Capítulo Um

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ㅡ Naruto! Pode me dizer o porquê de não ter ido ordenhar a Asami ainda?

ㅡ De novo?!

ㅡ Vacas não se ordenham sozinhas!

Naruto xingou baixinho, para que a mãe não ouvisse. Seu rosto estava levemente pressionado contra o travesseiro e o corpo esparramado pela cama, quando a ordem da mãe chegou aos seus ouvidos. Com um bocejo, o garoto se sentou, vendo a neblina rarefeita da manhã através da janela. As árvores mais distantes, próximas ao sopé da Colina Verde, mal podiam ser vistas e o ar frio implorava para que Naruto voltasse a se deitar na cama quente.

No fim, com o pensamento na pobre Asami com o úbere inchado de leite, o menino acabou vestindo seu casaco laranja vivo por cima do pijama. Mesmo no verão, na Colina, as manhãs eram frias por causa da altitude. O velho casaco laranja, que havia pertencido ao seu avô, o acompanhava há muitos anos naquelas manhãs. O cheiro da gola do casaco, a qual tocava o seu queixo, era de grama recém cortada e ração de bovino.

Espreitando pelos corredores da casa, descalço, Naruto correu até a entrada. Caso Kushina o pegasse com as calças de pijama a caminho do curral, estaria perdido. Para a sua sorte, conseguiu calçar as galochas, pegar o balde metálico e sair pela porta dos fundos antes que a mãe o visse. Assim que retornar, tomará o café da manhã, cujo cheiro invadia cada um dos cômodos da casa, e talvez voltasse a dormir. As férias de verão representavam a melhor época do ano.

Naruto não achava de todo ruim ter que acordar no nascer do dia para ordenhar a vaca. Quando estava no período de aulas e o menino precisava descer a Colina Verde para a cidadezinha, onde a escola ficava, a mãe e o pai não lhe cobravam as tarefas matinais. Porém, quando não precisava atravessar o pasto em direção ao curral, ele perdia a maravilhosa paisagem que se revelava apenas ao nascer do sol. Aquele era o horário mágico em que a brisa sussurrava nos ouvidos e tocava-lhe os cabelos loiros, em que a grama alta se movia e fazia cócegas em suas mãos. Só naquele momento os raios solares eram suaves, aqueciam parcamente o lado leste da colina e iluminavam, pouco a pouco, as árvores do cume à base.

Enquanto atravessava o campo e observava as pequenas e organizadas plantações de legumes e arroz de sua família, os olhos azuis do garoto se esbanjaram com o verde intenso das plantas e com o mundo que, devagar, deixava de ser escondido pela neblina. O cheiro fresco de orvalho ia sendo substituído pelo cheiro mais amargo de esterco e ração, à medida que se aproximava do curral. A construção de madeira, que Asami passava suas noites, era próxima à estrada, mas aquilo não poderia estressá-la, já que a propriedade dos Uzumaki e Namikaze eram a última antes do topo da colina, então era extremamente raro que alguém passasse por ali.

ㅡ Bom dia, Asami-san! ㅡ Acariciou o focinho da vaca malhada, marrom e branca. ㅡ Peço licença para pegar nos seus peitos, me permite? Obrigado.

Naruto puxou um banquinho baixo com o pé, desviando-se de um monte de fezes frescas de vaca, enquanto posicionava o balde metálico sob o úbere. Apesar de ainda estar bocejando e ter os olhos pesados e cabelos bagunçados, o menino mantinha uma conversa animada com a vaca, contando-lhe sobre as novidades. Não havia muitas por ali, mas ele também contava à Asami suas aspirações para o futuro e também o que o deixava apreensivo. A vaca era a confidente do menino, visto que os amigos humanos de sua idade eram tão escassos nas redondezas.

ㅡ Eu sei que está cansada de ouvir sobre isso, mas como nunca reclamou, vou continuar a falar. ㅡ Naruto riu, misturando o som de sua voz aos jatos de leite que batiam no fundo do balde. ㅡ Ainda estou um pouco triste de pensar que esse é o meu último verão aqui, antes de ir para Tóquio. ㅡ A vaca mugiu. ㅡ Eu sei, eu sei! Vai ser divertido estar rodeado de toda aquela gente nova. Até imagino viver sempre cheio de pessoas para conversar, poder ficar acordado até tarde e ter muitos amigos… ㅡ Naruto ergueu os olhos para a vaca, que olhava em outra direção, desinteressada. ㅡ Mas eu vou sentir falta dos velhos amigos.

A Última Casa da ColinaOnde histórias criam vida. Descubra agora