— E foi então que apareceu a raposa — Scott leu; um exemplar de O Pequeno Príncipe descansando em suas mãos.
Cassie ouvia atentamente, sentada em sua carteira, com outras quatorze crianças fazendo o mesmo à sua volta. Durante as férias de verão, aquele havia se tornado o livro favorito dela. Ela demorou duas noites para lê-lo e o releu uma semana depois disso. Amava a história e as figuras, e sempre que podia, pedia para seu pai citar algo do livro para ela, simplesmente para ter o prazer de continuar a frase depois dele. Por isso, Scott não ficou surpreso quando sua filha sugeriu que O Pequeno Príncipe deveria ser o próximo livro que eles leriam juntos em classe.
— Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste... — ele leu e levantou os olhos para Cassie, que sorriu. — Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
"Cativar significa criar laços" ela conseguiu ouvir seu próprio cérebro pensar, e também conseguiu se lembrar de quando perguntou a seu pai o que "criar laços" significava, porque a explicação do livro deixou sua cabecinha de dez anos um pouco confusa.
— Criar laços é impressionar uma pessoa com seu caráter ou jeito de ser, falar ou agir — ele explicou. — Quando conhecemos alguém e criamos laços com essa pessoa, ela passa a fazer parte de nossa vida naturalmente. Mas isso leva tempo...
Cassie pensou em Peter, e em como ele havia a cativado. Eles eram melhores amigos agora, por que criaram laços. Ela também pensou em seu pai e em sua mãe, e no laço deles, que tinha arrebentado. Ela era bem pequena quando aconteceu, entre quatro e cinco anos, mas ainda se lembrava de como fora difícil no início, os dois choraram muito.
Alguns anos depois, sua mãe criou laços com Jim Paxton e eles se casaram. Seu pai não criou laços com mais ninguém, não até a Srta. Van Dyne começar a trabalhar em sua escola. Cassie notou o jeito que ele olhava e sorria para a nova professora. Era diferente de qualquer outra coisa que seus jovens olhos já tinham visto.
Foi questão de tempo até que a Srta. Van Dyne agisse do mesmo modo ao redor de seu pai. Ela podia ser apenas uma criança, mas conseguia entender que algo estava acontecendo entre os dois adultos. Sua tia Natasha disse que eles eram apenas amigos. Mais tarde, seu tio Luis sussurrou que Scott estava apaixonado. E ela achou essa versão da história mais divertida.
Apaixonado ou não, seu pai estava feliz, e aquilo a deixava feliz também.
— Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Antes que seu pai pudesse ler o próximo diálogo do livro, alguém bateu à porta da sala de aula, e a abriu.
— Olá — Srta. Van Dyne disse enquanto entrava. — Desculpe interromper, Sr. Lang. Pode me emprestar seu apagador? Não consigo encontrar o meu...
Cassie sorriu, observando a cena se desenrolar em sua frente. Seu pai olhava e sorria para a mulher daquele jeito único que ela já conhecia.
— Aqui está — Scott entregou o apagador com a mão que não segurava o livro.
Srta. Van Dyne pegou o objeto e também sorriu, demorando um pouco para desviar o olhar.
— Obrigada — ela murmurou, antes de se virar para os alunos. — Tchau, crianças.
— Tchau, Srta. Van Dyne! — Todos responderam junto, mas Cassie foi a mais alta.
Quando a professora saiu da sala, Scott ainda sorria bobo para o nada. Sua filha fingiu tossir e olhou para ele com as sobrancelhas arqueadas.
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Repeat after me, r-o-m-a-n-c-e
FanfictionCassie notou o jeito que seu pai olhava para a Srta. Van Dyne. A surpresa aconteceu quando ela percebeu que a Srta. Van Dyne olhava para seu pai do mesmo jeito. AU em que Scott e Hope são professores em uma escola de ensino fundamental.