Áries Johnson
19 dias para o Halloween, 2019
Na volta para casa— Não segure meu cabelo.
Damien Fox entrou em uma discussão acalorada para me convencer de que eu não poderia voltar para casa sozinha.
Ele usou como argumento principal as garrafas de cerveja que tomei ao longo da festa e como minha pele ainda estava terrivelmente pálida. Eu tentei rebater demonstrando como conseguia andar e não precisava de ajuda nenhuma. Mas não demorou muito tempo para que minhas pernas perdessem o pouco de equilíbrio que restava.
— Nem passou pela minha cabeça — Ele mentiu, me assistindo vomitar na calçada do dormitório da faculdade. Eu não olhava para trás. E mesmo assim, sabia que as mãos de Damien estavam prontas para erguer meu cabelo e impedir que ficasse ainda mais arruinado. Era tarde demais para isso.
Depois da última ânsia, meu corpo desistiu de lutar contra uma sensação esmagadora de cansaço.
Eu suspeitava ter cochilado durante metade do trajeto até os muros conhecidos do prédio sete. Damien não pareceu se importar. Ele não falou nada. Apenas dirigiu sem pressa e interrompeu meu sono de cinco em cinco minutos para oferecer água. Na hora, eu usei os piores xingamentos que minha cabeça bêbada conseguiu encontrar para xingá-lo. Mas agradeci por sua insistência no dia seguinte.
— Passou sim — insisti, tentando acalmar meu estômago revirado. — Além de um péssimo mentiroso, você é bem previsível.
Eu virei para encará-lo.
Damien sorriu.
Uma covinha ameaçou aparecer no lado esquerdo do rosto e seus olhos brilharam. Ele pareceu surpreso ao ouvir minhas palavras ácidas depois de trinta minutos imerso em um silêncio desconfortável e angustiante. Era um alívio saber que as coisas voltaram ao normal.
— Acredite se quiser — Damien notou cada detalhe da minha imagem repulsiva. A maquiagem fora do lugar, uma parte do tecido da saia amassado e um dos cadarços da bota dessamarrados. — Eu não sujaria minhas mãos para evitar que você morresse engasgada.
Revirei os olhos. Uma vontade súbita de enforcá-lo queimou meu peito. Mas não restaram forças para segurar seu pescoço. Para nenhum movimento que exigisse mais do que meu corpo exausto poderia fazer.
Eu remexi minha bolsa até encontrar as chaves do quarto. Um chaveiro de abóbora pendia junto com elas e um cartão para destrancar as portas do dormitório. Damien pegou no ar sem qualquer aviso. Ele tinha bons reflexos. Bons demais.
— Você sobe na frente — Minhas bochechas ardiam. Não precisava de um espelho para ver como estavam vermelhas. Nem para confirmar como eu parecia uma completa confusão. — E se eu me jogar da escada no meio do caminho, não volte para me ajudar. Não estrague os desejos de morte de outra pessoa.
Ele subiu na calçada e andou rápido entre as árvores, seguindo um caminho de pedra demarcado. Eu segui seus passos em um ritmo muito menor.
Um arrepio frio me fez apertar os braços ao redor do corpo.
Minhas roupas vomitadas foram substituídas por uma camiseta e uma jaqueta escura de Damien Fox. Não precisava aproximá-las do nariz para sentir seu cheiro perdidamente bom.
Eu fiz isso muitas outras vezes. Usei sua jaqueta de couro como se fosse minha durante uma semana inteira e roubei uma camiseta nova cada vez que terminamos de transar. Era uma das coisas que eu mais gostava de fazer.
E lembro perfeitamente do momento que Damien me viu com suas roupas pela primeira vez. Estava pronto para entrar no carro e me levar para casa. A música da festa ressoando alta. E mesmo na garagem escura, onde mal conseguia enxergar seu rosto, tenho certeza que seus olhos brilharam.
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UNTOUCHABLE
RomanceDamien Fox era a personificação do inferno. Com uma coleção de pecados e um vício por cigarros de baixa qualidade, tudo nele exalava luxúria e ardia como fogo em uma incessável combustão, chegando próximo de ser o mais doce e impiedoso purgatório. P...