Capítulo 1

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2 de fevereiro de 2018 - Madrid, Espanha.

DULCE

Desci do avião e senti o meu corpo arrepiar com o frio que fazia, dei um suspiro pesado e fui pegar as minhas malas. Não era a primeira vez que havia estado aqui, porém nunca sai para ver a cidade, sempre era cercada de seguranças, do avião para o hotel e do hotel para algum evento, nada mais. Hoje me sentia como um passáro que fugiu da sua gaiola e poderia enfim voar, estava livre, tantos anos presa em uma farsa, nem me lembrava mais como era ter liberdade para fazer o que eu queria, para ir a um simples parque, tomar um café por ai... um sorriso se formou em meus lábios ao me lembrar da minha infância.
Chamei um taxi e pedi para que ele me deixasse no endereço que haviam me dado quando aluguei a casa pela internet.
Agora seria apenas eu por mim mesma, ou melhor eu e o pequeno ser que em meses viria ao mundo para me encher de alegria.
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2 de fevereiro de 2008

Dia do casamento

Despertei e peguei o meu celular na escrivaninha, era sete da manhã. Olhei para o quadro ao lado da minha cama na qual havia uma foto de nós dois, eu sempre fazia isso todas as manhãs, eu me sentia tão feliz por estarmos juntos, ele era o meu porto seguro em meio a tudo que vivia com a minha familia.
Minha mãe nunca foi muito amorosa comigo, meu pai era quem mais me apoiava em tudo e muito mais carinhoso também, fora o meu pai a única pessoa que me fazia sorrir era ele, no começo foi estranho quando naquela festa ele veio em minha direção e me ofereceu um drink, não acreditava que isso estava acontecendo, eu sempre o olhava de longe, porém ele sempre estava com as mulheres elegantes, não que eu não fosse, eu gosto de como sou e tenho a minha beleza, mas sou timida demais para ser comparada com elas. E sempre a cada festa ele estava com uma mulher diferente, ou seja era impossivel que ele olhasse para mim, pelo menos era o que eu pensava.
Hoje já temos mais de três meses de namoro, ele me trata muito bem, apesar de as vezes o sentir um pouco longe, eu ligo e ele demora horas para responder e as vezes passamos até três dias sem nos ver, porém ao ve-lo chegar com um buquê de flores e com aquele sorriso que me encantava eu esquecia de tudo.
Tomei um banho, pois daqui a pouco a maquiadora, manicure e a cabelereira chegaria em minha casa, hoje era o dia mais importante da minha vida, iria me casar, de véu, grinalda, vestido branco, como em meus sonhos, hoje nos tornariamos apenas um só e eu não tinha nenhuma dúvida de que era com ele que eu queria viver o resto da minha vida.
- Com licença senhorita. - Disse a empregada entrando em meu quarto. - Seu café da manhã.
- Obrigada Aurora. - Peguei a xicara de café.
- A maquiadora, a cabelereira e a manicure já chegaram, posso manda-las subir?
- Claro que sim. - Respondi.
- Sim senhorita, com licença. - Ela saiu do quarto e em seguida elas entraram em meu quarto. Elas começaram a fazer o seu trabalho, enquanto isso via televisão. Meu vestido era enorme, delicado assim como gostava, na saia tinha alguns bordados e detalhes em pedraria, tinha um pequeno decote no busto e as mangas em renda, cada detalhe dele havia sido bem pensado e feito por uma das estilistas mais famosas do país. O véu era mais simples, mas a sua combinação ficou perfeita. Meus cabelos longos e castanhos eu preferi deixa-los soltos, com algumas ondas, porém com uma parte presa atrás com uma presilha em forma de coração.
Blanca: A noiva já está pronta?
- Sim senhora. - Virei-me e minha mãe me olhou maravilhada.
Blanca: Está linda. Porém ainda acho que poderia ser outro penteado, não está nada elegante e com classe minha filha.
