4. Seleção de equipes

6 1 0
                                    


Era maio. Os alunos estavam enchendo o grande auditório da escola, uma instalação teatral quase impecável. Muitos grupos de teatro e apresentadores chegaram a alugar aquele anfiteatro para fazer suas apresentações. Mas agora aquele belo e bem montado lugar receberia os espetáculos de seus próprios donos.

A diretora Elizabette Kann aguardava ansiosa para dar sua palavra aos jovens, mas sem deixar seu semblante costumeiramente sério. Todos os alunos se sentaram e ocuparam pouco mais da metade dos acentos. E só pararam de tagarelar como papagaios quando a diretora lhes chamou a atenção.

— Bom dia a todos e todas.

Os alunos responderam "bom dia" em uníssono, como era de costume. A própria Elizabette lhes exigia que sempre respondessem a cumprimentos. Somente quem não respondia era Marlo, que estava sentado ao canto do fundo direito da plateia. Ficava de pernas cruzadas, sentado torto, enrolando o cabelo no dedo, observando calado aquele povo tonto que se alegrava de suas superficialidades coletivas.

— Alunos da Escola Municipal de Ensino Médio Ilma Glamm, é com imenso prazer que, em mais um ano, eu inicio o bimestre de preparação para a Mostra Cultura Discente.

Os jovens aplaudiram, respondendo a uma mudança de expressão da diretora. Dirk, então, no meio esquerdo da plateia, gritou e vibrou, pois estava, desde seu primeiro ano, ansioso para fazer parte da mostra algum dia. E este era seu penúltimo ano na escola, sua segunda chance.

Sim, isso não foi lido errado. A escola Ilma Glamm tinha uma prestigiada mostra cultural em que os alunos apresentavam, para si mesmos e para os convidados, a sua cultura. No segundo mês do ano letivo, os estudantes escreviam cartas para a diretoria e para o corpo docente dizendo o tema que queriam e o porquê. Então eram selecionadas até vinte apresentações para serem realizadas na quarta, quinta e sexta-feira da semana da mostra.

Esta era uma das festas mais importantes da escola e sua realização era expressamente inegável.

— Eu confesso que achei a seleção de temas deste ano mais difícil que a de outros anos. Vocês estão mais inteligentes, estão querendo coisas cada vez melhores para nossa mostra. Isso é maturidade. Vocês podem perguntar a qualquer um dos professores, eles vão dizer a mesma coisa que eu. Foi difícil selecionar os temas! De cem, foram escolhidos apenas vinte, mas nós queríamos escolher uns cinquenta. Vocês estão mesmo de parabéns.

E ouviu-se mais um aplauso. Marlo fez sua tradicional cara de nojo que fazia em meio a algumas manifestações de alegria coletiva. Mas ele também estava curioso para saber sobre o resultado da seleção de temas.

— Agora eu vou dizer os temas de cada um dos dias e quero que os artistas que forem liderar os trabalhos subam ao palco.

A diretora Elizabette leu os temas um por um. Foram distribuídas sete apresentações para a quarta, sete para a quinta e seis para a sexta-feira da semana da mostra cultural. Entre os temas que foram selecionados estavam Citações Bucólicas, Grafite e Seus Significados, Cinema Negro, A Arte do Malabarismo, Dança Chinesa com o Leque, Homenagem aos 500 anos na morte de Shakespeare, A Representação do Vampiro na Literatura, Palestra Sobre o Poder da Meditação... Eram bastante variados.

Todos os temas tiveram explicações bem-feitas pelos alunos, mostravam que existia até que bastante cultura naquele meio de adolescente bebês. Elizabette leu os motivos das sugestões de tema; eram muito bons. Mas por mais que todos os temas tivessem sido bem escolhidos, havia um que, para um pequenino número de estudantes, era o mais importante. Aquele que não era anunciado nunca! Nem na lista da quarta-feira, nem na da quinta-feira; o tema tão desejado e tão elogiado por Dirk teria de ser um dos seis escolhidos para sexta. O coração já estava saltando pela garganta.

