Daniel

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 Olá cara leitora, aqui quem fala é o Daniel. O lindo, irônico e confesso, um pouco arrogante, Daniel... A música que ta tocando não fui eu quem escolhi, obviamente. Deixar as pessoas escutarem essa música é muito... constrangedor; mas acho que dessa vez necessário.

Aqui venho contar da minha jornada e meus sentimentos não correspondidos. É realmente constrangedor ter perdido a batalha pra aquele mané do Nicolas. "Nicolas, Nicolas, Nicolas", é ainda mais constrangedor ter de conviver com meus sentimentos pela Julie mas simplesmente não poder fazer nada a respeito. Além de não ser correspondido, é impossível. Eu nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas com ela, mesmo que eu tenha minhas próprias noções de ética, um relacionamento comigo só teria uma consequência: a morte. 

Depois de morrer eu tinha grandes expectativas. Eu sempre tive grandes expectativas para tudo, principalmente para minha carreira. Porém, não foi assim: fomos levados para uma sala escura e enquanto os outros choravam (e é claro que eu NÃO chorei) eu me indagava sobre como eu pude morrer tão perto de conseguir o que eu sempre quis... sucesso.

Minha família nunca me apoiou, eu não tinha muitos amigos, tudo o que me sustentava era a música e a banda. Era tudo o que eu precisava. Ai eu morri e trinta anos se passaram, morri sem nunca ter me apaixonado, sem nunca ter ido à um encontro de verdade, sem nunca ter viajado, sem ter aproveitado a vida. Morri e cheguei num quarto escuro com meus dois únicos amigos. 

Daí pra frente vocês ja imaginam, conhecemos a Julie. No começo achei ela ridícula, ela era obcecada por esse garoto e não sabia coisa alguma sobre ele, meio zoado né. Mas fomos nos conhecendo, ela sempre me rebatendo, me cortando e me provocando. Eu gostava, não vou mentir, comecei a ficar obcecado por ela também... do mesmo jeito ridículo que ela era apaixonada pelo Nicolas. O irônico é que eu, Daniel, cheio da razão, disse a Julie sobre como o coração dos homens funciona: "se declare, se ajoelhe para um homem... ele vai te desprezar. Agora, pise nele, despreze ele, ignore ele... o idiota se apaixona". E o idiota se apaixonou, ela fez tudo tão certinho que parece que foi até programado.

E o que eu mais temia aconteceu: a separação. Compus aquela música com meu coração na mão, cantei ela com um nó na garganta, e no último segundo, escrevi a nota com minhas mãos tremendo. Martin e o Félix surpreendentemente foram muito prestativos com meu coração partido, fizeram de tudo pra me animar; mas na verdade nada podia ser feito, precisava curtir minha foça. Compus mais e mais músicas, sonhei com ela diversas vezes, com nós dois vivos. Aliás eu nunca entendi isso, por que fantasmas tem que dormir? Tem tantas coisas estranhas no mundo dos mortos: nós comemos, nós dormimos, nós NUNCA encontramos família ou qualquer conhecido. Nesses trintas anos pós morte acho que nunca dei uma analisada real nesse muquifo.

Enfim, agora estou aqui. Eu e a Julie somos fantasmas, e eu estou... confuso com essas mudanças 

—Daniel?- Julie me chama olhando com seus grandes olhos castanhos para minha triste face

—oi

—eu tenho que te contar uma coisa- diz ela levantando-se e se aproximando 

—pode falar- eu digo enquanto ela chega mais perto e coloca suas mãos nos meus ombros

Meu coração bate a mil, um toque simples mas tão íntimo. meu ombro estava pegando fogo. Se eu tivesse sangue com certeza estaria todo vermelho.

—eu...

—você?

—eu nunca te esqueci

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2020 ⏰

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Julie e os fantasmas: Minhas assombrações do passado Onde histórias criam vida. Descubra agora