Acordei assustada, já faziam oito anos desde o acidente, mas tinha sempre o mesmo pesadelo, toda a noite revivia aquele triste momento. Desde o ocorrido meus pais estão em coma e eu tive que ir morar com minha tia, meu tio e minha prima, não que eu não gostasse deles, eles eram bem legais e tal, mas sinto falta dos meus pais, eles ainda estão em coma, mas todos os dias depois da aula vou no hospital para ver eles. Sophia, minha prima, geralmente ia comigo. Mas eu nunca deixava as mesmas perguntas de lado:Oque aconteceu, Quem era aquele homem e Porquê só eu e meus pais o vimos?

  -Bom dia-disse Sophia me acordando de meus devaneios- vamos ao hospital hoje?- era o primeiro dia das férias de verão, por isso não fomos à aula hoje.

  -Já estou saindo- respondi ainda nervosa- Mas se não quiser ir comigo tudo bem...

  -É óbvio que vou -disse ela em meio a um bocejo- Mas primeiro, minha morena,  vamos nos trocar e começar a planejar seu dia e sua festa de 15 anos, temos só 6 meses- disse ela me lembrando que faço 15 em junho.

-Ah não, Anne! Fazer essa carinha não vai adiantar, então trate de por um sorriso nesse rosto- disse ela com aquele tom decidido que já sei que não vale a pena discutir.- Mas primeiro, eu estava no Shopping ontem, vi isso em uma vitrine e lembrei de ti...

Ela pegou uma caixa rosa com um laço amarelo.

  -Sophia, não preci...

  -Ah precisava sim, vamos abra. Espero que goste.-O tom dela com um "Q" de animação.

  Abri a caixa rosa que continha um magnífico vestido preto igual ao que minha mãe usara no dia do acidente e um par de anabellas rosa-bebê. Imediatamente caí no choro, eu tinha amado o presente mas o vestido me trazia tantas lembranças, e aquele era meu primeiro salto e minha mãe não estava ali comigo para me ajudar a dar os primeiros passos sem cair...

  -O que foi?- Perguntou Sophia claramente preocupada- não gostou do presente?

  -Eu amei- Disse me recuperando enquanto secava as lagrimas do rosto- É só que o vestido é idêntico ao que minha mãe usava no dia...- minha voz morreu, e as lagrimas voltaram, Sophia foi até minha cama, onde eu estava sentada e me abraçou, há pessoas que não gostam de serem consoladas com um abraço, mas eu me sinto segura e amada. Ás vezes o abraço é como uma fortaleza.

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  Quando chegamos ao Hospital, eu com minha roupa nova e Sophia com uma regata branca e saia longa em tons de azul, fui falar com a atendente.

  -Bom dia, Emily- disse- Eu e Sophia viemos visitar meus pais.

  -Bom dia Anne, quase com 15 anos em... Depois dos 15 a gente chega nos 30 em um piscar de olhos... - Emily disse, acho que oito anos de convivência faz alguém memorizar coisas como seu nome, aniversário...- Quarto 42.

    Ela me entregou dois crachás de visitante, um para mim e um para Sophia, e uma caixinha.

  -Ah, não precisava- disse

  -E tem mais isso- Ela disse me entregando outra caixa desta vez maior- Bem este é dos seus pais, encontramos semana passada, mas não consegui te dar antes, estava no bolso do casaco de sua mãe.
Eu passava os dedos pela caixa compulsivamente, não tinha coragem de abrir, minha mãe havia feito este embrulho.-Obrigada.

  Na caixa que minha mãe me dera, havia um colar com um pingente da clave de sol com a de fá formando um coração, com um bilhetinho que dizia:

        Quando precisar é só chamar, sempre estarei aqui para lhe ajudar, mas caso não esteja, por algum motivo, use este colar que te ajudará a seu caminho encontrar.

  Era a caligrafia caprichada da minha mãe, o papel meio afundado onde a caneta passara. Passei o dedo por cima de cada palavra, descrevendo sua caligrafia perfeita. Mas tinha algo estranho no bilhete, como se ela soubesse que o acidente iria acontecer. E por que será que só me entregaram hoje o bilhete e o presente?... IHHHH... aí tem coisa...

  Pensando em suas palavras fui até Sophia e entreguei a ela o crachá e lhe pedi ajuda para por o colar. Desde pequena a clave de sol era meu símbolo.

  Chegando ao quarto 42, encontrei meus pais e um médico fazendo alguns exames neles.

  -Bom dia meninas- disse ele, parecia ser um pouco mais velho que eu, talvez 18. Era loiro, alto de olhos verdes e com os braços esculpidos- Sou o novo enfermeiro, Lucas.

  -Sou Anne, a filha dos pacientes, e essa é minha prima Sophia. Prazer em conhece-lo.

  -O prazer é todo meu- disse ele olhando para mim e depois para Sophia . Claro que ele iria gostar dela, ela é maravilhosa. Parece uma Barbie morena, mas o que estou pensando? Ele é um médico, um muito gostoso, mas mesmo assim não está aqui para se apaixonar por alguém de 14 anos.

  -Ah...- Disse ainda envergonhada- Obrigada.

  As luzes do hospital destacavam seus perfeitos olhos verdes, sua camisa preta por baixo do jaleco, estava um pouco justa, ressaltando seus músculos lindos e seu tanquinho, o cabelo loiro ganhava um brilho por causa da luz fluorescente, meu Deus ele é um Deus Grego!

   -Acho que deveria deixar vocês a sós- Disse ele. Tive vontade de pedir para que ele ficasse, mas não o fiz.

  -AI. MEU. DEUS- disse Sophia- Quem era aquele Deus Grego?

  Senti meu rosto corar, mesmo sem motivo.

Quando tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora