Bad Habits

Capítulo 7

Como todas as vezes anteriores, eu parei em frente a igreja e observei a fachada com um leve aperto no coração. A arquitetura do prédio poderia me dar calafrios a noite mas em plena luz do dia, meu coração doía por um motivo diferente: meus pais. As memórias de todos os brunchs que participei e rolei pela grama junto as outras crianças, numa época tão distante e alegre,  agora pareciam nem pertencer a mim. Era uma outro Brooke. Não sei como posso ser a mesma garota daquela época depois de meus pais me lançarem de casa em casa enquanto pregavam o evangelho pelo mundo e eu sofria em silêncio até buscar a saída no suicídio. Ainda me pergunto se Deus algum dia me perdoará por ser tão falha.
Eu caminho em silêncio até estar perto do altar e então me ajoelho na segunda fileira, agindo como a garota de boa fé que fui criada para ser. Nunca pensei que se aventurar até os confins do mundo por causa do amor poderia ser tão perigoso, mas já se passaram semanas e ainda não tive notícias dos meus pais. Eu junto minhas mãos e abaixo minha cabeça. Por favor, Deus. Que eles estejam a salvo. O Senhor não pode deixá-los quando estão há anos te servindo. Por favor, traga-os de volta logo.
Salmos 94 diz que o Senhor jamais desampara o seu povo, então é só isso que eu peço hoje e torço para que Ele não esteja muito ocupado e possa atender minhas meras súplicas. Quando ergo minha cabeça encaro a cruz acima do altar por longos minutos, é assim que o Reverendo me encontra.

"Brooke, querida." ele diz se aproximando. "Como você está? Você não apareceu no último domingo."

Dizer a ele que faltei nosso compromisso semanal porque enchi a cara e quase me afoguei na piscina não parece uma boa resposta. No entanto, mentir dentro de um local sagrado parece ainda pior. É melhor omitir.

"Oi." falo de maneira simples. "Eu não estava me sentindo bem, sinto muito por não ter avisado."

Ele senta-se ao meu lado dispensando minha desculpa como se não houvesse problema algum. Ele encara a cruz acima do altar antes de voltar a falar.

"Sei que está preocupada, criança. Mas Salmos 94:14 diz que Deus não desampara seu povo, e acredite em mim: seus pais estão bem. Eu sinto isso."

Uma lágrima involuntária escorre por meu rosto. Salmos 94. Eu acabei de pensar nessa passagem, não pode ser só uma coincidência. Ok, é uma das únicas que conheço. Mas acho que o cara lá de cima não estava tão ocupado assim. Eu agradeço silenciosamente e dou um meio sorriso para o Reverendo.
Eu passo a semana toda me agarrando a esse versículo para tentar superar a saudade que só cresce dentro de mim. Gostaria de não ser mais essa garota, realmente queria não amá-los tanto. Mas eles são minha família, são tudo o que eu tenho. Como poderia deixar de me importar? Acho que se em algum momento isso acontecer, será meu fim. Se eu deixar de me importar, não há mais razão para viver - e esse é um caminho muito perigoso para se trilhar. Decido afastar esses pensamentos e me concentrar na viagem de uma hora até a casa do lago de Mia, e em como relaxar precisando sobreviver dois dias com Harry e Gabriel no mesmo lugar. Eu me sinto cansada só de imaginar o esforço. Deus, se ainda estiver me ouvindo, me dê paciência.

***

Ok. Eu geralmente sou fã de viagens longas de carro com minha melhor amiga, mas isso quando não tem três brutamontes dividindo o mesmo espaço! Infelizmente, Zoe não pode vir porque a mãe dela ficou doente e como a doce e boa garota que ela é, Zoe ficou cuidando dela e dos irmãos. Por isso, estamos todos em um carro só.

Mia está dirigindo e Gabriel está no banco de passageiro, já que os três rapazes não cabiam no banco de trás. A solução foi me deixar apertada entre Mason e Harry, e eu juro por tudo que há de mais sagrado, se eu precisar ficar mais cinco minutos nessa posição eu mato alguém. Nem mesmo minha playlist favorita tocando no rádio torna essa situação menos irritante. Mia está ocupada demais gritando a letra de Kiwi do Harry Styles para perceber, que boa melhor amiga eu tenho.