- Eu gostei dele assim mãe.
Blanca: Okay, se quer ficar assim fica, não vou brigar com você nesse dia tão importante. Temos que ir, a limosine já está a nossa espera. - Disse olhando no relógio.
- Sim mamãe, vamos.
Blanca: Deixa eu te ajudar com o véu. - Essa era a primeira vez que ouvia a minha mãe se oferecer para me ajudar em algo. Entramos na limosine e fomos a caminho da igreja, na verdade eu queria algo simples, não conheço muita gente e quase não tenho amigos para fazer uma festa tão grande, e ainda viria os fotógrafos para amanhã, ou melhor hoje mesmo estarem nas revistas.
Cheguei na igreja e a marcha nupcial começou a ser tocada, caminhei até o altar acompanhada do meu pai, tudo estava tão bonito e ele estava lá na frente a minha espera. O vi e ele tinha algo diferente no olhar, não sabia dizer o que era, talvez o mesmo nervosismo que eu estava sentindo.
- Podem se sentar. - O padre começou a cerimônia e assim sucedeu.
Christopher: Dulce Maria Saviñon, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. - Ele pegou a aliança e colocou em meu dedo.
- Christopher Uckermann, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. - Peguei a aliança e coloquei em seu dedo.
- Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva. - Virei-me um pouco envergonhada e ele selou os nossos lábios com um beijo, todos aplaudiram e assim saimos da igreja de mãos dadas.
A festa durou algumas horas e depois disso saimos em lua de mel, não era bem a lua de mel que eu imaginei, pois não poderiamos sair de viagem, Christopher havia me dito que os pais dele precisariam dele aqui e por isso não poderia ir e eu aceitei, não tinha muito o que fazer. Ficamos em uma casa de campo e voltariamos no dia seguinte de manhã, iriamos morar juntos em uma casa enorme cujo minha mãe e a mãe de Christopher haviam comprado e decorado, mas as minhas roupas ainda estavam em minha casa.
Na manhã seguinte fui até a minha casa buscar as minhas coisas e Christopher recebeu uma ligação do pai dizendo que precisava de sua presença na empresa e então pediria para que o meu pai me levasse ou então o chofer me levaria até a minha nova casa. Entrei devagar e meus pais estavam no escritório, me aproximei e pensei em bater na porta, porém por curiosidade resolvi escutar sobre o que diziam.
Fernando: Agora o que está feito, está feito. Não tem volta.
Blanca: Ainda bem que não tem volta e para de drama, a Dulce está feliz com o casamento, ela gosta do garoto, o que tem de mal nisso?
Fernando: Ela gosta, mas ele não. Não viu a cara dele durante a festa? Na hora da cerimônia?
Blanca: Ele esquecerá logo disso, isso irá beneficiar tanto a ele e tanto a nós. E outra, quando o pai dele propôs que os dois se casassem para resolver os problemas da nossa empresa e para que eles resolvessem o problema com o filho deles ele aceitou, não veio enganado, ele aceitou participar da farsa, então não pode reclamar de nada.
Fernando: Como você fala assim? Não se importa nem um pouco com a sua própria filha?
Blanca: Você também aceitou. E eu não iria deixar o nosso nome e a nossa empresa ir para a lama. - Abri a porta do escritório e entrei.
- Isso é verdade? - Eles permaneceram em silêncio. - Me diz mãe, me diz pai, isso é verdade?
Blanca: É. Pronto, se é o que você quer saber.
Fernando: Blanca..
Blanca: Ela perguntou. Algum dia ela iria ter que ficar sabendo. - As lágrimas começaram a cair do meu rosto. - Para que você tá chorando menina? Isso salvou a nossa familia e aliás você gosta desse menino, engole o choro. - Apenas percebi quando já tinha feito, dei um tapa na cara da minha mãe.

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Madrid, Espanha.

