O jovem Lamanita

14 4 1
                                    


Eu vou andando a pé pela cidade bonita
O toque do afoxé e a força de onde vem
Ninguém explica, ela é bonita

— Você sempre escuta essas musicas de velho.

— É o nosso reencontro depois de mais de um mês de tratamento, larga a mão de ser pirracento.

— Pois é, você me largou por um mês nessa droga de terapia idiota!

— A males que vem para o bem! — Ela parou o carro em frente a uma farmácia. — Já volto, preciso pegar a sua fluoxetina e o clonazepan. — Túlio revirou os olhos em resposta

Lucia passou um curto tempo enchendo a cestinha da farmácia com os remédios e logo retornou ao carro, após dirigir por mais alguns quilômetros eles chegaram ao seu destino.

— Olha, eu sei que foi um mês difícil pra você, quero que entenda que acreditei que havia perdido você vez naquele dia! Você não me falava nada e saia escondido pra beber com seus amigos... Sou mãe! Não sou vidente, Túlio!

— Eu sei mãe! Só não queria preocupar você, já te disse!

— Só quero que saiba que o fato de você gostar de outros homens nunca foi e nem nunca será um empecilho entre a gente, você não é diferente de qualquer outra pessoa!

— Não foi por causa disso que tudo aconteceu...

— Você teve um mês pra refletir sobre isso, se não estiver pronto para conversar eu vou entender, só não irei aceitar nenhum pingo de álcool dentro do seu corpo até você sair da minha casa! — Lucia desligou o carro e abriu as portas — Vem, pega as compras, eu cuido da mala.

Túlio entrou e foi direto para o quarto, o ambiente havia perdido totalmente a energia dele, era como um novo território em que ele ainda precisaria demarcar a presença. Sua mãe logo subiu com sua mala e começou a organizar as roupas no guarda-roupas.

—Você conheceu alguém legal lá? — Lucia questionou enquanto guardava uma camisa.

— Um rapaz, trocamos uns beijos, mas nada tão duradouro.

—Que bom que se divertiu, mais tarde no jantar, tenho uma coisa pra te falar sobre a igreja.

— Eu não pretendo voltar, a senhora e o vovô sabem disso!

— Eu sei que sua fé mudou, a minha também tem passado por uma fase bem diferente do que eu costumava ter, mas eu sei que você ama a festa de boas vindas de novos Élderes!

— Comida... Ok, mas eu quero a sua torta de frango!

—Tudo bem seu guloso, não esqueça de tomar a fluoxetina às 14:00, senhor estraga surpresas!

Lucia era membro da igreja dos santos dos últimos dias, comumente conhecida como igreja dos "mórmons", uma igreja fundada nos EUA em meados de 1830 por um profeta conhecido como Joseph Smith. Túlio proferiu essa fé até completar seus 16 anos, quando finalmente teve coragem pra assumir sua sexualidade para mãe, além de deixar claro que ele havia se tornado agnóstico.

Túlio passou grande parte da tarde e inicio da noite em seu quarto, ainda não estava seguro de sair do casulo por enquanto, Lucia preparou um lindo jantar de boas vindas e o garoto se fartou com aquele banquete, contudo antes que pudessem iniciar a digestão, o telefone tocou.

—Aqui em casa? Mas o Túlio acabou de voltar da terapia!

Lucia parecia um pouco ansiosa enquanto falava.

—Tudo bem pai! Vamos ver como poderemos adaptar a casa pra isso.

Ela desligou o telefone revirando os olhos e se voltou para a direção de Túlio que a encarava sem entender absolutamente nada.

O cordeiro na toca do loboOnde histórias criam vida. Descubra agora