Chapter 1

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Sou Lorenzo

Música: Heaven - Troye Sivan

Domingo de noite...

Após o culto de hoje, eu e minha mãe estávamos voltando para casa. Ela adora falar, já eu fico mais quieto porque os assuntos dela não são nada agradáveis para mim.

É sempre a mesmice de sempre.

ㅡ Aquela garota do grupo de adolescentes, Hayden, não tirava os olhos de você ㅡ comentou ela enquanto caminhávamos na calada da noite.

ㅡ não percebi, estava prestando atenção no culto ㅡ falei já prevendo o que viria pela frente.

ㅡ se olhou é porque está interessada ㅡ disse um pouco entusiasmada.

ㅡ é deve ser ㅡ murmurei revirando os olhos.

ㅡ como assim deve ser, filho ela é bonita. Uma menina direita que vai sempre na igreja, você precisa conversar com ela ㅡ comentou me olhando séria.

ㅡ pra que mãe? Nem todas as pessoas que estão na igreja são direitas. Chegam a ser piores que as do "mundo". E aquela garota é a mais rodada da escola, não quer nada sério! ㅡ falei fazendo sinal de aspas com as mãos. Ela me olhou assustada.

ㅡ então meu filho, quem sabe você possa mudar a vida dessa menina. Fazer ela se converter ㅡ disse com um olhar estranho.

ㅡ e para que? Se ela já é julgada todos os dias por vocês, isso desanima as pessoas ㅡ falei num tom meio ríspido.

ㅡ você vigia garoto, vigia! ㅡ exclamou me olhando bem séria.

Já estávamos quase na porta de casa e minha mãe ia pegando a chave em sua bolsa, olho em volta e vejo um casal gay da escola, Stiles e Derek andando de mãos dadas na rua... pelo que sei Derek repetiu dois anos, mas mesmo assim são o casal mais famoso da escola. Fiquei feliz por eles e um pouco invejado por não poder fazer isso também.

Aquilo era uma vida "errada" como diz a dona Miranda. Uma da qual eu nunca poderia ter.

Assim que ela viu o casal ela logo fez uma cara de desdém, nojo e desprezo.

ㅡ olha só que pouca vergonha ㅡ disse olhando para os dois que aparentemente estão felizes.

ㅡ o que é uma pouca vergonha? ㅡ ouvi a voz do Theo logo atrás de nós. Minha mãe o convidou pra ir ao culto, estava calado até agora.

ㅡ estou falando daquela vergonha ali ㅡ minha mãe disse apontando para os dois, que bom que eles não perceberam.

Minha mãe e o Theo são a dupla perfeita de homofóbicos e inconvenientes. Ele vive contando piadinhas idiotas sobre gays... eu não sei porque eu ainda sou amigo desse idiota.

ㅡ mãe sabia que é feio apontar e não tem nada de errado ali. Pra mim são duas passoas felizes por se amarem ㅡ comentei e os dois me olharam com uma interrogação enorme na cabeça deles.

ㅡ você só pode tá brincado né ㅡ Theo riu do que eu disse. Era visível o seu deboche.

ㅡ eu tô rindo por acaso? ㅡ falei sério pra ele que parou de rir na mesma hora. Seus olhos verdes me olhavam com curiosidade assim como os da minha mãe.

ㅡ o que é isso Liam ㅡ ela me olhava achando estranho, mamãe só me chama de "Liam" quando faço algo errado ㅡ não foi assim que eu te criei, sendo mal educado e apoiando uma baixaria dessas! ㅡ exclamou num tom áspero.

ㅡ pelo menos isso você não conseguiu, me transformar num homofóbico feito vocês ㅡ respondo e saio andando rápido deixando os dois sozinhos.

Eu vou sentindo uma sensação ruim durante o caminho, soltei minha respiração que nem sabia que estava prendendo por conta da raiva. Sinto uma angústia tomando conta de mim e uma vontade grande de chorar. As vezes sinto que vou desabar à qualquer momento.

