This City

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Desde o momento da decolagem até a aterrissagem, Taehyung repassou mentalmente que não haveria ninguém esperando por ele quando chegasse.

Mas do mesmo modo, aquela fatídica realidade o estilhaçou como quase nada no mundo ainda era capaz de fazer, porque, em algum lugar no meio de seus pensamentos negativos, existia uma parte que achava inaceitável não haver mesmo uma alma viva no aeroporto, ansiosa pela sua volta à Seul após dois anos em Busan.

Era uma mentira, claro. Ele sabia que era.

Taehyung verdadeiramente tentou, com um total incalculável de empenho, repelir esse pequeno pedaço de confiança que, de alguma forma inexplicável, não se extinguiu como os seus outros sentimentos bons e, ingênuo, consentiu com a perseverança dessa resistência.

No entanto, esse humilde e indesejado fragmento de esperança foi capaz de se fortificar sozinho até que não houvesse mais racionalidade o suficiente apta para demolir suas, agora inabaláveis, defesas.

Então, ele se apoiou tolamente naquela ilusão originada por suas expectativas como se ela fosse uma verdade imutável.

Imbecil foi como se sentiu ao descer daquele avião e não encontrar nenhum rosto conhecido, mesmo que olhasse de um lado para o outro diversas vezes, ainda convicto de que aquela fantasia há pouco elaborada tivesse veracidade.

Taehyung foi um idiota por crer, durante mais que um milissegundo de um súbito desejo doloroso, que poderia existir alguém determinado a amá-lo. Permitiu que o sentimento da boa ansiedade crescesse desmedido, apenas para que seu faz-de-conta fosse miseravelmente desmentido, e todo o resto de felicidade que tinha se dissipou como sal na água.

Ele queria acreditar, só durante alguns instantes, quem sabe algumas horas, que era importante para qualquer pessoa. Mas saber que isso era só sua imaginação, na verdade, nunca apresentou sequer um empecilho além da sua negação dos fatos.

Taehyung não poderia ter um alguém quando ele mesmo não era ninguém.

Quando finalmente conseguiu convencer a si mesmo de que ninguém aparecia para vê-lo e derrotou a única ponta de excitação que poderia ter, ele foi embora, sem olhar para trás. Sem se arriscar com a triste visão de como todos os passageiros que decolaram tinham uma pessoa especial lá, aguardando por eles.

Momentos deploráveis como aqueles, de decepção e melancolia, sempre traziam uma terrível nostalgia das festas em família que Taehyung ainda detestava, visto que, embora alguns de seus parentes não realmente nutrissem um enorme afeto uns pelos outros, eles ainda choravam como bebês em seus reencontros, tal qual já foi mencionado.

Ele não entendia. Por que seus parentes, que eram pessoas tão ruins, tinham alguém sempre esperando para vê-los, mas ele estava eternamente sozinho?

Talvez Taehyung também fosse uma pessoa ruim. Ou somente muito estúpido.

Qualquer que fosse o problema que imaginava ter, ele o ignorou, e rumou deprimidamente até o vazio de sua casa.

Era um lugar grande, agradável, atendia a todos os seus gostos pessoais e tinha uma boa localização. Contudo, uma boa morada não necessariamente tornava ela um lar; não na concepção de Taehyung.

— Cheguei — ele avisou, sendo recepcionado pelo arrebatador silêncio que residia ali, cortado apenas pelo som das folhas, da árvore na sua janela, se chocando umas contra as outras, como consequência de uma amena ventania fora de época. — Mas ninguém liga, né?

Sem outras opções perceptíveis em seu ponto de vista desanimado, Taehyung tomou um longo e demorado banho, que poderia possivelmente apagar os últimos rastros de sua tristeza. Uma missão completamente fracassada, por sinal.

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⏰ Última atualização: Nov 01, 2020 ⏰

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