Capítulo 1

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Se Baxter High fosse um colégio de um filme adolescente, eu seria a garota malvada que o comandava a base de gritos e devastação, o que era exaustivo por sinal, levava tudo de mim para sair da cama pela manhã e dar início ao meu reino de terror.

Eu desliguei o alarme em celular e suspirei fundo antes de colocar minha playlist favorita para tocar, todo dia a música servia como um incentivo para que eu me arrastasse para fora da cama, mas hoje eu estava mais exausta que o normal e era só o primeiro dia de aula. Não sei se posso culpar a jet lag do voô de volta do Reino Unido há dois dias por isso, mas certamente é o que eu faria. Coloquei meu roupão e segui em direção ao banheiro para iniciar minha rotina diária.
Tomar banho. Escovar os dentes. Passar maquiagem. Fazer o cabelo. Colocar as lentes de contato verdes. Meu corpo já havia decorado as mesmas ações de sempre e agora já era automático. Peguei minha mochila e olhei ao redor do enorme quarto cinza, sentia que estava esquecendo algo mas não sabia o que era. Desisti de tentar lembrar e coloquei meus air pods para ignorar a crescente ansiedade dentro de mim. O vício constante por música existia para abafar o silêncio ensurdecedor de casa.
Eu nunca sabia onde meus pais estavam mas essa semana, tenho certeza que era mais longe do que o habitual, eles não ligavam há cinco dias. Aposto que não sabem que voltei para casa. Passei o verão todo com meus tios em Londres mas como todos ao meu redor, eles tem a própria vida para seguir e não conseguem lidar por muito tempo com o furacão "Brooke Adams" então voltei para a casa. Para enorme mansão no topo da colina de Blue river, feita de vidro e com os móveis mais caros que o dinheiro pode comprar, desde a pia de mármore negro do meu banheiro a estátua de cachorro ridícula no meio de uma das salas. Tudo nessa casa era valioso, exceto por mim e meu irmão, porque se fossemos meus pais estariam aqui.

"Bom dia, Brooke." Mason falou, sentado sob o balcão da cozinha e eu sorri de leve, retribuindo o cumprimento. Mason Adams, meu irmão mais velho por apenas 9 meses e vinte e cinco dias. Bendito sortudo, iria embora antes do que eu.
Quando terminasse o ano escolar se mandaria para bem longe daqui, e consequentemente, de mim. Ele seria mais alguém a me deixar para trás, nem sei porque ainda me importo.

"Te vejo na escola, irmãozão." falei deixando a cozinha com nada além de uma maçã e uma garrafa de água na mão. Eu detestava café da manhã. Na verdade, eu detestava comida em geral. Resultado da bulimia de algum tempo atrás, eu poderia estar curada mas ainda odiava ingerir comida. Meu irmão até tentava me ajudar mas não tinha efeito nenhum sobre mim. Ele não era meus pais. Bom, nem eles tinham esse efeito sobre mim. Todos os meus maus hábitos começaram cedo, e eu consegui manipula-los a acreditar que já os tinha superado. Eles não se importavam o suficiente para perceber a verdade.
Ah, meus pais. Sempre tão preocupados com os problemas dos outros e incapazes de interferir nos problemas dos próprios filhos. Me pergunto o que minha mãe diria se soubesse das lutas clandestinas que seu filho favorito anda se envolvendo. Será que se importaria de verdade? Eu dúvido. Até quando fui internada no verão anterior eles não pareceram se importar de verdade. Eles oraram por mim e me deixaram três meses naquela clínica, sendo cuidada pelos melhores médicos que conheciam, mas a única coisa que eles faziam eram me manter drogada o suficiente para que eu não cometesse besteira alguma. Um surto psicótico escondido a mais, uma preocupação a menos para eles. Desde que eu tomasse meus remédios e aparecesse para o culto de domingo tudo estava bem.
Ninguém sabe mas larguei os antidepressivos há algumas semanas, eles me deixam mais gorda, e eu realmente acho que consigo lidar com tudo sem eles. A ansiedade infelizmente não é assim tão fácil, porém, a pior das doenças é crônica: fibriomialgia. Não tem cura, dura uma vida toda, não me deixa dormir, me faz sofrer dia e noite, porém, estou acostumada. Quando tudo o que você conhece é dor, seria estranho viver sem ela.

Entrei em meu Range Rover preto e liguei os alto-falantes do carro no volume mais alto suportável. Os olhares repreensivos que recebi no trânsito foram devidamente respondidos com um belo dedo do meio e admito que me concentrei mais em aplicar gloss em meus lábios do que com o ato de dirigir em si.

Bad HabitsOnde histórias criam vida. Descubra agora