01. A Impressão que Bate Fica

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Hoje é o meu primeiro dia do último ano. Até que enfim! Confesso que nunca fui muito fã da escola, mas, pelo menos, consigo me manter acima da média.

- Bom dia, filho. - Meu pai entra na cozinha, já com a voz firme. - Pronto para começar seu último ano? - Ele nem espera eu responder. - Este ano, você vai continuar no time de futebol, mas também vai fazer aulas extras de cálculo. E, além disso, é hora de arranjar uma namorada. Passou o ensino médio todo farreando, mas agora precisa de uma garota para você.

Sinto um peso familiar se instalar no meu peito. Namorada? Aulas de cálculo? Eu só queria poder me dedicar à pintura, mas a voz autoritária do meu pai já cortou essa possibilidade.

- Desse jeito eu não vou ter tempo para as aulas de pintura...

- Já deixei você fazer essa aula no primeiro ano - ele retruca, cortante, como se minhas ambições fossem insignificantes.

Todo ano a mesma coisa. Ele quer que eu seja o melhor em tudo: nos esportes, nas notas, na vida. Sinto falta da minha mãe, que só me desejava um ótimo primeiro dia e me deixava ser quem eu sou. Vir morar com meu pai foi a pior escolha que fiz.

- Bom dia, Lolo! - Luiza, minha meia-irmã mais nova, entra na cozinha correndo e me abraça pelas pernas, trazendo um sorriso para o meu rosto.

- Bom dia, Lulu! - Pego ela no colo, sentindo seu perfume de lavanda. - Tá arrumada e cheirosa, parecendo uma princesa!
- Bom dia, Lorenzo! - Carina, minha madrasta, diz, calçando os sapatos. Ela sempre foi gentil comigo, me tratando como um filho. - Lorenzo, você pode levar a Luiza para a escola por mim?

- Claro, sem problemas! - Tento sorrir, mas ainda estou abalado pela conversa com meu pai.

- Muito obrigada. Vamos, querido. - Ela e meu pai saem, deixando a casa em um silêncio desconfortável.

- Já tomou seu café, Lulu?

- Ainda não.

- Então come logo pra eu poder te levar pra escola.

Luiza termina o café rapidamente, e eu pego as chaves do carro. No caminho, tento afastar as palavras do meu pai da cabeça, mas elas insistem em voltar. Será que ele nunca vai entender que o que eu realmente quero é pintar.

Chegando na escola, o caos de sempre. Carros para todos os lados, buzinas irritantes. Não quero que Luiza saia sozinha no meio desse tumulto, então procuro uma vaga para estacionar. Finalmente vejo uma se liberando, mas, ao tentar entrar, ouço um estrondo.

- O quê foi isso?! - Luiza pergunta, com os olhos arregalados.Olho pelo retrovisor e vejo o carro que acabou de bater em nós. Ótimo.

- Lulu, fica no carro. Eu vou resolver e já volto. - Minha voz sai mais firme do que eu esperava. Saio do carro e vejo o motorista, um loiro um pouco mais alto que eu, já me encarando.

- Você pode explicar por que bateu no meu carro? - Tento manter a calma, mas minha paciência está por um fio.

- Você ia roubar minha vaga. Eu fui entrar, e você me fechou! - Ele diz, tirando os óculos de sol e me olhando com uma mistura de irritação e arrogância.

- Eu te fechei?! Acho que esses seus óculos não estão ajudando! Eu não fechei ninguém.

- Não quero saber, você vai pagar pelo conserto do meu carro!

- Não, eu não vou! - Minha voz se eleva sem que eu perceba. - Você bateu em mim. Se alguém tem que pagar alguma coisa aqui, esse alguém é você!

- Você não sabe dirigir e quer que eu pague pelas suas burrices? - Ele dá um passo à frente, e por um segundo, eu sinto o sangue ferver.

No Diferente, Nos Encontramos (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora