Segunda feira
Não tem dipirona no mundo que resolva a dor de cabeça imensa que estou sentindo, talvez isso seja resultado da noite mal dormida ou excesso de trabalho.
Caminhei em direção a cozinha e peguei o remédio para dor de cabeça na caixinha de remédios
Engoli o comprido com certa rapidez, querendo chegar o mais rápido possível no banheiro, minha cabeça lateja de tanta dor e só uma ducha pode aliviar o incômodo.
A cama quentinha e o ar condicionado gelando o ambiente é a combinação perfeita para relaxar
Deitei na cama pra descansar e esperar o remédio agir , comecei a lembrar da minha infância, quando meus pais levavam eu e meus irmãos no pão de açúcar e depois nossa parada era na barraquinha de cachorro quente com tudo dentro.
Esses momentos não eram muito frequentes porque minha mãe e meu pai trabalhavam demais, fui criada mais por babás do que pelos meus próprios pais.
Meu irmão mais velho foi o mais sortudo em certos pontos, quando ele nasceu o restaurante era apenas o bar na praia de Copacabana e por causa disso, Jorge pode contar com a presença dos nossos pais, coisa que tive muito pouco.
Eu e minhas irmãs nascemos em outra época, época onde os dois trabalhavam demais mas reconheço que tudo isso foi para nos dar qualidade de vida.
O momento nostalgia acabou e decidi pegar o notebook para checar o e-mail Daniel não pode ir ao restaurante hoje mas ele disse que mandaria um anexo falando todas as informações essenciais sobre o filme.
Torci mentalmente pra não ter tantas páginas mas infelizmente minha torcida foi em vão, o anexo continha mais de quatro páginas.
Verão cinzento
O nome do filme é meio brega mas a história é interessante.
Uma jornalista vai passar as férias em Salvador e descobre que vinte anos antes houve uma chacina na pousada onde ela está hospedada e com o passar dos dias vai descobrindo que por algum motivo, ela tem ligação com essa tragédia.
Ivete é minha personagem, mora perto da pousada e será peça essencial nas descobertas da moça.
Mulher forte e de poucas palavras, olhar altivo e sabedoria para dar e vender, essa é a descrição de Ivete.
O bom é que dani garantiu que não precisarei atuar muito. Se me dedicar e tudo colaborar, em menos de duas semanas ele terá todas as minhas cenas gravadas.
A última página chamou minha atenção, nela estão todos os atores e atrizes, analisei o nome e personagem de cada um com demasiado tédio.
Mas quando li determinado nome precisei esfregar os olhos e ler repetidas vezes para ter certeza que não li errado.
Bruna Paiva
Confesso que gelei, Bruna é a atriz principal e será a única pessoa com quem terei interação em todo o filme
Mas que merda! O elenco recheado de gente, vou atuar ao lado de uma pessoa só... E essa pessoa tinha que ser ela?
Eu e Bruna estudamos juntas por longos onze anos, dos seis até os dezessete e posso dizer que nossa convivência nunca foi agradável, sempre foi péssima na verdade. Essa rivalidade começou na infância e se estendeu até o último ano do ensino médio.
Já sabia a profissão escolhida por ela, assisti alguns trabalhos seus e admito que talento como atriz ela tem.
Se eu desistir seria covarde da minha parte?
Óbvio que sim !
Tentei desencanar um pouco desse assunto e sair para caminhar na beira do mar.
A praia não está muito cheia, se tiver vinte pessoas é muito.
Decidi visitar alguém que me conhece desde menina, que viu a tianinha banguela correr e brincar pela areia da praia, pessoa que sempre ouvia minhas decepções amorosas e chororôs infinitos na adolescência.
- Sabia que estou com saudades da senhora ? - apoiei os cotovelos no balcão do quiosque
- Faço das suas palavras a minha, menina Tiana - dona Rita dando beijos estalados na minha bochecha
Rita trabalha há anos aqui na praia, proprietária do meu quiosque favorito lugar onde vende o camarão mais gostoso e de quebra, encontro conselhos melhores ainda. Dona Rita é a madrinha que escolhi para mim, amiga desde sempre e não importa a minha idade, para ela sempre serei a menina Tiana.
Conversa vai conversa vem, contei a ela sobre o filme e a questão da Bruna participar dele.
- Destino é uma coisa louca, você e a Bruna eram igual cão e gato, foi assim durante anos e agora trabalharam juntinhas. - o olhar de Rita era distante, como se lembrasse das incontáveis vezes que reclamei sobre minha inimiga com ela.
- A senhora acha que devo desistir ? - falei girando o canudo do refrigerante
- Escute Tiana, entendo a sua preocupação e é algo normal mas pensa só, você não convive com essa mulher a tanto tempo.
- Eu sei
- Você já tem trinta anos e ela também, aposto como pra ela toda essa treta já ficou no passado, na infância e adolescência de vocês.
- Pra mim também
- Então pronto. Não tem porque esquentar a cabeça com isso menina Tiana.
Refleti e vi que Dona Rita tem razão
Afinal de contas, o que pode dar errado ?
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Setenta e duas horas
Teen FictionTiana é uma bem sucedida empresária, administra o restaurante da família e tem uma vida pessoal tão tranquila que é de dar inveja a qualquer um. Toda essa tranquilidade acaba quando ela é convidada para participar do mais novo filme dirigido pelo se...