Caos, Farpas e Afins

Sentimentos, crise de ansiedade e beijo.

Recomendação: Solitude - Billie Holiday.

Já me senti atraída diversas vezes por caras diferentes, mas nunca me apaixonei de verdade. Para ser sincera, eu nunca experimentei aquele amor dos livros e filmes clichês. Eu nunca, nem mesmo experimentei as borboletas no estômago, ou então, as mãos tremendo e suando só de pensar em encontrar outra pessoa. Nem mesmo com Hui.

Com Hui as coisas eram no automático, praticamente tudo. Eu nunca me senti verdadeiramente eu quando estava com ele, e nunca senti coisas quando eu deveria estar sentindo. Sempre pensei que o problema pudesse estar comigo porquê poxa, Soyeon sempre descreveu sua relação com Yuqi justamente o contrário do que eu tinha com Hui. Era frustrante e triste para mim.

Mas isso tudo de não sentir nada em relação às pessoas mudou completamente quando comecei a passar um tempo com Shuhua. Eu não saberia dizer o que estava sentindo por ela com total convicção, mas sabia que o que eu sentia era muito mais forte do que já senti com qualquer cara com quem já estive. E admitir isso me deixava apavorada. Apavorada de verdade. Não apenas pelo fato de estar sentindo coisas no mínimo diferentes por uma garota. Eu sei que tenho que parar de pensar tanto e me deixar levar, mas as coisas comigo nunca são simples e eu me odeio por isso.

Eu nunca pensei em Shuhua desse jeito. Tudo bem que ela sempre me intrigou e me deixava bastante desconcertada, mas não era nada como sentir o meu coração acelerar só por vê-la ou querer estar com ela e tocá-la. Sentir coisas assim, ainda mais sendo uma garota, me deixava completamente em pânico, e eu me perguntava se Shuhua também se sentia assim. Mas a resposta era óbvia. Shuhua poderia ter quem quisesse, por quê ela estaria pensando logo em mim?

- Parece que vai sair fumaça de tanto que pensa. - me assustei com a voz de Soyeon bem na minha frente, que estava sorrindo do meu susto.

Bati a porta do armário em automático e tentei sorrir, mas acho que falhei miseravelmente. Era segunda-feira, início da semana, e rapidamente me lembrei que teria que me encontrar com Shuhua alguma hora. Suspirei fortemente.

- Tudo certo? - ela perguntou preocupada, se encostando no armário, bem ao meu lado.

- Tudo certo. - balancei a cabeça tentando soar confiante, mas Soyeon me conhecia tanto que, no mesmo instante ela soube que não era verdade.

- Sabe que pode me dizer, não é? - ela fez um carinho gostoso em meu braço. Assenti. - Algo com seus pais?

Neguei com a cabeça, sendo realmente sincera dessa vez. Eu odiava deixar Soyeon preocupada, porquê, de alguma forma, ela era a única pessoa que conhecia a bagunça que eu sou e caramba, ela se sobrecarregava muito com meus problemas e acabava se esquecendo dos dela.

- Você ama Yuqi? - eu perguntei seriamente, fazendo ela abrir a boca em surpresa. Nós não conversávamos muito sobre seu namoro, então acho que a deixei desconcertada pela pergunta repentina. De qualquer forma, ela não deixou de me responder, passando as mãos pelos cabelos.

- É claro que a amo. - ela sorriu. - Se não a amasse, não faria sentido estar com ela, certo?

Não sei. Eu estive com Hui por tanto tempo, no automático, sem sentir nada, que costumava a pensar que as pessoas ao meu redor também não sentissem. Eu não tinha um grande exemplo, afinal. Sei que meus pais só estavam juntos por comodidade. Eles não se amavam e qualquer pessoa poderia perceber isso de longe.

- Não teria como eu saber sobre sentimentos assim, de qualquer maneira. - Soyeon levantou a sobrancelha em alerta. - Acho que você e Yuqi são o mais próximo de amor que eu já cheguei. Mas, por favor, me responda sinceramente, vale a pena se apaixonar quando você não poderá contar á ninguém sobre seus sentimentos?