Cp. 01 - Parte 01.

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Melanie Adams, 2017.


Um novo dia se iniciava através das cortinas ocultando parte da luz que adentrava a solitária janela do meu quarto. Meu despertar nasceu junto com a decepção de ainda estar presa naquele lugar, onde o cantarolar dos pássaros não me deixava esquecer que os pesadelos prevaleciam reais. Esfreguei os olhos ao sentir o incômodo dos raios de sol chocando-se com minhas pálpebras sonolentas, provocando um longo suspiro a escapar dos meus lábios. Tristemente, fui guiada pelo impulso de levantar-me da cama, fruto do instinto de sobrevivência que aderi como motivação para passar pelos dias. Calcei os chinelos encostados ao pé da minha escrivaninha, que estavam parcialmente aquecidos pelo calor da manhã e um pouco desbotados pelo tempo de consumo.

O que não era minha maior preocupação, na verdade.

Eu sabia que o dia seria lindo, mas somente até o momento em que eu me encarasse na frente do espelho. Meu reflexo que apontava sem pena todas as minhas imperfeições, era o que me obrigava a acreditar que eu viveria para sempre assistindo aquele horror tomar sua devida forma. Observei com atenção o contraste das cicatrizes exterminando qualquer beleza que o tecido delicado do meu pijama poderia ter, pois elas transformavam até mesmo as mais belas maravilhas nas piores tragédias. Então, não desperdicei tempo agradecendo por estar acordada, quando estar dormindo talvez fosse o único jeito de fugir da minha dura realidade.

É claro que, também não era como se não houvesse motivos pelos quais agradecer, afinal, eu tinha uma esplêndida coleção de livros, da qual eu me orgulhava muito, e um mini-rádio de música. Sei que podia ser pouco, porém por muitas vezes foi o bastante para me trazer algum resquício de felicidade. O que era um grande lucro.

Levei minhas mãos até os botões do radiozinho velho, ajustei as antenas e esperei que uma música clássica fosse de encontro aos meus ouvidos. Foi quase imediata a sensação de não pertencer ao meu corpo ao me imaginar como sendo um membro da realeza e que as cicatrizes ao redor do pescoço eram deslumbrantes colares de pedras preciosas.

Como nos livros, executei movimentos delicados enquanto as alças do meu pijama deslizavam pelos meus ombros, contemplando os ferimentos em processo de regeneração tornarem-se inexistentes aos meus olhos. Saltitei até meu armário, que antes teria sido madeira simples e agora era o mais luxuoso mármore, que dentro, me aguardava um adorável vestido de babados, mangas bufantes e um busto estampado com flores violetas. Vesti a peça de roupa ansiando-me para ver o resultado no espelho, onde me vi como a própria majestade de um reino qualquer. Meus cabelos negros que se destacavam acima da pele pálida do rosto, se moldaram em um alto coque que liberava mechas onduladas em frente aos olhos, e, como complemento, uma tiara repleta de diamantes decorava o topo da minha cabeça.

De repente, uma voz fria e autoritária fez com que a magia se desfizesse em segundos, pois para minha tristeza, nada daquilo era real.

— Se não vier agora tomar a merda do seu café, eu juro que vou afogar a sua cara nele ameaçou a voz, fazendo meu sangue gelar. — Ou você pode descer e evitar que eu perca minha paciência. Você decide.

 Estou indo, pai  falei rápido, me apressando para desligar a música que ainda tocava.

Lancei um olhar deprimente ao espelho, tudo o que se via agora era uma adolescente exausta, não vestindo mais seu glamoroso vestido, os cabelos soltos e ligeiramente bagunçados formavam conjunto com as marcas nos antebraços mal cobertos pelo uniforme escolar. Eu havia voltado à minha realidade, o que significava encarar aqueles olhos novamente, significava batalhar outra vez com meus medos diários e vencer outra guerra como Jennah Young venceu o monstruoso imperador Osvald. Determinada, apanhei minha mochila nas mãos e com uma lunfada de ar, atravessei a porta do quarto quase marchando em direção às escadas.

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⏰ Última atualização: Dec 23, 2022 ⏰

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