[] adrenalina

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– Sobe aí. – Hyunjin jogou um capacete para que Felix, parado na calçada junto à sua moto, pegasse. – Vamos dar uma volta.

Hwang Hyunjin nunca foi a melhor pessoa no trânsito quando se trata de velocidade. Ia sempre o mais rápido que podia, ainda mais quando sentia o estômago borbulhar de ódio por aqueles que é obrigado a chamar de família.

Dessa vez não seria diferente. Antes de encontrar-se com Felix, a única pessoa no mundo capaz de acalmar-lhe o coração de forma tão rápida, travou uma discussão estressante com seu pai. Por Deus, era tanta intolerância naquela casa que não sabia como ainda estava vivo.

Talvez Felix fosse seu remédio.

Nesses momentos de intensa raiva, sempre escolhia correr pelas ruas de Sidney com sua Ducati 1098S; era como se a adrenalina da alta velocidade dissipasse aos poucos o que sentia dentro de si. Ah, e quanto ele sentia.

Felix tinha as mãos ao redor do corpo do Hwang, que mantinha os olhos no caminho, desviando rapidamente dos carros à sua frente. Lee já conhecia aquelas ruas, estavam indo para o final da cidade; para um prédio abandonado, mais especificamente.

A antiga construção da Hwang's Entertainment estava completamente aos pedaços, mas nunca havia sido demolida. Ali era o lugar dos dois. Onde deram o primeiro beijo, onde passavam noites olhando as estrelas e onde se embebedaram tantas vezes.

– Chegamos. – Hyunjin tirou o próprio capacete, balançando a cabeça numa tentativa falha de desgrudar os fios teimosos presos ao seu rosto.

– Quer me contar o que aconteceu? – o loirinho perguntou enquanto arrumava o cabelo do namorado, dando um selinho rápido ao subir na ponta dos pés. – Podemos apenas olhar o céu hoje.

– Eu trouxe Lean*. Quero dormir chapado hoje.

E assim, já no topo do edifício, no lugar que costumavam ficar, sentatam-se na borda, com as pernas pendendo para fora.

– Sabe... – Hyunjin começou, mirando a cabeça para as estrelas – Devíamos morar juntos.

– E você me fala isso assim, na lata?

– Sim. – virou-se para Felix, que o olhava com os olhinhos brilhando – Não aguento mais aquela casa. E, você sabe, eu amo você. Não tem futuro que não seja com você, então por que não adiantar as coisas?

– Você nem bebeu ainda e já tá com essas idéias. – riu baixinho, colocando a mão no queixo alheio – Claro que eu aceito morar com você, amor, sempre quis isso. – desviando o olhar para os lábios de Hyunjin, Felix o puxou para um beijo quente.

Logo saindo da posição de antes, Lee segurou o rosto do namorado com as duas mãos, aprofundando ainda mais o contato que mantiveram. Estava de joelhos e fez com que o Hwang lhe seguisse, se colocando da mesma forma e sentindo os cabelos serem puxados para trás.

Felix, aproveitando da situação, se sentou sobre o quadril de Hyunjin, que havia se deitado a pedido próprio.

– Tem certeza que quer se dopar hoje?

Numa resposta muda, Hwang levantou o corpo o suficiente para que pudesse tirar a jaqueta, pondo-se sentado, mas ainda com o namorado em suas pernas. Puxou a camisa de mangas fina para cima, esperando a reação que receberia. Essa era sua justificativa.

Felix passou os pequenos dedinhos pela pele machucada de Hyunjin, sentindo o coração pesar mais a cada hematoma se tornando roxo que via espalhado pela barriga do garoto, os cortes finos, porém ensanguentados, nas clavículas magras e o olhar perdido que ele esbanjava.

– Ele que fez isso? – ao receber um aceno baixo, colou sua testa à dele, tentando passar algum conforto.

– Estava bêbado mais uma vez. Me xingou de tudo que possa imaginar agora e, os cortes... – fez uma pausa, que foi acompanhada de um suspiro doloroso – Eles vieram de uma garrafa de Whisky.

– Eu...

– Não precisa falar nada, meu bem. – apoiou uma das mãos no rosto do loirinho ainda em seu colo, fazendo o carinho costumeiro, assim como recebeu mais cedo – Eu sei como se sente.

Lee olhou-o nos olhos, replicando seu toque ao, também, tocá-lo no rosto, pela segunda vez naquela noite. – Eu te amo, Hyunjin. Muito. – riu baixo, amargo, sentindo-se transbordar de emoções – Você é minha vida, não consigo te ver assim.

– Não chora, amor, por favor. – Hyunjin limpou as lágrimas finas que rolaram pelas bochechas gordinhas de Felix, logo o apertando completamente em um abraço. – Vamos apenas olhar as estrelas hoje, ok?

Com um selinho demorado nos lábios, Hwang voltou a deitar-se no chão daquela cobertura, olhando para o céu com o namorado apoiado em seu braço.

Após alguns minutos calados, apenas sentindo o sereno da noite escura caindo sobre si, Lee começou a falar baixinho: – Você tava falando sério quando disse sobre morarmos juntos?

– Você, Lee Felix, é meu lar independente de onde esteja. É quem me acalma, quem me impede de fazer besteira e quem mais me faz feliz nesse mundo inteiro.

O menino, antes olhando para o céu, agora tinha os olhos em Hyunjin, já que passou a deitar-se em cima dele, com o queixo apoiado nas mãos sobre o peitoral alheio, tomando cuidado para não apertar nenhum machucado.

– Isso significa que vamos morar juntos? – os olhos brilharam mais uma vez.

– Sim, meu bem. Podemos até olhar um apartamento naquele condomínio que você acha lindo.

– O que o Han mora? – o moreno confirmou com a cabeça – Meu Deus, eu vou chorar!

E em meio a tantas carícias, sorrisos bobos e beijinhos singelos, Hyunjin, antes tão banhado em adrenalina, agora se sentia calmo, quase dopado, mas completo de amor. Ali, no topo daquele prédio vazio, Hwang e Felix dormiram abraçados, imersos em pensamentos sobre o futuro que teriam. Juntos.

Assim, Hyunjin pôde, enfim, constatar: Felix era, de fato, o seu remédio.

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* Lean: (de acordo com a Wikipédia) é uma droga à base de xarope de codeína, refrigerante, bala de goma e, muitas vezes, misturado com remédios anti-histamínicos. Também é conhecida como purple drank.

remédio 𖥻 hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora