"Quem é Emille?"Quase não escutei a voz baixa de Brie me fazendo uma pergunta. Desviei a atenção da tela do meu notebook e olhei para onde ela estava sentada no sofá assistindo tv do outro lado da sala. Pensando que ela tivesse recitado algum título de filme com o nome da protagonista sendo Emille ou interagindo com a tv, voltei a atenção novamente no que estava trabalhando. Mas dessa vez eu não podia me confundir sua voz mortalmente séria, os olhos verdes intensos agora dirigidos a mim.
"QUEM É EMILLE?!"
"Porque você quer saber querida?" Minha própria pergunta não respondeu a dela e não foi a resposta que ela esperava.
Descobri tarde demais que era algo sério quando ela deu um pulo do sofá e em passos rápidos caminhou até onde eu estava sentada. Ela espalmou as mãos na superfície da mesa de um modo intimidade apesar de sua pequena estatura e inclinou-se um pouco para frente diminuindo nossas distâncias, olhando intensamente para meus olhos.
"E não se atreva a mentir para mim. Quem é essa vagabunda Emille que ligou para o seu celular perguntando por você?"
Eu já podia sentir uma dor de cabeça chegando apenas por ouvir sua voz gritando. Quando eu achava que estávamos bem, Brie inventava suas paranóias me fazendo duvidar cada vez mais se o nosso relacionamento iria durar. Eu a amava, mas também me questionava se eu podia continuar ao seu lado apesar do mal que isso estava me causando. Eu devia ter demorado muito para responder – e conhecendo que Brie odeia ser totalmente ignorada – a próxima coisa que sei é que meu notebook foi arrancado de cima da mesa e arremessado com toda a força contra a parede. Eu me assustei com o barulho repentino e pela sua raiva demostrada naquele ato e por instinto me encolhi na cadeira.
Vendo o que tinha feito, ela deu um passo para trás. Passado um pouco o susto eu deslizei da cadeira e cai de joelhos em frente ao meu notebook recolhendo-o e buscando por qualquer sequela que o forte impacto possa ter causado. Foi então que vi, por fora tinha uma rachadura enorme na tampa e quando abri, a tela estava trincada de uma ponta a outra mas se mantinha ligada. Ergui os olhos para Brie que todo aquele tempo me observava, sua costa apoiada na parede, os braços envolta de si mesma em um gesto protetor.
"Você ficou louca Briena?" Foi a primeira vez que usei seu primeiro nome desde que nos conhecemos. "E está tentando me enlouquecer também? Todo o meu trabalho estava nesse notebook, trabalho importantes e você está tentando estragar tudo." Minha voz saiu trêmula por tentar conter a raiva que queria subir para a superfície.
"Gwen eu..." Ela tentou se explicar. Mas naquele momento eu não queria explicação, eu estava muito brava para aquilo. Eu não queria agir por impulso e fazer algo que mais tarde me arrependeria.
"Cale a boca. Por favor, só cale a porra da boca e me deixe em paz." Me levantei do chão com o notebook debaixo do braço.
Passei por ela sem nem ao menos olha-la e subi rapidamente para o nosso quarto. Olhei com mais calma para o eletrônico vendo onde tinha sido mais danificado, decidi que só mesmo um técnico poderia identificar os danos e amanhã mesmo eu iria levar ao concerto. Guardando-o na gaveta do criado mudo do meu lado da cama, deixei que meu corpo tenso descansasse nos lençóis macios e fechei os olhos por alguns minutos. Quase uma hora havia se passado, eu estava quase cochilando quando a porta do quarto se abriu suavemente e em seguida se fechou com o mesmo cuidado.
"Gwen, você está ainda acordada?" Sua voz estava baixa, quase com medo de se dirigir a mim. Eu ainda não me virei e mantenho os olhos fechados fingindo que já estava dormindo. Eu não queria iniciar outra discussão, talvez amanhã conversassemos com mais calma sem corrermos o risco de nós machucarmos com palavras dirigidas no calor do momento.
O colchão se mexeu embaixo de mim quando ela subiu na cama, eu podia sentir seu olhar fixado em minhas costas, mas mesmo assim contínuo com o corpo voltado para ela. Novamente ela se mexeu e então senti puxar o cobertor para cima do corpo para se cobrir. Normalmente eu dormia abraçada com Brie aconchegada dentro do meu abraço, só que naquela noite eu estava chateada demais para iniciar qualquer contato com ela. Meu corpo estava relaxando, quase me embalando para o sono outra vez; até eu ouvir uma fungada. Abri os olhos, mas ainda me mantive imóvel e foi então que ouvi um soluço abafado que ela tentava conter. Rapidamente virei para olhar para ela e pude ver seu corpo tremendo, apesar de estar virada com as costas para mim eu percebi que ela estava chorando. Instantaneamente a indiferença deu lugar a preocupação. A raiva de antes dissipou e por um momento me senti culpada por ter agido tão duro com ela.
"Brie, porque você está chorando?" Aproximei dela e toquei seu ombro. Foi com se uma enxurrada de emoções atravessasse sua pequena forma porque ela começou a chorar mais forte. Ela se virou e me olhou, seu rosto estava muito vermelho e grandes gotas de lágrimas caiam dos olhos verdes. "Amor fale comigo." Incentivei. Mas ela apenas chorava e se agarrou a mim como se sua vida dependesse disso. Sua cabeça descansou na curva do meu pescoço enquanto ela ainda soluçava, eu acariciava seu cabelo loiro.
"Por favor... Gwen... nunca... me deixe... me desculpa... eu não queria..." Ela tentou falar em meio a soluços.
"Shhh resolvemos isso amanhã querida." Acariciei sua costa e aos poucos ela foi se acalmando, apenas algumas fungadas preencheu o silêncio do quarto. Então me deitei novamente na cama puxando Brie comigo, nunca quebrando o abraço e beijei sua cabeça que descansou no meu ombro.
Levou apenas alguns minutos para que Brie dormisse, diferente de mim que naquele momento sofria de uma insônia. Minha mente estava muito ocupada repassando os últimos acontecimentos de hoje para perceber que eu precisava dormir. Mais uma vez Brie demonstrou seu lado ciumento e diferente das outras vezes quando ela demonstrava o ciúmes de uma forma mais amena, hoje ela me surpreendeu com a agressividade não direta.
Emille, Jada; nomes de mulheres que eram alvos do seu ciúmes apenas por fazerem contato comigo ou por me olhar mais que alguns segundos. Brie desaprovou qualquer amizade que eu tivesse com outras mulheres por mais héteros que algumas fossem e qualquer argumento contrário que eu tivesse ela me vencia listando 1001 motivos do porque amizades com outras fêmeas não dava certo. E ali enquanto eu a segurava finalmente eu descobri que a insegurança e medo de eu a deixasse algum dia lhe causava todo esse "zelo" de me manter "protegida" daquilo que ameaçava nosso relacionamento. Brie se tornou possessiva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Relação Mortal
FanfictionA que ponto o amor e ciúme obsessivo pode levar uma pessoa? Para Brie não tem limites e Gwen reconhece, mas talvez já seja tarde.