Cheiros

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Os cheiros é que matam. Todos os outros misturados com o próprio cheiro do ambiente trazendo a tona um único cheiro. Isso é o que mata. Te sentir em todos os lugares, parar por um segundo e lembrar do seu cheiro, e senti- lo pertinho de mim. Ah como eu adoro te sentir, sensação boa lembrar você juntinho de mim, igual aquela noite que eu fui pra casa cheirando você. Pura nostalgia.

Era primavera e eu estava na sua cidade, num fim de tarde mágico. Estávamos finalmente andando lado a lado naquela ponte que só me traz boas lembranças, o rio corria puro logo abaixo e as pessoas ao nosso redor seguiam apressadas, mas não nós. Caminhamos devagar e falamos pouco, não havia nenhuma palavra que fosse boa o suficiente. Esse foi provavelmente o momento em que mais estivemos próximos, digo, em sintonia, ligados.

Ao final da ponte ele parou e me encarou profundamente e eu senti cada pedacinho do meu corpo se acender. Eu tinha que ir embora, mas não queria. Poderia ficar ali fitando os seus olhos para sempre. Ninguém nunca poderá entender o que eu estava sentindo e como eu acreditava ser real.

Ele me abraçou e eu senti as suas mãos no meu corpo, frágil e inocente. O mundo parou por alguns instantes e as pessoas desapareceram, só havia eu e ele. Como eu queria que tivesse durado Nos soltamos e ele me deu um último beijo antes de me deixar partir. Se eu soubesse das peças que a vida iria me pregar nunca teria ido. A luz do sol deu lugar às estrelas e eu segui com passos curtos, esperando que talvez ele me impedisse, não impediu, então continuei indo, partindo, deixando-o. A brisa soprou e eu senti o cheirinho dele no ar. Sillage. Nenhum cheiro foi tão bom quanto aquele que ficou na minha pele e gravado na minha mente.

E depois de tudo que nos aconteceu ainda consigo me lembrar de como era bom e de como ele era bom e como me fez bem, e ainda que eu não consiga sentir agora, o meu cérebro tem gravado aquele cheiro junto com todas as lembranças daquele dia aparentemente comum de abril.

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