Miranda e Andrea caminham por uma rua bastante movimentada perto de algumas casas noturnas. Elas se deparam com uma multidão reunida em torno de uma mulher dançando, e o som rítmico de pratos de dedo pode ser ouvido. Sentado no chão está um homem que bate em um ritmo hipnotizante.
Andrea agarra o braço de Miranda com um olhar de empolgação e a arrasta em direção à multidão, encontrando um bom ponto de observação para observar a dançarina do Oriente Médio. A dançarina se apresenta de uma forma excitante e incomum e provoca uma reação positiva da multidão. No final da apresentação, Miranda coloca algumas notas no pandeiro que fica na calçada perto dos sapatos da dançarina. Então ela e Andrea descem a rua enquanto a multidão se dispersa. Miranda está obviamente mexida com a dança.
MIRANDA - Eu vi um documentário sobre isso - É uma dança de nascimento.
ANDREA - Uma dança do nascimento? Como isso funciona?
MIRANDA - As mulheres usaram ao dar à luz. Em algumas partes do mundo, eles ainda fazem isso. A parturiente entra em uma tenda e as mulheres de sua tribo a rodeiam e dançam com seus torsos e pélvis, e estimulam a parturiente a dançar com elas para tornar o parto menos doloroso. E depois que o bebê nasce, todos dançam em comemoração.
ANDREA - Uau. Minha mãe nunca teria
aceitado isso.MIRANDA - Mas é uma dança realmente
primitiva. Eles acham que as mulheres geralmente fazem isso principalmente por outras mulheres como uma espécie de ritual de fertilidade.ANDREA - Isso é legal.
MIRANDA - É uma coisa linda. Gosto da ideia da dança como uma função comum da vida, algo da qual todos participam.
ANDREA - Eu sei. Eu ouvi sobre um velho
assistindo um bando de jovens dançando. Ele disse: “Que lindo. Eles estão tentando se livrar de seus órgãos genitais e se tornarem anjos. ” Mas, uh, só uma pergunta lá atrás. Quando as mulheres estão sendo todas espirituais e dançando para os deuses e para si mesmas e outras coisas, onde estão os homens? Coletando comida? Só não é permitido? As mulheres não precisam do homem no parto?MIRANDA - Os homens têm sorte de não arrancarmos suas cabeças após o acasalamento. Certos insetos fazem isso, você sabe - aranhas e outras coisas. Nós, pelo menos, deixamos eles viver. Do que eles vão reclamar?
ANDREA - Talvez nós tivéssemos um problema a menos se fizéssemos isso. Já imaginou se a cura para a misoginia é matar os homens depois da cópula?
MIRANDA - Seria interessante. As vezes eu tenho esses pensamentos de que certos problemas sociais só podem ser realmente resolvidos com muitas mortes e sangue. Se as vítimas matassem seus agressores, teríamos cada vez menos agressores. Se o povo se reunisse para arrancar as cabeças dos políticos, ao invés de protestar? Tipo, eu sempre acho que as lutas sociais conquistam em uma velocidade muito lenta, quase negativa, e se o caos fosse instalado a ordem viria mais rápido. É só você observar a França antes da revolução e depois da revolução. Houve muito sangue e cabeças na guilhotina para as coisas começarem a mudar.
ANDREA - É um pensamento um tanto anarquista, não? Do caos se faz ordem, quem foi que disse isso mesmo?
MIRANDA - Eu não me recordo, mas sei que Jung diz algo como "em todo o caos há um cosmos, em toda a desordem há uma ordem secreta". De certa forma isso é reconfortante, mas não deixo de pensar que estamos fazendo as coisas do jeito errado.
ANDREA - Às vezes eu tenho pensamentos radicais também, como desejar que um vírus mortal e inevitável que só seja fatal nos homens seja liberado e todos os homens do planeta Terra morram. A humanidade iria acabar com um tempo, mas eu acho que as últimas mulheres da Terra seriam mais felizes do que em qualquer época até que isso acontecesse.
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Antes Do Amanhecer (Mirandy - Intersexual)
FanfictionMiranda voltava de trem para Paris, a cidade em que reside atualmente. Andrea, no mesmo trem, viajava para Viena. Elas iniciam uma conversa e percebem que há uma conexão entre elas. Depois de horas de diálogos aleatórios, o trem para em Viena e Andr...