Finita Dor

117 9 1
                                    


| 2000 |

O carro se deslocava pelo gelo, ora ou outra o veículo balançava e quase se afundava na camada densa e esbranquiçada. Ao meu lado Hoseok dirigia atento, temendo bater o carro em algo que não havia passado por suas orbes atentas.

A vista era bela e enchia meu peito de alívio, finalmente havíamos saído da cidade grande. Agora eu poderia relaxar ao seu lado sem preocupações, desfrutá-lo sem controlar o volume.

Estávamos aproveitando o pequeno recesso para descansar da nossa maneira, poderíamos ter a nossa totalidade sem usar máscaras. E o que mais me tranquilizava era que isso o deixava leve, sem as costumeiras sobrancelhas unidas e as veias saltitantes na testa, o estresse havia ficado para trás e agora era apenas eu e ele.

Nossos empregos não eram um dos mais calmos, até porque ser diretor cinematográfico exigia paciência e dedicação. Eu havia escolhido elaborar minhas especialidades em curtas metragens, já Hoseok optou por seguir os passos de seus ídolos nessa área, nunca irei me esquecer de quando seu filme quase havia sido indicado para uma premiação estrangeira, fora tanta euforia que nossos corações falharam algumas batidas.

Me recordo que nessa época nossos amigos vibraram conosco, principalmente Jimin que até faltou o trabalho para nos dar praticamente três caixas repletas de soju, acredito que tenha ocorrido uma má interpretação por sua parte dado sua loucura naquele dia. Apesar de Hoseok não ter concorrido agradeço cada sorriso e abraço que recebemos naquele dia, meus amigos eram minha família, eram os únicos que comemoravam as nossas vitórias.

Nossos pais nunca aceitaram ou apoiaram nossas ambições profissionais, logo os ganhos e os deslizes eram compartilhados com os garotos.

- Hobi-ah, já está chegando ? - perguntei manhoso por ter a barriga roncando de fome.

- Só mais um pouco meu amor. - disse sorrindo pela forma que eu havia pronunciado as palavras, Jung sempre dizia que eu carregava um sotaque de roceiro engraçado, mas que agora era a sua perdição.

Íamos em direção a uma cabana comprada a anos atrás, havíamos decidido tê-la para ter privacidade, já que morávamos em um apartamento cheio de vizinhos preconceituosos e qualquer som promíscuo iria levar abaixo o disfarce de melhores amigos.

Não gostava de ter que fingir muito menos Hoseok, mas era necessário para ter um lugar para morar e infelizmente viver sem medo de sofrer alguma violência. Somos um casal a exatos cinco anos, nos conhecemos na faculdade e a partir daquele ponto nos unimos como unha e carne. Eu roubei seus amigos e ele os meus, até que formamos uma gangue de sete membros.

No início a revelação de que éramos uma casal os chocou, afinal nunca falamos abertamente sobre as nossas sexualidades então automaticamente todos eram "héteros". Foi bem ruim para ser sincero, nos primeiros meses os garotos nos tratavam com certa diferença e isso foi um balde de água fria para nós dois. Já que acreditávamos que as nossas amizades haviam passado por provações muito maiores do que aquela.

Mas com o tempo tudo retornou aos eixos e nossa ligação com o restante se tornou praticamente indestrutível. Nos tornamos o lar um do outro, os sete juntos com as suas frustrações, medos, melancolias e doenças.

- Chegamos ! - falou estacionando o carro em frente a cabana, na qual era propositalmente distante das demais casas. Tudo em volta era gelo e era assim que gostávamos, sem vizinhos ou terceiros para nos incomodar.

Pegamos as malas e bolsas com alimentos e adentramos a residência. Não poderia deixar de estampar um enorme sorriso, aquele lugar realmente fazia jus a palavra casa. O cheiro característico da madeira, como também o material de limpeza graças a pessoa que contratamos para cuidar e mantê-la intacta. Colocamos as coisas sobre o chão e nos livramos dos casacos grossos, como também botas, luvas e toucas.

Vhope OneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora