xícara azul

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  Estou começando a escrever isso às oito da manhã, hora do nosso café.
Eu ainda me sento na cadeira de madeira, enquanto pensava em você no nosso café em outras épocas se você já tinha se aprofundado nos seus pensamentos alegres.
Eu contava as minhas histórias, você sorria e ria. Era tudo tão amarelo, fazia eu me sentir bem.
Suas mãos, extremamente, delicadas envolviam a xícara azul. As vezes eu me perguntava se você gostava mais da xícara, já que tomava todo cuidado que possuía no seu corpo para não quebrar ela, mas não tinha tamanho cuidado para partir meu coração em brigas imaturas. As brigas já se foram, junto com você. Talvez você tenha levado junto contigo as rosas e a sua xícara azul, já que eu não achei elas quando tu falecera.
Azul era a sua cor favorita, você me contou no nosso primeiro encontro. Naquela época, você era quente como o azul, sempre tinha um sorriso estampado no rosto.
Ainda me lembro da manhã fria de 88, você tagalerava sobre o azul ser, na verdade, a cor mais quente.
Nosso café da manhã era sagrado. Nos amávamos e dávamos risadas nele.

Já é verão, estamos em 2001, faz um tempo desde que você morreu. Sempre visito o seu túmulo, costumo sentir a sua presença todos os dias. Penso muito em você, deixo reservado uma hora do dia para chorar, assim não pago uma de viúvo triste! Isto foi para rir, meu amor. Espero que você tenha dado risada, eu adoro ela.
A cama parece maior sem você nela, a casa aparenta estar muito grande, e o jardim parece ter perdido a vida. Está faltando a alma alegre da casa. Suas rosas murcharam, não se contentaram com o meu amor, apenas.
Tenho muitas saudades. Os dias parecem ser pequenos e entediantes.
Sempre tomo café às oito, bebo meu chá com a sua xícara. Espero que não se importe, mas eu ainda sinto o aroma do seu enxaguante bucal favorito nela.
Aguardo o meu fim, pacientemente. Quero te ver logo, sinto falta dos seus beijos.
Vou deixar esta carta no seu túmulo.
  Azul é a cor do nosso amor, já que, como a Lua e o mar são de tal cor e são inseparáveis, nosso amor é igual.

                          Eu te amo incondicionalmente.
                            Carta destinada à Peter De Noir.
                                   Com amor, Harry Renault.

🦋; textos de uma garota que quer ser arte.Onde histórias criam vida. Descubra agora