Conforme Elizabette anunciava as seis apresentações da sexta-feira, as esperanças iam se acabando. Música de Sucata, Snatch Game, História do Heavy Metal, Entrevista com Cosplayers e Batalha de Rap foram os cinco primeiros temas do dia. Agora só restava um! Dirk estava coçando a cabeça e os braços de tão ansioso que estava. Sua amiga Marília inclusive teve que mandar o rapaz desesperado parar de pular na poltrona como um passarinho assustado.

Até que, finalmente, foi anunciado o último tema.

— Com a apresentação que vai fechar a Mostra Cultural Discente, confesso que tivemos um pouco de dificuldade. O aluno que escreveu a sugestão foi bem direto com suas palavras e expôs uma ideia que poucas vezes se vê na mostra. Então decidi colocar como fechamento, porque é uma peça de teatro e eu sempre acho legal terminar as apresentações com teatro ou música. O tema da última apresentação é... Geração Ultrarromântica. Quem vai organizar?

Neste momento, os olhos de Dirk e seus amigos se arregalaram e eles gritaram de contentamento. Desde o dia em que souberam que este tema tivera sido sugerido, torciam para que ele fosse selecionado. Mas antes mesmo que alguém pudesse se oferecer para organizar a peça, uma pessoa bradou do fundo da plateia.

— Eu me ofereço pra ser organizador desta apresentação.

Todos ficaram em silêncio repentinamente, uma vez que uns fanfarrões estavam fazendo conversa paralela, e até o ar se calou depois de ouvir aquela voz. Todos os olhos tentaram achar a origem daquele som e encontraram Marlo Calisto em pé, como se já tivesse levantado antes que a diretora pedisse por voluntários. Cada atração precisava ter pelo menos cinco pessoas para organizar e, agora que Marlo foi o primeiro a se oferecer, quem mais se ofereceria? Ninguém estava exatamente empolgado em montar uma peça de teatro ultrarromântica com ele.

— Senhor Nixson, você precisa de pelo menos mais quatro pessoas na sua equipe – disse a diretora, que já era conhecedora do rapaz e de sua fama.

— Mais alguém? Mais alguém gostaria de fazer a peça ultrarromântica com o senhor Nixson?

O tempo estava passando e ninguém queria se apresentar com Marlo. Os alunos, tanto na plateia como no palco, começaram a murmurar indiscretamente, como sempre fazem no teatro ou auditório das escolas, e irritaram-no até seu coração se encher de ódio até mais da metade. Este clima de suspense e rejeição terminou quando um segundo rapaz se levantou e se ofereceu.

— Eu faço a apresentação com o Marlo.

Era Dirk quem falava. Cansado de esperar atônito e chateado entre seus amigos, ele se levantou. Os dois rapazes se entreolharam por um pequeno momento, analisando os tons sérios de suas faces e a rigidez de seus corpos.

— Meninos, são necessárias pelo menos cinco pessoas para montar uma apresentação. Se as outras três não aparecerem, terei que cancelar o tema Geração Ultrarromântica e escolher outro.

— Não se preocupa não – disse Dirk, vencendo sua timidez corrosiva. – A gente consegue dar conta de tudo. Os cartazes, a peça... A gente consegue fazer tudo, eu prometo.

— Tem certeza de que só vocês dois conseguem fazer tudo, senhor Einundfünfzig?

— Sim eu...

Dirk não conseguiria falar por mais tempo com aquela gente toda olhando para ele. Era tímido demais para aquilo. Mas sua amiga japonesa Konatta Baliestina, vendo sua situação, levantou-se para se oferecer como ajudante.

— Eu ajudo eles.

— Muito bem, vou confiar em vocês. A organização do nosso fechamento da mostra ficou sob a responsabilidade dos senhores Nixson e Einundfünfzig e da senhorita Baliestina. Vocês três, subam ao palco para que eu e a professora Mônica possamos conversar com todos os organizadores do evento e os outros alunos podem todos voltar para a sala de aula. Obrigado a todos.

Frio na barriga! Depois queElizabette Kann dispensou os alunos para suas salas, Konatta, Marlo e Dirksubiram ao palco e ficaram se lançando olhares. Ora eram olhares deagradecimento pela ajuda, ora eram de dúvida sobre o fim que teria aquele trio.

O AcorrentadoWhere stories live. Discover now