P R Ó L O G O

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Desconhecido

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Desconhecido

Três meses atrás:

As luzes vermelhas e os alarmes soando alto, entregavam que algo estava errado na ala oeste do grande prédio hospitalar. Os guardas checavam seus rádios nos braceletes tecnológicos recebendo ordens para permitir a abertura dos portões e liberarem o paciente que estava prestes a sair. Fugir, para ser mais específico. Alguns médicos, corriam para longe de onde o fugitivo desconhecido passaria. Outros, que cuidaram do paciente desde sua chegada, fizeram questão de acompanha-lo até a saída, onde alguns guardas apontavam armas para o paciente, prontos para defenderem os médicos, apesar do fugitivo apresentar riscos apenas a si mesmo.

— Não é assim que as coisas funcionam, Arthur. — um médico baixinho e grisalho, conhecido como Dr. Callid tentava retirar a ideia que seu paciente tanto queria concretizar. — Para onde irá? Fique e eu prometo protege-lo!

— Nem em minha primeira vida presenciei tanta maldade em seres humanos, doutor! — Rosnou o paciente com um bisturi em sua própria garganta. Seus olhos castanhos não tinham medo do local que estava, ou dos maus-tratos que recebera em sua estadia ali. Ele tinha suas recém descobertas emoções controladas pela adrenalina que seu corpo produzia, permitindo sentir-se apenas traído por tudo o que descobriu do lugar o qual fugia.

— Por favor, não faça isso! — O doutor tentou se aproximar, mas o homem a sua frente afundou um pouco mais o bisturi em sua garganta, fazendo o sangue escorrer de sua pele alva em uma fina camada, manchando sua blusa branca.

— Fique onde está, Dr. Collid! — Gritou uma última vez. Seus ombros largos e musculosos subiam e desciam com a respiração irregular. — Ou juro que acabo com os planos do general agora mesmo!

O doutor manteve-se no lugar, com um olhar triste e decepcionado. Sabia que o general não deveria usar te tais métodos para manipular uma pessoa e que suas ações o levariam para um lugar tão terrível quanto fazia a terra parecer. Suas mãos ainda tremiam um pouco por ter feito algo que considerava errado aos olhos humanos, então apenas assistiu à fuga de seu amigo pela tão sonhada liberdade. Achou ser recíproca a amizade que criara com Arthur, mas se sentia indigno de qualquer vínculo emocional com ele, pois sabia de todas as torturas e nada fazia para impedir. Dizia para si mesmo que era o certo por se tratar de um bem maior, que ajudaria a humanidade a retornar aos eixos.

Arthur, assim chamado apenas pelo doutor que acreditou ser de confiança, agora fora do grande portão do prédio, sentia uma súbita raiva de si mesmo por ser tão incapaz. Incapaz de acreditar que seu criador, Arthur I, foi também um ser humano. Onde estava aquele amor que tanto ouvia falar? Não sabia. Sentia-se mais perdido que no próprio dia de seu retorno para este mundo. Não se sentia vazio, porém, por estar repleto de sentimentos e com um coração humano batendo forte em seu peito conforme se afastava do local e adentrava a floresta ali perto. Seu novo desafio seria administrá-los com coerência, já que nunca havia sentido nada com tanta intensidade.

Sentia seu rosto molhado pela chuva fina que o atingia e encantado pelo cheiro da terra molhada da floresta. Tudo tão novo para um dia. Não se arrependia de ter fugido e nem sentia medo de ser encontrado outra vez. Faria da floresta a sua frente seu lar, criando memórias e laços com os animais que havia visto em um livro no hospital.

Um barulho mecânico o assustou por um momento, pois pensou estar sendo seguido. Seus pés pararam de correr, e seus olhos faziam uma rápida varredura ao seu redor para certificar-se de estar seguro. Ouviu o barulho outra vez, acompanhado de um urro de dor de um animal ferido. Sem pensar duas vezes, seguiu os gemidos sofridos e deu de cara com uma cerca elétrica gigante e uma corça ainda filhote. O sentimento que o apossou não está contido em nenhuma das palavras que aprendera, mas se assemelhava com um instinto de querer proteger e acabar com o sofrimento do animal.

Aproximou-se com cautela e percebeu que a pata do animal estava presa em um dos fios que separava-os de um campo limpo de árvores, com a grama alta. O animal estava assustado e sangrando, e mesmo com a pouca iluminação que os atingia, Arthur viu o brilho em seus olhos clamando silenciosamente por ajuda.

Juntou todas as suas forças ainda com o pequeno bisturi em mãos, cortou o mais rápido que pode o fio que prendia o animal. Não sabia, porém, que a cerca estava ligada a eletricidade e assim que seus dedos entraram em contato com o fio metálico, sentiu seus olhos mudarem de cor, como se visse através de um véu de coloração alaranjada como o fogo. Seu corpo inteiro tremeu e suas pernas lutaram para permanecer em pé antes de falharem e leva-lo ao chão. Não sabia se tudo estava conectado com o que descobrira mais cedo quando acidentalmente entrou na sala que possuía todos os "exames" já realizados em seu corpo, mas sabia que não estava em estado normal. Um humano resistiria a um choque de alta frequência? Não sabia, mas chutaria  que a forma como seu corpo parecia querer lhe dizer algo não era normal. Os cabelos de sua nuca estavam arrepiados, mas não era pelo frio que a floresta lhe proporcionava. Seu peito, debruçado entre a grama alta, sofria com leves espasmos  e emanava um calor até então desconhecido.

O animal já não estava preso, mas se manteve próximo ao corpo de Arthur, como forma de agradecimento. Não conseguia andar devidamente, mas para qualquer ameaça contra Arthur, estava preparado para retribuir a ajuda. Arthur sentia-se sonolento, esgotado pela corrida até ali e pelo choque que o atingiu. Não fazia ideia de quanto tempo havia permanecido ali, de olhos entreabertos, com a visão alaranjada e turva, tinha pouca consciência quando viu um cyborg se aproximar de seu corpo e pela primeira vez, sentiu um medo avassalador de ser morto ali, sem ninguém que o amasse de verdade, como seu criador um dia amou. A lataria desgastada e enferrujada do provável anjo da morte rangia a cada passo cedido para perto de Arthur. Os olhos do cyborg brilhavam com uma luz vermelha que iluminava um pouco o local onde se encontrava deitado coberto pela lama e um pouco de sangue seco. Aceitou, com relutância, que ser um humano era isso: viver por pouco tempo com as intensas emoções com as quais foram agraciados e morrer em um momento inesperado. Sua alma só se arrependia por não ter encontrado a tempo uma garota que pudesse entregar seu coração, como leu nos livros que o Dr. Collid havia lhe dado. Contudo, aprendeu com seu criador que o amor também lhe proporciona lágrimas.

Ali se encontrava entregue a qualquer sentimento que pudesse possuí-lo antes da morte.

Faísca [Em Breve]Onde histórias criam vida. Descubra agora