Cap.1 Tempestade

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A casa está escura, e o cheiro de bebida impregna o ambiente. Ando alguns passos até a sala de estar onde apenas a luz fraca do abajur ilumina a extensão do sofá.

Em cima da mesa de centro velha, carreiras de pó e garrafas de cerveja, uma garrafa de whiskey recém aberta, denunciava que a farra ainda não acabou. 

Demétria tremeu da cabeça aos pés, reuniu o pouco de coragem que tinha, tirou os sapatos gastos de trabalho e caminhou a curtos passos em direção ao quarto. Mas o ranger no assoalho de madeira velha denunciou sua posição, e agora ele havia acordado.

 Ele á encarava, estava com a camisa de botoes aberta e um copo quase vazio na mão, restando apenas uma gole do liquido âmbar igual o da garrafa de whiskey. O homem se levantou meio cambaleante, pegou a garrafa de whiskey e caminhou em direção a garota.Que agora estava encostada na parede, paralisada de medo.

Ela desviou o olhar e encarou o chão, rezando para que ele estivesse bêbado demais para querer conversar e a deixasse tomar seu banho, e talvez comer alguma coisa depois disso.
Ele chegou bem perto, perto de mais e inalou o perfume dos cabelos dela. 

O cheiro forte de bebida fez o estomago de Demétria revirar, mesmo não tendo nada dentro dele.
Ela virou a cabeça na direção oposta, não conseguindo encarar o rosto do cara que um dia ela amou e até pensou em se casar.

Ele ficou ali por longos segundos, entre o pescoço e a clavícula da garota, uma mão em cada lado, impedindo que ela pudesse escapar dali.

Quando se afastou o suficiente para olhar para o rosto dela, viu que a mesma não direcionava nem o rosto em sua direção. Aquilo o preencheu de uma raiva avassaladora.

Ele jogou o copo com força no chão, fazendo-o se quebrar em mil pedaços. O barulho ecoou pela casa.

Demétria engolia a vontade de chorar. Por que aquilo estava acontecendo com ela? o que ela tinha feito de tão errado pra merecer isso? Deus á estava castigando pela morte de seus pais?

Porque? Porque? Porque? Eu devia ter morrido com eles...

Era tudo o que a garota conseguia pensar, enquanto a mão grossa e áspera do homem a sua frente apertava sua bochechas dolorosamente.

— Não vai olhar pra mim amor?

O aperto desceu para o pescoço de Demétria e agora ela entrava em desespero.
Sabia o que vinha a seguir e não queria passar por aquilo de novo.
Da ultima vez que ele segurou seu pescoço desse mesmo jeito, seu pescoço ficara roxo por dias e ela mal conseguia pronunciar uma palavra sem sentir dor.
A dor era tudo o que ela conhecia.

— Nathan,eu só quero tomar um banho, foi um dia longo, estou cansada. Por favor.

Ela conseguiu pronunciar num fio de voz audível apenas para que ele pudesse ouvir. Por que ela sabia como ele odiava que ela resmungasse.

Ele intensificou o aperto e agora estava difícil de respirar.

Com certeza isso vai ficar roxo amanha.

Ela não pode evitar que seu cérebro pensasse no automático. Já passara por aquilo tantas vezes que até aprendeu a fazer alguns curativos no caso de uma emergência mais séria, ou a esconder os hematomas.

— Sua vadiazinha! Tem sorte de eu não vender o seu rabo. Você tem sorte que eu te amo muito, se não ainda estaria na rua. Por que você não me ama? Por que não me ama porra!

Ele gritava e chorava ao mesmo tempo, o aperto ficando mais forte a cada instante. Ela precisava fazer alguma coisa ou iria desmaiar como da ultima vez.

Anything goes in love and warOnde histórias criam vida. Descubra agora