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Meu Deus. Como dói.

Já senti muitas dores na vida, mas nunca doeu tanto ver alguém partindo assim. Ele se foi, sem ter morrido. Sinto como se eu estivesse naquelas cenas de filme quando o prisioneiro está passando um tempo na cela solitária e começa a revisitar absolutamente tudo em sua vida, com direito a lembranças vívidas, alucinações, paranoia, tristeza, euforia, nostalgia, raiva, insights, aprendizados. A dor tem sido tão grande que não tive nem a coragem de escrever sobre ela, com medo de que fosse uma forma de olhar demais para o abismo e o abismo olhasse de volta para mim. E na minha experiência eu aprendi que olha mesmo.

Meu propósito com essas palavras não é remoer o passado, apontando erros, culpados, nem nada assim, até porque a minha própria mente já tem se mostrado muito eficiente em desempenhar esse papel quando perde o controle, sendo que na verdade a culpa é de ambos e de ninguém ao mesmo tempo. Coisas da vida.

O fato é que não consigo deixar de pensar numa época distante, quando ele me disse que sua visão sobre relacionamento era "que seja infinito enquanto dure", tal qual o famigerado Soneto de Fidelidade do grande poeta. Porra, Vinícius! Eu não queria isso! Queria que fosse para sempre, independente de qualquer coisa, desistir jamais! Uma mistura de ingenuidade com prepotência. Como é horrível se apegar a algo, a alguém, terceirizar a própria autoestima. É cruel para os envolvidos, eu vejo isso claramente agora. Construí castelo de areia e ignorei a existência do mar. Logo eu, que sempre panfletei sobre a importância do empoderamento e de abraçar a mudança.

Descobri que ainda estou na primeira casa do tabuleiro do autoconhecimento, acho que infelizmente nunca saí dela de verdade. Aquela básica sobre se amar primeiro antes de qualquer coisa, de eu mesma ser o próprio combustível da minha vida. A segunda casa do tabuleiro é aquela sobre tudo ser passível de mudança, a única certeza ser a incerteza. Espero que depois de aprender eu nunca tenha que voltar a essas casas, e espero aprender logo. Mas o próprio apego a isso já é uma contradição em relação a segunda casa!

Não é fácil trilhar o caminho do meio, mas agora vejo que é a única estrada possível para a felicidade.


Não Somos Mais, Mas Eu Serei.Onde histórias criam vida. Descubra agora