INFLIGINDO

3 - Não pode ser!

Vasti

Ouço uma voz ao longe, como se me chamasse, não sei ao certo se estou dormindo ou acordada, mas possivelmente seria um sonho, a voz estava tão longe e tão doce, por um momento meu coração acelerou, mesmo que ainda estivesse meio inconsciente, eu podia jurar que era a voz de minha mãe, senti uma alegria imensa, era a minha mãe? Eles finalmente me encontraram e me tiraram daquele velho.
Tentei escutar o que ela dizia, mas ainda estava muito longe, quando de repente sinto algo estranho pelo meu rosto, abro os meus olhos e estou com a respiração ofegante, não se tratava de minha mãe ali me chamando, e sim de uma mulher totalmente estranha, e que havia me jogado água no rosto, percebi que ainda estava no quarto que o velho me deixou.

- Pensei que tinha morrido. - Ela fala com cara de preocupação.
Eu olho pra ela com atenção, parecia ser uma mulher bem jovem, usava um macacão dourado que parecia ter sido costurado no seu corpo de tão colado, em seu pescoço tinha uma espécie de cachecol, mas parecia ser de pena e era todo vermelho, seus seios estavam quase pulando pra fora da roupa, seu sapato era tão alto e fino que dava agonia de olhar, me senti pequena e desprotegida, seu rosto dava um certo medo.

- Que...Quem é você?

- Eu sou Charlotte, cuido das meninas daqui, e estou aqui pra lhe ajudar.

- Onde eu estou? O que vão fazer comigo? - Me desespero ainda mais.

- Não se preocupe, te explico depois, agora tome um banho, vou buscar algo para você comer e uma roupa. - Ela me entrega uma toalha e sai, trancando a porta atrás de sí, olho para todos os lados e vejo uma porta do lado direito da entrada, uma que eu não havia percebido que existia. Vou caminhando devagar, abri a porta, era o banheiro.
Assim que entro tranco a porta, me viro para o espelho e levo um susto. Meu pescoço e ombro estavam banhados de sangue, provavelmente de quando o velho tacou minha cabeça na parede. Levo a minha mão até a cabeça a procura do corte e o encontro no lado direito de minha cabeça. - Merda. - Xingo baixinho pra mim mesma. - O que aconteceu com minha vida? - Continuo olhando para o meu reflexo, estou acabada, a maçã direita do meu rosto estava vermelha, provavelmente ficaria roxo mais tarde, meus cabelos estão assanhados e com sangue seco por toda a parte, eu sinto raiva de mim, dos meus pais. Por que aceitaram me entregar para aquele homem? Será que não me amam? Por isso me prenderam a vida toda naquele internato? Minha cabeça girava em questões não esclarecidas, decido tomar um banho, que é o que mais preciso no momento, entro no minúsculo cubículo, ligo o chuveiro, que me acordou na mesma hora por conta da água fria, senti a água escorrendo por meu corpo e me senti mais leve, como se isso tirasse um peso das minhas costas, termino e me mantenho no mesmo lugar, até ouvir os cliques dos saltos finos de Charlotte em contato com o piso ecoarem no pequeno quarto seguindo ao local que estou.

- Você já terminou seu banho? - Pergunta do outro lado da porta.

- Já terminei. - Me enrolo na toalha.

- Então venha vestir a roupa que trouxe. - Com isso saio do cubículo chamado banheiro.

- Você está pálida, vamos te que dar um jeitinho nisso, não podemos te apresentar assim.

- Apresentar pra quem? - Pergunto nervosa.

- Não se preocupe com isso ainda, só coma, vista este vestido e calce este salto. - Ela me entrega um belo vestido preto, que destaca meus seios no decote em V, ele é colado no corpo, vai até o meio das minhas coxas, com alças finas, posso dizer que ficou até apresentável em meu corpo, calço o salto preto com a sola vermelha, é desconfortável você usar algo que não é de costume, mas ficou até bonitinho, o diferente é até bom.