Até que a morte nos separe

C A P Í T U L O 3

SABE AQUELE DIA EM QUE VOCÊ, olha para todos os lados e mesmo que sua casa esteja uma bagunça, ou que tenha diversas matérias em pendência na faculdade, o seu cachorro e o gato da sua melhor amiga estão quase matando um ao outro. E mesmo assim você se vê sem nada pra fazer, pois é, eu estou COMPLETANENTE ENTEDIADA, se o mundo acabace em barrancos eu desceria rolando, está vendo, estou até delirando.

Não faz meia hora que chegamos da faculdade, mas parece a eternidade.

Amália me deixou em casa e foi ao super mercado comprar alguns mantimentos, eu precisei que ela me deixasse em casa porque precisava ler alguns livros para começar ou tentar começar minha tese sobre literatura moderna, mas quando o meu tedio e minha preguiça se juntam eles se tornam invencíveis.

- Amiga, eu fui e voltei e você continua aí na mesma posição. Deu comida para Lispector e Godofredo? Iniciou sua tese? Tentou arrumar aquele chiqueiro que você chama de quarto? - Questionava Amália enquanto separava os nossos bichinhos para que não acontecesse algo trágico. Eles ficam um pouco irritados um com o outro quando sentem fome, como dizem: os animais são semelhantes aos donos.

- Minha pregritedio não deixa, me desculpa mamãe. - Fiz graça de suas perguntas.

Nossa amizade é assim, acho que por conta do que aconteceu com minha mãe e meu pequeno início de depressão por culpa de sua morte. Minha amiga acabou pegando minhas dores e desde então ela e sua mãe fazem o papel de mãe pra mim.

- Preguitedio? Vamos, saía desse sofá, Christian nos convidou para uma festa no apartamento de um amigo dele - disse cantarolando e me puxando do sofá - Já vou avisando que irei me arrumar primeiro. Me levantei em um pulo.

- Nada disso, você demora séculos arrumando esse cabelo.

- Deixe de drama até você achar qualquer roupa no seu chiqueiro, eu já estarei no carro com os meus maravilhosos e definidos cachos perfeitamente arrumados - argumentou já desfazendo seu coque e caminhando até seu quarto.

Garota metida, mas é verdade eu demoraria horas para achar uma roupa bonita e limpa, na bagunça que estava o meu quarto. Mas não vou aceitar sua argumentação e sair sem nada nas mãos.

- Eu posso até aceitar o que disse com uma única condição... tem que me deixar ir com a bota que de dei de aniversário. Se não me der vou entrar naquele banheiro neste exato momento, tomarei banho e irei a festa, pelada - disse o mais séria possível. Ela começou a gargalhar e eu também.

- Você é ridícula sabia? Irei te emprestar a bota, quando comprou um número a mais e disse que tinha esquecido o meu, sábia que tinha comprado pra você.

- Garota para de inventar coisas, ela serve tão bem em você, não sabe que temos que comprar sempre um número a mais que o tamanho do nosso pé ao comprar uma bota, é uma regra da moda confortável.

A verdade é que... era verdade quando vi a bota pela primeira vez, senti como se tivesse encontrado a minha lagosta (entendedores entenderão). Irei contar nossa breve e trágica história:

"Ela era linda de couro, bico fino, cano longo até os joelhos, salto fino um pouco mais de 10 cm, estava na promoção, restava apenas um único par e era o meu número de calçado, foi o destino. Me imaginei com aquela belezura, apenas eu e ela por toda a eternidade, passeando por diferentes lugares de preferência os meus preferidos, o melhor para a melhor, pensei. Estava a caminho de casa com minha mais nova aquisição em mãos, até que meu celular apitou anunciando uma mensagem de meu pai, o pequeno texto escrito na tela do meu celular me fez sentir uma das piores sensações que o ser humano pode vir a ter na vida, meu pai havia me lembrado que o aniversário de Amália seria dali 2 dias e que deveria comprar algo para dar a minha amiga. Eu sempre fui ruim para lembrar datas especiais ou qualquer coisa que envolva números, era difícil lembrar do meu próprio aniversário, (mas isso não vem ao caso, estou fugindo da história). Tinha gastado todo o meu dinheiro em minha preciosa bota, precisava dar um presente a minha amiga e meu pai se recusaria me dar mais dinheiro por minha falta de responsabilidade. Então o que fiz foi um verdadeiro ato de amor... dei minha preciosa a Amália."