Summer after high school, when we first met
Aconteceu muito rápido. Enquanto eu passava por cima de uma, outra onda já quebrava. E então ela me engoliu e arrastou para a areia.
Quando olhei para cima, uma menina loira estava lá. Olhando para mim. Sem me importar me levantei, e ela continuou me seguindo com o olhar.
Ela não estava com roupa para um suposto calor. Então deduzi estar frio. Mas com um Sol desse?
Olhei para trás, ninguém. Para o lado, também não tinha ninguém. Nem no outro, nem em cima, nem embaixo. Só eu e ela.
Me joguei na areia e fingi estar tendo uma convulsão. A menina correu para me ajudar. E tocou meu braço. Na mesma hora me levantei com o susto. Ela me olhou sem entender.
___C-c-como? - me vi andando para trás - Você consegue me ver?
___Claro? - falou ela pela primeira vez.
___Fique aqui.
E então corri até o restaurante mais próximo. Não era possível.
Num instante já estava no meio de muitas pessoas. Tentei tocar as costas de uma, mas minha mão atravessou. Assim como atravessou o ombro e a cabeça de outro. E ninguém parecia me notar ali.
Suspirei aliviado. E me teletransportei até onde a garota-loira-que-pode-me-ver estava.
Quando me viu chegando do nada ela deu um pulo para trás.
___O que diabos está acontecendo? - ela perguntou com o cenho franzido.
Fui para seu lado e passei o braço pelo ombro dela. Comecei a andar e levei-a junto.
___Qual seu nome garota-loira-que-pode-me-ver?
Perguntei e ela olhou para mim. Seus olhos eram cinzas como uma tempestade, fios de seu cabelo loiro caíam sobre seu rosto. De longe a garota-loira-que-pode-me-ver mais bonita que eu já vi. Bom, a única garota-loira-que-pode-me-ver que eu já vi, na verdade.
___Annabeth Chase.
Annabeth Chase.
___Mrs. Chase, você está morta.
Ela parou de andar, como se eu tivesse dito que alguém morreu. Oh, eu disse.
Annabeth começou a rir. Soltou uma alta e gostosa gargalhada, talvez se alguém pudesse nos ouvir ela teria até acordado os peixes.
Ela abriu mais meus olhos com o dedão e o indicador como se quisesse achar algo neles.
___Maconha não é... - murmurou.
___O que?
A garota-loira-que-pode-me-ver me olhou com pena, como se lembrasse de algo.
___Oh, me desculpa, você está com câncer, né? Tão novo... Já deve estar numa fase avançada, tem até alucinações. Que pena, você parecia um cara legal.
___O-o que? Não, eu não estou doente e eu não uso nenhuma droga!
Ela riu.
___É o que drogados e doentes dizem.
___Ok, drogados e doentes fazem isso?
Água do mar jorrou em sua cara. Ao mesmo tempo que mais água surgiu fazendo arcos ao seu redor.
E ela não se molhou.
Annabeth tocou seus braços, barriga, perna, cabeça, nada molhado.
___Oh, você me drogou também - sentou-se na areia e apoiou seu rosto nas duas mãos como se tivesse preocupada.
___Não se preocupe, não é tão ruim estar morto.
___Eu não estou morta, falei com meus pais a uma hora atrás.
___Você morreu no caminho.
Ela balançou a cabeça.
___Não acredita? Então me segue.
___Por que eu seguiria um drogado?
___Eu não seguiria um. Agora vamos.
Finalmente deixou de hesitar e me seguiu.
Chegamos ao mesmo restaurante que eu passei assim que ela chegou.___Agora tenta tocar alguém.
Me olhou como se eu fosse louco. Então fiz antes que ela enrolasse muito. Passei minha mão pelas costas de alguém. Ela atravessou.
Assustada, Annabeth fez o mesmo. E obviamente o mesmo aconteceu.
Daí ela saiu dando peteleco em todo mundo, inutilmente.___E como eu e você conseguimos nos tocar?
___Nós somos fantasmas. Nós. Mesma espécie.
___Isso significa que eu também sei fazer aquilo com o mar? - pergunta enquanto saímos do restaurante.
___Provavelmente não. Eu morri no mar. Minha alma está conectada a ele. Por isso faço aquilo.
Ela me olhou surpresa. Bom, eu morri a bastante tempo, eu devo ter ficado assim também. Aliás eu descobri tudo sozinho. Foi pior.
___Achei que a gente meio que não gostava de onde morremos.-fala
___Isso porque nós levamos a morte como uma coisa muito ruim. Não algo natural. Quero dizer, a vida é boa e tem que ser aproveitada o máximo possível, o pior da morte é morrer arrependido. E não puder mais fazer o que queria quando vivo.
Annabeth não falou nada por alguns segundos. Até que pergunta:
___Vocês tem uma seita ou algo do tipo?
___Nós... Fantasmas? - me viro para ela, que assente - você é a primeira da minha "espécie" que eu conheço.
___Onde você mora?
Apontei para a imensidão azul a nossa frente. O oceano.
___Sério? Como você come, dorme? - ia falar mas ela me interrompe - Isso, você é um fantasma. Não faz essas coisas... Humanas...
Assenti.
___Hm, vocês tem... sentimento?
___Os sentimentos estão conectados a nossa alma, e nós somos tecnicamente, almas.
Estávamos quase dentro do mar. A água atravessava nossas canelas.
___"Nós"... Agora, eu estou, morta! Literalmente do nada. - Annabeth virou-se minha direção - a propósito, qual seu nome?
Voltei a olhar para o Mar.
___Percy Jackson.