Capítulo 1

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Obrigada a todos que comentaram e deram estrelinha 🤧 eu não tenho beta então me perdem se tiver algum erro ortográfico.

Clay acordou com o barulho de seu ar-condicionado que estava morrendo. Não era como se nunca tivesse acontecido isso antes, mas ele tinha a ciência que seu apartamento estaria abafado como um pântano quando voltasse do trabalho. Trabalho esse que era ir para o estúdio e pintar o dia inteiro, quem sabe produzir alguns folhetinhos extras para o próximo show que faria. Levou alguns minutos até ele se dar conta dos seus arredores, mas de uma forma ou outra ele levantou-se, sabendo que não importava o quanto desejasse, nada de sua visão mudaria.

O quarto já parecia estar quente e tudo o que ele mais desejava era poder tirar aquelas roupas quentes. Clay se trocou, optando por uma bermuda e uma camisa velha, sendo elas praticamente as únicas peças de roupa que tinha. No que ele saiu de seu próprio quarto e passou pelos outros cômodos de sua casa, lembrou-se da única coisa que desejava esquecer: sua pobreza. A tal estava o devorando pedaços por pedaços, mas ele não se preocupava com aquilo. Ele era definitivamente alguém que deixava claro que não se importava, dados pelos cheques vazios e os avisos de aluguel atrasados que se empilhavam em cima da mesinha da sala.

E mais uma vez Clay conseguiu ignorar sua própria situação financeira, colocando os sapatos e pegando as chaves antes de passar rapidamente pela porta. O estúdio não ficava muito distante do condomínio onde morava, então ele estava acostumado a simplesmente ir caminhando — mania que ele levou mais a fundo, passando a ir até mesmo na loja que ficava mais ao longe, a pé. No que ele começou a descer os lances de escadas ele notou a dona do apartamento que alugava subindo, no caminho contrário a si.

"Bom dia, Sra. Daniel!" Clay disse em uma voz animada. A Senhora Daniel não era a figurinha favorita no álbum de Clay; ela era velha, irritadiça e tinha a cabeça mais dura que uma pedra! Ele sempre tentou ao máximo ser legal com ela, mas era complicado ser alguém genuíno e verdadeiro quando ele não tinha conseguido pagar nem ao menos um aluguel inteiro há meses. "Eu espero que você esteja indo para o meu escritório, Clay." Ela chiou retoricamente em um tom afiado. Apesar disso, ele respondeu, com uma risada pequena e forçada "Tchauzinho, Sra. Daniel!"

Mantendo o sorriso de antes no rosto, ele voltou para a sua jornada, direcionando-se para o estúdio de artes. Por sorte ele ficava apenas alguns quarteirões rua abaixo e ele não precisaria carregar nada, até porque tudo o que ele precisaria já estava lá. Sim, ele realmente deixava suas coisas lá já que sempre fora o último a fechar e trancar tudo todas as noites antes de ir embora. Mais ninguém costumava a utilizar o estúdio tanto quanto ele. Mas antes, quando tinham, eles eram cobertos por todas as obras de Clay.

Não demorou muito quando ele se percebeu destrancando a porta do local e ligando as luzes, o que revelou um mar de telas, pincéis, lápis, latas, toalhas e tubos de tinta. Para muitos o estúdio poderia parecer ter tido uma pequena visita de um furacão três vezes seguidas, mas para o artista estava perfeito. Ele estava rodeado daquilo que ele mais amava. Isso o tirava do chão, levando de si a realidade em que estava, deixando-o expressar toda a sua criatividade, sem limites. — Claro que o único limite que ele tinha realmente era o dinheiro, mas isso não conta.

Ele começou sua rotina limpando toda a bagunça que havia feito no dia anterior, mesmo sabendo que no fim de hoje, o lugar acabaria do mesmo estado de antes. Ele passou a pôr de volta em seus lugares todas as telas, lápis e pincéis para, enfim, dar início ao seu mais novo projeto. Quando por fim se deu satisfeito com a organização — que, pra ser sincera, não estavam nem um pouquinho arrumadas —, ele se sentou no num banquinho, com a tela de costas para as janelas do estúdio.

Finas, mas brutas linhas em contato com a superfície da tela era o início de alguma coisa que ele não tinha realmente ideia. Na cabeça de Clay, a arquitetura do outro lado da rua estava tomando vida pelas pequenas linhas carmesins descuidadas a sua frente. As cores e detalhes menores da construção traçaram-se sobre as preguiçosas formas geométricas que davam vida a brilhante pintura do mundo lá fora do estúdio. Com um pincel menorzinho, mergulhado em um tom mais escuro de carmim, ele passou a destacar alguns dos detalhes mais perceptíveis.

Do Outro Lado da Rua - Dreamnotfound (PT-Br)Onde histórias criam vida. Descubra agora