Amargo Como os Finais

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* Escute com a música acima e Je Suis Malade da Lara Fabian para uma leitura melhor.

|1947 |

Assentado em uma cadeira próxima a extensa estante preenchida por livros de diversas culturas e contos épicos, se calou. Finalmente havia dito o que foi fonte de suas dores nos últimos meses.

Em sua frente o destinatário de tais palavras e emoções confusas. Este carregado de uma imensa dúvida e principalmente medo paralisou no local, pois assim como o outro repousava o corpo cansado em um dos assentos de madeira.

O primeiro homem e também considerado uma visita, trajava um terno de tonalidade escura que anteriormente se encontrava impecável, os sapatos eram bem lustrados e as madeixas longas estavam sobre os olhos úmidos.

O segundo era o dono da residência, e se cobria com uma calça lisa e preta, o tronco magro, porém malhado era aquecido por uma camisa de mangas longas de cor branca, tendo como acessório um suspensório. Seus fios claros lutavam para manter um penteado galante, no qual ajeitava grandes mechas para trás e permitia que uma franja sedutora permanecesse livre.

Para o remetente era doloroso guardar a montanha de pensamentos que rondavam sua cabeça sonhadora, eram tantas frases mal construídas que boiavam em seu filtro de palavras, que havia sido uma surpresa ter expressado algo entendível.

- Diga algo isso é torturante ! - suplicou ao não ter nenhum som emitido dos lábios que possuíam um belo formato de coração.

Um suspiro e nada mais.

Os olhos puxados e escuros derramaram lágrimas de sofrimento, queria poder ter o perdão. Porém este se encontrava distante e aparentemente pouco amigável.

O seu peito doía e apertos lancinantes  o consumiam. Se assemelhava a um infarto, mas se fosse um problema cardíaco iria ser menos doloroso do que ter a mente envolvida em uma cilada cruel orquestrada por si.

Aos sussurros implorava para que tivesse no mínimo uma palavra dirigida a si, que fosse de ódio ou de compaixão. Gritava por algo audível e menos pesado do que uma quietude infinita. Mas nada se comparava a aqueles olhos que sorrateiramente se transformaram julgadores e densos por uma incerteza.

Os mesmos que um dia lhe lançaram ternura, agora, expressavam um desgosto asfixiante.

As orbes marejadas encararam rapidamente o imenso cômodo; as cadeiras postas de modo alinhado, o sofá limpo e com suas almofadas de mesma estampa, o chão tão bem encerado que se tornava iluminado graças a enorme lua que reluzia sobre as janelas abertas. As cortinas balançavam, possuindo mais ação que os dois homens.

Melancolicamente relembrou os dias em que passava as tardes e noites naquele lugar, os momentos em que compartilhavam um cigarro e mantinham uma conversa banal. Os sorrisos sinceros após piadas provocativas, nas quais agora não seriam toleradas, a amizade e lealdade que emanavam naquela época feliz.

Tudo perdido após este dia. Após um desabafo de carga colossal para seus corações.

- Me desculpa... E-eu nunca quis isso. - o de fios castanhos escuros declarou, direcionando o olhar para as próprias mãos trêmulas.

- Se realmente não quisesse, jamais teria feito. - com a voz rouca o mais velho acusou, apesar de ter um tom controlado, carregava em cada mísera palavra a raiva semeada por algo imperdoável em relação aos seus valores.

- Isso nunca foi um plano, e-eu não sei como, mas aconteceu. - se defendeu, assustado com o repentino distanciamento.

-  Saia. - o outro ordenou com um olhar severo - Não quero mais ouvir essas tolices. 

Vhope OneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora