Minha garganta estaca seca. Eu precisava beber água para aliviar a irritação intensa na laringe por falta de hidratação com o calor violento do verão. As gotículas de suor na minha coluna e testa escorriam como as águas de uma nascente. Se a temperatura estava bem alta dentro da escola Dom Pedro, imagine a situação lá fora. Mas a ventilação dos dutos que eu tanto sentia falta não funcionava.
Eu odeio isso.
Para muitos turistas que vêm para Santa Justina, os raios ultravioletas fortemente do sol não eram um incômodo. Um lindo bronzeado a mercê dessa estrela era algo que a maioria apreciava. Já os moradores sofriam com o calor devastador. Culpa do aquecimento global.
E odeio o verão e amo o inverno. Nada melhor que dormir com o som da chuva e friozinho acolhedor.
Com a permissão da professora, atravessei a porta da sala de aula sem pressa até o bebedouro no canto do corredor. O local estava vazio. Nem mesmo o faxineiro rabugento fazia seu trabalho rotineiro naquele momento, quando todos se encontravam em horário de aula.
Sasiava minha sede tranquilamente quando senti a presença de algo, ou melhor, de um sujeito nada conveniente atrás de mim.
- Olha Leonardo, se você veio perguntar novamente sobre a Scarlett, - comecei ainda de costas já tendo consciência do que se tratava. - não, eu não sei onde ela está.
Virei-me para encarar o garoto que carregava um sorriso travesso no rosto. Reprimi a vontade de rolar os olhos diante daquela situação que se repetia com frequência.
A prima dele, Scarlett, estava sumida, e isso não era novidade nenhuma. Ela vivia dando fugas para Deus sabe onde. E como a garota não era uma das melhores companhias do mundo, tinha somente eu como amiga. Isso fazia com que ele pensasse que eu soubesse de alguma coisa. Mas eu não sabia de nada, é claro. Não era tão próxima da garota para saber de tudo da vida dela.
- Calma, eu só vim beber um pouco d'água. Há algum problema nisso? - retrucou descaradamente. Até que sua poderia ser verdadeira. O coitado deveria estar mesmo com sede, um vez que o calor faltava pouco para ser insuportável.
Mas estamos falando de Leonardo Barreto, não é mesmo?
Não era somente o garoto mais conhecido da instituição, como também a pessoa mais amigável de todas. Pelo menos era o que a maioria das pessoas acreditavam. "Leo" era amigo de todo mundo. Desde o faxineiro rabugento, ao insano diretor corcunda de Notre Dame. O cara era sinistro. Sua coluna protuberante e a voz esganiçada, até a tentativa de sorrir, me dava calafrios.
Era intrigante um ser simpatizar-se com aquele maluco; com exceção de sua mãe, é claro.
Eu não entendia. Não conseguia entender essa paixão que todos sentiam por esse garoto. O tratavam como um santo, que de santo não tinha nada. Era irritante e tapado.
Talvez sua aparência fosse um ótimo bônus. O desgraçado era bonito. Eu tinha que admitir.
Seu corpo atlético e sua pele lindamente acobreada ao natural destacavam seus olhos cor de amêndoas maduras. Os olhos que seduzia qualquer garota boba distraída. O cabelo castanho escuro sempre penteado com desleixo, o tornando ainda mais... Leonardo.
Leonardo era uma obra prima como os quadro renascentistas de Leonardo.
- Não, mas cara, você me importuna com isso até quando eu vou ao banheiro, pelo amor de Deus! - exclamei cruzando os braços, prestes a sair quando senti sua mão quente pousar em meu ombro. Girei o corpo para encara-lo.
- Faz três dias que eu não tenho nenhuma notícia dela - murmurei as mesmas palavras que eu lhe dissera ontem, hoje e agora. Além de irritante era insistente. - Eu me lembro de vê-la em umas fotos na festa do Rodrigo, e depois desse dia, não a vi outra vez. Ela parecia muito bêbada.
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Susana
Teen FictionNão acreditar no amor por algum momento catastrófico que ocorreu na sua vida, não é o que acontece com Susana. Ela não acredita no amor por simplesmente nunca ter vivenciado um romance de verdade. Mas o que ela não sabia era que estava absurdamente...