatronic arqueou as costas, e ela aproveitou esse tempo para voltar a correr. Elas passaram por toda a área de refeições, chegando nos corredores, onde se separaram. Pelo corredor da direita, estava Layla. Foi ela quem Foxy escolheu seguir, já que ela estava, aparentemente, desarmada.
O medo e a angustia de uma morte quase eminente abatiam Layla, que continuava correndo, embora seus pulmões implorassem por uma pausa. O corredor escuro e cheio de fios desncapados deixavam o ambiente ainda mais amedrontador. Rapidamente, ela entrou no escritório, passando pela porta da direita e entrando na esquerda. Foxy ainda a perseguia.
Enquanto olhava para trás, colidiu com Meggie, que se encontrava naquele corredor. Ofegantes, elas caíram no chão. Quando a ruiva viu a situação de Layla e avistou Foxy correndo no fim do corredor, não teve outra opção a não ser arremessar o machado, que, por sorte, cravou-se na testa de Foxy, que caiu, desacordado.
Não, ele não estava morto, mas elas ganhariam algum tempo com isso. 3:45. O tempo passava lentamente dentro daquele lugar, como se a noite fosse mais longa do que o dia e o inferno onde elas se encontravam fosse temporariamente eterno.
Elas saíram daquele corredor escuro e voltaram para a área de refeições, andando sempre pelas áreas mal iluminadas. Avistaram Bonnie parado entre duas mesas com cones coloridos em cima. Ele parecia analisar alguma coisa. Um barulho ecoou da cozinha. Chica havia voltado para lá.
Entraram na Enteada de Foxy, achando algumas coisas interessantes. Lá havia um barco pequeno de madeira maciça e alguns acessórios. Haviam também algumas cabeças de endoesqueletos soltas por lá e algumas máscaras de Foxy espalhadas pelo chão verde-água. A sala em si era escura e decorada com temática pirata e parecia aconchegante se não pertencesse a um robô demoníaco, de acordo com Meggie.
- O que estamos fazendo aqui? - Sussurrou Layla. Meggie tinha um plano, muito mal elaborado, mas ainda assim um plano.
- Nós vamos ficar aqui até dar 6 horas. - A ruiva disse, com medo do que a amiga poderia dizer. O machado em sua mão ainda tinha a lâmina suja pelo líquido viscoso e negro, parecido com óleo ou graxa. Ela se perguntava se todos os animatronics soltavam isso ao serem feridos.
- E se o Foxy voltar? - Ela perguntou, ainda assustada com a idéia. Meggie se levantou do barco onde estava encostada e entregou o machado para a morena. Layla arregalou olhos, mas ainda assim, pegou a arma e segurou firme em seu cabo. Os minutos passavam como se fosse horas e os barulhos do lado de fora da enteada se tornavam cada vez mais altos e irritantes. Meggie estava exausta, mas se recusava a dormir enquanto não saísse dali junto com sua amiga.
3:55. Haviam se passado 10 minutos apenas, mas já se podia ouvir os passos enferrujados de Foxy e seu odor característico de ferrugem. Meggie se encolheu dentro do barco e Layla ficou atrás da porta. Quando Foxy entrou a morena lhe acertou com o machado, exatamente no focinho, partindo-o em dois.
Em um ataque de fúria, Layla começou a desferir machadadas e mais machadadas até que o corpo de Foxy estivesse estrassalhado por completo.
Meggie saiu de dentro do barco, estranhando o comportamente da amiga, que ofegava. Ali, Layla descontou todo o medo que sentira naquele momento e em sua vida toda. Descontara cada pesadelo e cada calafrio que teve ao olhar nos olhos frios e metálicos de Foxy, mas agora, se sentia culpada ao ver aqueles olhos metálicos completamente apagados, agora, não mais tão assustadores quanto antes. E então ela percebera que os olhos de Foxy nunca foram assustadores. Eram olhos assustados. Como se a coisa, seja lá oque fosse que morasse dentro dele estivesse em pânico por dentro, e isso acabava contagiando-a de uma forma estranha e medonha.
Ela estava apavorada com o pavor de Foxy. Meggie se aproximou da amiga, quando lágrimas começaram a rolar de seus olhos magoados. A morena soluçou baixinho, enquanto abraçava sua amiga. Meggie não entendeu o motivo de Layla para chorar tanto, mas compreendia que isso era uma explicação que ela não gostaria de dar agora, por tanto, ficou calada, apenas dando seu ombro amigo para que ela descontasse suas frustrações.
Após alguns minutos, Layla limpou as lágrimas e elas saíram da enteada. Se vissem Foxy ali na porta enquanto elas estivessem por perto, morreriam com toda a certeza. Depois de atravessarem silenciosamente a área de refeições, encontraram uma sala que ficava na parte de trás do palco. Elas entraram lá. Era realmente muito pequena, mas era possível se locomover normalmente. Estava tudo no escuro. Meggie e Layla respiravam, aliviadas de encontrar um lugar livre de animatronics.
De repente, dois olhos robóticos brilharam no escuro. Meggie e Layla fizeram silêncio absoluto. Freddy. O urso que estava ensanguentado. O animatronic que havia matado o segurança. Seus olhos brilhantes e arrebatadores hipnotizavam Meggie de um jeito assustador.
O silêncio era ensurdecedor aos ouvidos de Layla. Freddy não piscava, mas dava sinais de que não estava conseguindo vê-las. Meggie suspirou. O animatronic virou-se para ela de repente. Meggie arregalou os olhos.
- Ele pode ouvir sua respiração... - Layla disse, tão baixo que mal poderia ser considerado um sussurro. Ambas taparam a boca e o nariz com a mão. A escuridão dava um ar misterioso ao interior da sala e os olhos fluorescentes de Freddy miravam em um ponto cego atrás de Meggie.
Elas conseguiam ouvir seus passos na escuridão. Diferente dos outros animatronics, Freddy tinha cheiro de sangue. Meggie e Layla estavam ficando sem fôlego e o Freddy estava quase convencido de que não havia ninguém ali. O urso caminhava lentamente pela sala, indo em direção a porta.
Após sair, o animatronic fechou a mesma, não permitindo que elas saíssem. Layla voltou a respirar, aliviada, mas seu alívio sumiu completamente ao olhar para o lado e avistar Meggie, desmaiada no chão sujo de madeira.
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Eu Posso Ouvir Sua Respiração
TerrorMeggie andava sorrateiramente pela pizzaria. Sua melhor amiga havia sido deixada ali por engano por um dos vigias e não havia conseguido sair. A menina havia conseguido passar pelos seguranças da tarde, três, e agora olhava para os lados a procura d...