Amélia - Um amor e nada mais.

Discórdia

Amélia Armstrong cresceu flutuando em doces sonhos de amor, onde ela era uma princesa guerreira, sempre com o mais belo dos príncipes pronto para lhe entregar seu coração. Mas a realidade sempre nos puxa de volta para nossas vidinhas tediosas, onde os príncipes habitam a Terra do Nunca e o amor é confundindo com o desejo. Onde Amélia deixa de ser princesa e volta a ser uma menina magricela.
Verdade seja dita, sua beleza não era a ideal. Alta e tão magra que a cabeça e os pés pareciam desproporcionais ao resto do corpo. As crianças riam dela e os adultos sentiam pena pela menina ser tão feia, e até mesmo suas amigas a humilhavam por sua magreza. Mas nada doía tanto quanto ser desprezada pelo garoto por quem era apaixonada por não ser bonita, e observar ele se juntar aos outros para ridiculariza-la.
"Não é fácil se apaixonar. E se pelo menos eu tivesse um corpo mais bonito, Jhonatan seria meu na mesma hora, ele cairia aos meus pés!" pensava Amélia, sorrindo convencida, quando os gritos trouxeram ela de volta para a realidade.
Os gritos eram frequentes em casa, e dessa vez vinham da sala:

- Não, não... não pode ser, eu não acredito que você fez isso... - seu pai lamentava.

- E qual é o problema? Eu sou livre pra fazer o que eu quiser na hora que eu quiser! Você não é meu dono! - rebateu sua mãe.

- Mas você pensou nas crianças antes de sair por aí fazendo o que te dá vontade? Você lembrou delas?

- Ah! Não venha jogar as crianças na nossa conversa! Você faz isso pra me chantagear, pra me forçar a fazer o que você quer!

- Não estou tentando te forçar a nada, Elle, eu só não quero que você afunde essa família...

- Não me chame de Elle, para você é só Elleanor. E isso não é mais uma família! Você não vê? Já não te vejo mais como meu marido, sou sua mulher somente no nome...

- Não me vê como marido porque já encontrou outro para me substituir! - irrompeu ele.

- Sim, eu encontrei outro, um que me ama e não como você que se casou comigo amando outra e que ainda a ama!

Ele riu ironicamente. E ela respirou fundo, para arejar a mente.

- ...Gerald, nós só fazemos brigar, a todo momento e por qualquer ninharia! Isso não é vida, nem para mim nem para você. Também não é bom para os nossos filhos.

- Agora que é conveniente, você se lembra deles. Devia ter se lembrado quando estava me traindo. - ele olhou desafiador para ela - você nega, Elle? Nega que me traiu?

- Não nego, e não me arrependo. - ele a olhava enfurecido, mas ela se manteve firme - Você não me deixaria ir embora e foi a saída que encontrei para ser feliz em meio a toda essa desgraça que sempre foi a minha vida!

- É livre para ir agora. - e depois de dizer isso, o Sr. Armstrong olhou consternado para a esposa e se retirou do aposento.

A Sra. Armstrong se rendeu em uma poltrona e desatou a chorar.
Ultimamente essas brigas ficavam cada vez mais frequentes. Os pais brigavam e se machucavam mutuamente enquanto os filhos se encolhiam pelos cantos, confusos.
Amélia tinha dificuldade em entender como duas pessoas tão boas eram capazes de causar tanto sofrimento um para o outro.
Os dois tinham bom coração e vontade de fazer o casamento dar certo, mas a imaturidade sempre cobra seu preço. Para Amélia, as brigas pareciam ser sempre causadas por outras pessoas que se envolviam na relação dos dois.
Isso deixava ela descrente no amor.
Mas agora ela não sabia se ficava brava com a mãe por trair seu pai; não sabia se podia tomar o partido do pai porque, afinal, ele realmente alimentava um amor platônico por outra mulher. Então ela fez tudo o que uma menina de 12 anos consegue fazer: se escondeu no grande jardim e chorou até esquecer dos problemas, e quando a calmaria serenou e a vida voltou a ser bela, ela retornou para casa. Há essa altura o senhor e a Sra. Armstrong já tinham se acalmado, os poucos criados da casa fingiam não saber de nada e a família se sentou para jantar, comendo serenamente enquanto os corações sangravam.