Ava Bittencourt
A vida sempre foi um grande desafio pra mim, desde que me entendo por gente tudo foi extremamente complicado, eu era uma adolescente de 15 anos, com pais separados e pra ajudar filha única, minha relação com eles nunca foi as mil maravilhas, mas com minha mãe as coisas eram ainda piores, isso me afetava de uma forma que eu não sei explicar, tínhamos algumas conversas mas não passava disso. Eu questionava tudo o que ocorria comigo desde que comecei a entender a vida, tudo que aprendi até hoje foi com minha avó mãe do meu pai, não tinha muita convivência com os parentes da minha mãe por que após meu nascimento ela me isolou do mundo dizendo que seria melhor assim.
Eu sentia falta de ter alguém pra dividir meus momentos conflitantes, ter alguém pra me dar conselhos, alguém pra estar ao meu lado quando eu somente queria sentar e chorar por que nada parecia bom o suficiente pra mim, eu tinha alguns amigos, tinha meu pai, meus tios, porém eu queria ter esse relacionamento com a minha mãe, só que isso não era possível, dona Esther nunca abaixou a guarda desse jeito, eu chegava até pensar que minha mãe nunca me amou pela forma que ela me tratava, mas eu ia levando, após chorar mais uma noite pensando em tudo o que havia comigo eu adormeci.
Acordei em sobressalto na madrugada, toda noite era assim, eu acordava como se tivesse algo me sufocando, nunca dormi uma noite bem, eu sempre despertava assustada e isso acabava comigo, chovia bastante trazendo um vento gélido, os galhos batendo na janela deixava tudo mais assustador ainda, sempre fui medrosa, mas nunca tive o colo ou a cama da minha mãe para me proteger, para ajudar eu tinha entrado em meu período, o que me fazia ficar ainda mais melancólica, resolvo descer para a cozinha para tomar um chá, o sono não vinha de jeito nenhum mesmo, após a água ferver eu me sentei na bancada observando a chuva furiosa lá fora.
__ Perdeu o sono ?
Dou um salto do lugar ao ver minha mãe parada na porta da cozinha.
__ Me assustou.
__ Desculpe.
Ela entra, pega água na geladeira e senta em minha frente.
__ Tive um pesadelo.
Suspiro olhando pra minha xícara.
__ De novo Ava ?
__ Sim mãe de novo, infelizmente eu não posso controlar essas coisas.
Fico em silêncio, mas sinto que ela está me observando, eu só queria ter um momento tranquilo com ela, mas ela não facilita.
__ Você está certa filha me desculpe.
Olho pra ela sem entender, analiso seu rosto pra ver se tem alguma pegadinha ou algo do tipo mas tudo o que eu encontro é uma tristeza profunda.
__ O que houve mãe ?
__ Nada por que ?
__ A senhora está estranha.
Ela suspira.
__ Não é nada, eu vou deitar.
Ela ao menos me deixa acabar e some das minhas vistas, era difícil ela me dar espaço para conversa, por isso nossa relação era dessa maneira, tomo algumas xícaras de chá e subo para meu quarto, eram exatamente 5:30 da manhã, eu não queria ir para o colégio de maneira alguma então me deitei e acabei adormecendo, acordo sentindo meu corpo ser balançado levemente, minha mãe está parada ao meu lado, tá legal isso está bem estranho.
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Construindo Lembranças
RomanceO passado, mesmo que deplorável, não deve ser enterrado, às vezes, são as tristes lembranças que nos impedem de cair em precipícios repetidos.