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Vida número 4:

Talvez eu ache importante começar por essa vida, não é o começo de tudo, porém, gosto de lembrar dela.

Nessa vida, eu pude ser alguém que ela amou, alguém que ela abraçou e beijou, eu fui o seu gato.

Em determinado ponto, eu nasci novamente, nunca me lembrando da minha identidade, ou de quem eu algum dia fui, não diria que eu era amaldiçoada, gosto de dizer que eu tenho um propósito.

Meu propósito é sempre estar ao lado dela, e foi o que eu fiz, fiquei ao seu lado o quanto eu pude, durante 16 anos, o tempo que durou minha pequena vida.

Eu lembro vagamente de estar em uma caixa, quando senti um cheiro que me atraiu, e eu segui, até bater em algo duro e comecei a arranhar, até sentir mãos quentes ao meu redor, as mãos dela, a melhor sensação do mundo era seu toque, e eu aproveitei cada segundo.

Lembro de quando ela me serviu leite em uma vasilha rosa, e me deu um novo nome, Nila, foi como ela me chamou, e toda vez que ela me convocava, eu aparecia, ela tinha apenas 10 anos na época.

Quando ela fez 16, toda a vez que ela chorava, eu me juntava a ela, toda vez que ela se relacionava com alguém, eu me deteriorava, porque nunca ia poder ser eu, aquela que ficaria ao seu lado.

E então, quando ela entrou na faculdade, com 19 anos, eu fui deixada de lado, eu sentia tanto a sua falta, minutos se transformavam em dias, e cada um que passava, fazia arder mais a saudade em meu peito.

Foi nesse mesmo período que ele chegou, vamos supor que eu não sabia o nome dele, mas ele a machucou, e consequentemente, eu sofri, cada erguida de mão, cada abuso, cada forçamento, era algo que me matava, ela só vivia a chorar, e eu não poderia oferecer nada mais além de lambidas insignificantes.

E quando ela se formou, foi no mesmo período que eu parti, nunca consegui descobrir o final daquela vida dela, acho que me poupou sofrimento no fim.

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