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-Não sabes?- disse rindo de forma seca- Então vou te contar!

Olhei para ele. O rapaz aproximou-se da minha cadeira, sempre olhando para mim.

-Eu sei quem tu és. Sei o que tu és, e também sei que sabes muitos segredos sobre as "transações" que o teu pai fez e vai fazer. Por isso, se não queres morrer aqui, sozinha, vais me contar tudo o que sabes, e talvez, vejas o sol de novo.

Finalmente confirmei as minhas suspeitas. É claro que os negócios do meu pai tinham de ser a razão de eu estar aqui. Mas como iria eu sair dali, se simplesmente não sabia nada sobre as coisas que o meu pai tramava? Tinha de pensar em algo que me pudesse tirar dali. Enquanto ele se afastava e voltava a caminhar, pensava nas conversas entre o meu pai, e alguém ao telefone, que ouvia às vezes. Eles falavam numa espécie de códigos, mas ao longo do tempo fui percebendo o que aquilo era. Simplesmente tinha nojo do meu pais e dos seus compradores e negociadores, por isso nunca quis saber mais sobre aqueles telefonemas estranhos.

-Eu sei algo sim, mas tem um pequeno preço.- disse, erguendo a cabeça. -Se me libertares, e me deixares comer e tomar um banho, eu conto-te tudo aquilo que eu sei. Prometo que não fujo.- fiz figas. Pensei muito bem antes de dizer isto. Não era que eu não gostasse do meu pai, eu só queria que ele fosse preso por todo o mal que fez ao nosso país. Ele não parecia muito convencido, começou a caminhar em direção à porta, como se fosse sair. -A informação que sei pode ser-vos muito útil- disse sorrindo, num ato de desespero total.

Ele deu um passo atrás, e olhou para mim de lado, como que indeciso, mas continuou a andar, ate sair da sala.

Passado algum tempo, voltei a escutar vozes. Não consegui entender do que a conversa se tratava, mas tinha a certeza de que estariam a falar da minha oferta. Nunca pensei em denunciar o pai. A minha família não precisava de mais desgostos, simplesmente estávamos destruídos, quebrados em peças. A minha mãe enlouqueceu quando os negócios do meu pai vieram à tona, e pediu o divorcio. Desde esse ano que nunca mais a vi. Ao divorciar-se do meu pai, divorciou-se de mim e do resto da família ao mesmo tempo. Quando ela foi embora, fiquei à guarda do meu pai e da minha família paterna. Uns meses depois, o meu pai estava a ser processado e acusado de corrupção e de desviar dinheiro. Infelizmente a família toda era conhecida a nível nacional, e isso trouxe os insultos e ameaças atras. Passado algum tempo já nos tínhamos habituado. Houve uma altura em que pensei que talvez o meu pai acordasse para a vida e simplesmente parasse com as ilegalidades fiscais. Mas não, todos os anos, alguma acusação nova aparecia. Sei que o meu pai gostava muito de mim, pois era a sua única filha, mas nem assim ele parou de me desiludir.

Voltei a ficar sozinha naquela sala. Depois de algum tempo, ainda a processar o que se estava a passar, deixei de ouvir as vozes. O silêncio instalou-se naquele pequeno cubículo onde me tinham enfiado. A cada minuto que passava, sentia-me mais fraca. Não sabia há quanto tempo eu estava ali, presa. Comecei a tentar lembrar-me de como me tinham raptado. existiam pequenos fragmentos de como tudo tinha acontecido na minha mente. Mas ainda não era nada muito concreto, apenas pequenos flashbacks daquela noite fria e chuvosa de novembro. Após algum tempo, comecei a sentir me zonza

(..)

-Tens a certeza de que ela sabe algo?..

-Não, mas pode ser que diga algo útil, e a esta altura do campeonato qualquer coisa pode servir de informação...além disso precisamos dela viva para recebermos o resgate.

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⏰ Last updated: Oct 04, 2020 ⏰

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Resgate em New YorkWhere stories live. Discover now