DULCE

Despertei-me assustada, era um sonho, apenas um sonho. Estava suada, levantei-me devagar e fui tomar um banho para afastar todas essas lembranças. Troquei-me de roupa e coloquei um vestido branco larguinho, já sentia que os vestidos justos começavam a ficar apertados, afinal já estava com três meses, nos ultimos dias tratei de disfarçar usando blusas mais largas e vestidos que não marcavam tanto a minha cintura para que passasse despercebido, ele não iria querer ter um filho meu e não queria que o meu pequeno pagasse pelos erros que apenas eu tinha culpa. Amarrei meus cabelos e coloquei uma rasteirinha e sai pela cidade, precisava de um chip, de fazer umas compras porque não havia comida em casa e de um celular novo, esse número apenas Maite, minha melhor amiga iria ter. Meus pais nunca seriam a favor de eu ter fugido, na verdade eles nunca se importaram comigo, sorte que eu tinha uma coisa guardada a muito tempo que hoje me serviu de algo, quando era criança tinha sido registrada duas vezes, uma com o nome que a minha mãe queria e na outra como o meu pai queria e isso me serviu para que conseguisse um passaporte com essa identidade para fugir do país e pelo menos evitar que me encontrassem tão facilmente pela influência que tinha os meus pais e os pais de Christopher. Comprei um chip e fui em busca de um celular novo pela cidade, era tão bom ver as atrações, era um lugar diferente do que eu havia vivido a minha vida inteira, tinha um bom dinheiro guardado que tinha na conta poupança, porém queria procurar um emprego, mas ainda estava na dúvida por estar grávida e não me perdoaria se acontecesse algo de mal com ele por estar andando por ai sozinha em um lugar que que nem mesmo conheço. Encontrei uma loja de celulares e entrei comprando um e fui direto atrás do mercadinho mais próximo.

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México

CHRISTOPHER

Estacionei o carro na garagem e entrei em casa e por incrivel que pareça tudo estava igual a ontem, ela não havia voltado.
- Helena, Dulce não ligou ou apareceu hoje em casa?
- Não senhor, não há vejo desde ontem pela manhã. Deseja que eu sirva o jantar para vocês?
- Vocês? - Disse sem compreender. - Você mesma disse que Dulce não estava.
- Não falo por ela senhor e sim pela senhorita Natália, passou o dia aqui. - Assustei-me, não esperava encontrar Natália nessa casa, muitos menos sem prévio aviso.
- Pode servir o jantar. - Subi as escadas e fui até o meu quarto e lá estava Natália deitada na cama. - Posso saber o que está fazendo aqui?
Natália: Isso é jeito de falar com a sua mulher, meu amor? Vem cá, me dá um beijo. - Disse fazendo sinal para que eu me aproximasse. Me sentei no ponta da cama e tirei os meus sapatos.
- Ainda não me respondeu Natália.
Natália: Eu já sei que aquela mulherzinha foi embora daqui e eu resolvi ocupar o lugar que mereço e que já deveria estar ocupando a muito tempo. - Natália se aproximou fazendo massagem nos meus ombros, na verdade me deixando com mais dor nos ombros do que já estou.
- Natália, melhor você parar por ai. Eu nunca disse que me casaria com você e muito menos agora, eu nem estou separado da Dulce, ela não assinou o divórcio e muito menos eu.
Natália: Por ela nem se preocupe, ela te abandonou então de certa forma você tem a razão e o juiz assina por ela, pronto.
- Conversamos sobre isso amanhã, okay? Estou cansado e quero descansar e dormir sozinho. - Disse me dispersando dela.
Natália: Tem certeza? - Disse se aproximando e desabotoando os botões do vestido.
- Tenho.
Natália: Okay então, você que perde. - Ela me deu um beijo e pegou a bolsa saindo do quarto.
- Se quiser jantar, Helena já vai servir.
Natália: Não, obrigada. - Ela saiu do quarto e eu entrei no banho, não sei porque desde ontem o sumiço da Dulce ficava dando voltas na minha cabeça. Ela tinha me avisado, porém como todas as vezes que brigamos ela esquecia depois, mas agora ela realmente estava dizendo a verdade, para onde ela teria ido? Dulce nunca viveu sozinha, acho que essa chantagem emocional não vai durar muito tempo.
Terminei o banho e desci para jantar, depois voltei para o quarto e me deitei, a noite estava longa, silênciosa e pela primeira vez na minha vida sentia tudo tão estranho, me sentia sozinho.

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