perdoe-me, pai.
eu pequei.sou a princesa com olhos petrificados e consciência pesada, ainda me recupero da coluna fraturada, e percebo que fostes o primeiro a notar que caí das nuvens. não tentei ocultar o fato de que voltei com queimaduras profundas e que meu ser foi mutilado pela moléstia das chamas paradiacas, então não sinta-se especial.
sim, o céu pegou fogo.
mas não foi minha culpa, eu juro.como eu poderia adivinhar que andar por aí com duzentas e vinte e nove velas é arriscado? principalmente, quando as velas estão presas ao meu espírito que, depois da meia noite, acha que qualquer sorriso falso é convincente o suficiente para ser gravado aos quatro ventos junto às minhas cinzas.
sorrisos falsos como lágrimas indesejadas, tais quais embaçaram minha visão quando o vi atravessar luzes imersas pela primeira vez.
perdoe-o, pai.
ele pecou.eu poderia rir e fingir que nunca o vi ascender aquele fósforo perto de mim, ou, para ser mais específica, dentro de mim. a carniça, impiedosamente, foi estilhaçada e o buraco no meu peito, o qual sempre venho reclamando, já não era mais uma simples metáfora superficial para poupar uma explicação extendida.
a última coisa que pude sentir foi o conjunto de caninos metais perfurar um nervo, em seguida as chamas reinavam o breu.
tudo que sei é que sua mordida ainda está marcada em minha pele por vestígios avermelhados, indicando que durou bem mais do que deveria.
perdoe-nos, pai.
mas aquilo foi muito bom.
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sobre monstros enjaulados.
Poetryesperamos que você engasgue com sua sabedoria. (𝟗/𝟐𝟎𝟐𝟎) poesia.