O veneno da serpente

14 3 1
                                    

O dia mal havia clareado quando Túlio ouviu batidas na porta de seu quarto, ainda cambaleando ele se levantou e foi de encontro com a porta com a maior cara de tacho possível.

— Bom dia, o que foi? — Questionou ele olhando para Bob que aparentava estar bem animado logo de manhã.

— Eu estava estudando as escrituras e senti no meu coração que precisava compartilhar isso com você! — Respondeu Bob.

Puta que pariu!

— Garoto, você me acordou as 7:00 da manhã —Tulio levantou seu celular com o horário — Pra vim falar sobre escrituras sagradas?

— Desculpa se te incomodei, é que eu senti essa necessidade de vim aqui e...

— Eu conheço muito bem o que está escrito nesse livrinho aqui! — Tulio pegou um livro de Mórmons e sacudiu com a mão — Leia as passagens que eu marquei aqui no meu livro, vai desde 2 Néfi, 3 Néfi e algumas passagens do livro de Alma, tá em português, mas você pode olhar os versículos marcados e procurar no seu.

— Lerei, mas o que necessariamente tem nelas?

— Nada, só o momento em que Deus "castigou" os Lamanitas transformando-os em pessoas negras! — Ironizou.

Bob abaixou a cabeça com a última frase que Túlio soltou, aquilo realmente o havia abalado de jeito, sua fé nunca foi confrontada tão diretamente como Túlio havia feito.

Um tempo depois os dois estavam tomando o café da manhã ao lado de Lúcia que percebeu o clima estranho no ambiente.

— Aconteceu alguma coisa Bob? — Ela questionou.

— Não aconteceu nada senhora Lúcia, só não consegui dormir direito ontem.

Túlio encarou o rapaz e deu uma leve risadinha de canto de boca enquanto mordia seu sanduíche de pão integral e ovos, Lucia se voltou para ele e também o questionou:

— Tem alguma coisa errado com você, Túlio?

— Não, fiquei até tarde estudando ontem, história é fácil de aprender, mas demanda muita leitura!

— E sobre o que você estava estudando ontem? — Lucia perguntou animada.

— Sobre a escravidão na américa e as consequências que ela influencia até hoje, como o racismo, por exemplo! — Tulio olhou para Bob ao terminar o que falou, o loiro por sua vez entendeu a mensagem.

— Assunto bem espinhoso esse, né?

— Com certeza! E eu acredito que pode ser um dos temas da redação esse ano.

Lucia encarou Bob mais uma vez, ela temia que o inglês dela e de Túlio não estivesse bem refinado a ponto de ele compreender o que os dois estavam conversando.

— Bob, eu e o Túlio concordamos em sempre conversar em inglês na sua presença, se a gente cometer algum erro ou você não entender o que foi dito, nos avise!

— Sobre isso, irmã, prefiro que vocês falem na língua nativa de vocês, eu preciso muito aprender a pronunciar o português corretamente para a missão, se puderem me ajudar eu ficarei agradecido!

— Ótimo, Tulio toda noite vai ensinar você um pouco de português, ok?

— Eu vou o que mãe? — Túlio questionou em português para Bob não entender o que foi dito.

— Você vai ajudar ele sim! Da mesma forma que eu ensinei você a falar em inglês, a responsabilidade de ajudar ele agora é sua!

Puta que pariu merda caralho, mãe!

O cordeiro na toca do loboOnde histórias criam vida. Descubra agora