Mas eu tinha que me conter porque eles poderiam me abordar a qualquer momento e eu não poderia dar bandeira a essa altura.

Por mais que eu queira muito contar para minha mãe eu não consigo, as palavras me fogem e sinto um frio muito grande na barriga, uma tremedeira que parece que nunca vai passar. É como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.

Minha vista já estava ficando embaçada por conta das lágrimas que preenchiam meus olhos, sinto uma mão no meu ombro e seco as mesmas imediatamente. Era o Theo que estava ali com uma confusão em seus olhos.

ㅡ veio fazer suas piadas agora? ㅡ falei olhando para o outro lado.

ㅡ não... eu... ㅡ tentou falar mais eu o interrompo.

ㅡ é melhor você não dormir em casa hoje, não estou me sentindo bem ㅡ falei sentindo que minha voz estava ficando trêmula.

ㅡ Liam... você é gay? ㅡ perguntou e eu fui pego de surpresa.

Theo até podia fazer suas piadinhas bobas comigo, mas ele nunca me perguntou se eu era gay. Eu queria muito que ele soubesse, mas talvez ele poderia se afastar de mim... ou pior, contar pra minha mãe.

Fiquei completamente sem reação, ele continuava me fitando esperando alguma resposta.

Então respirei fundo tentando não surtar...

ㅡ da onde você tirou isso, só porque eu protegi o casal da minha mãe não significa que eu seja gay. Existem pessoas de mente aberta sem preconceito nenhum. E eu sou uma delas, não me importa o que você ou a minha mãe vão pensar disso ㅡ exclamei e ele apenas me olhou calado.

Ele é um cara legal até, mas tem vezes que ele chega a ser muito idiota e infantil também. Eu vivo me perguntando como eu ainda suporto ele.

ㅡ eu vou embora então, a gente se vê na escola então cara ㅡ disse num tom calmo e saiu andando.

Alguns minutos depois a minha mãe chegou, estava calada e me olhava bem séria. Talvez isso tenha deixado ela com a pulga atrás da orelha.

Ela tem um irmão que é gay, por mais que ela bote um sorriso na cara toda vez que se veem, ela nunca mais gostou dele após ele se assumir. E meu tio é gente boa e se olhar pra ele você nunca diria que é gay porque não parece.

ㅡ onde está o Theo? ㅡ perguntou curiosa enquanto destrancava a porta.

ㅡ ele foi embora, não estou me sentindo bem pra receber visita ㅡ respondi com receio pois ela gosta muito dele.

ㅡ quero só ver se a amizade de vocês vai durar enquanto você continuar afastando as pessoas desse jeito ㅡ disse entrando em casa e me olhava de cima à baixo.

ㅡ em primeiro lugar eu não afasto as pessoas. São elas que contribuem para isso acontecer, não suporto gente falsa muito menos preconceituosas ㅡ digo num tom bem áspero indo para o meu quarto, não tô com cabeça pra discussão.

ㅡ você precisa se converter garoto! ㅡ disse num tom alto pra mim ouvir.

Eu queria muito rir dessa última frase, mas a angústia que eu tava sentindo não permitiu. Tudo o que eu fiz foi trocar de roupa, escovar os meus dentes e fiquei me olhando no espelho.

ㅡ por que? Por que me deu essa vida onde todos me odeiam? ㅡ questionei não lutando mais contra o choro.

Me ajoelhei no chão ainda chorando, eu não conseguia compreender todo esse ódio que a minha mãe sente dos casais homoafetivos. Não consigo entender porque a sociedade nos odeia só por amarmos alguém do mesmo sexo assim como eles pelo sexo oposto.

Enquanto eu ainda chorava, escutei alguém batendo na porta.

ㅡ Liam vamos jantar ㅡ minha mãe disse por trás da porta.

ㅡ não tô com fome! ㅡ respondi tentando deixar a minha voz o mais natural possível.

Minutos e horas se passaram enquanto fui pegando no sono ali no chão mesmo...

Continua...

LIBERDADE (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora