A luminosidade sobre os olhos irritou Katsuki, que acordou com a pior dor de cabeça dos últimos tempos. A boca seca e a sensação de enjoo também estavam presentes, só não correu da cama para o banheiro, porque sentiu o calor de outro corpo entre os braços.
O namorado estava de costas, enrolado no lençol branco, tão alvo quanto a própria pele. O meio ruivo ressonava baixinho, o sol da manhã que incidia sobre o casal, saturou os fios em tons vivos de vermelho, transformando-o na mais bela pintura. Os dedos de Bakugou correram sobre a extensão do braço, observando a beleza da musculatura delineada, dos pelos e das pintas que traziam doçura a imagem do homem deitado ao lado.
As digitais apreciaram o calor, a textura macia, quase cremosa sob a mão, a ponto de esquecer que estava com dores por todo o corpo.
Quanto mais apreciava os detalhes, mais a mente o guiava para o inferno. Lembranças da noite anterior surgiram aos poucos, como um câncer, arrastando-o para um lugar frio, longe daquele paraíso chamado Shouto Todoroki.
O gosto do álcool ainda estava amargo na boca, os nós dos dedos estavam machucados, apenas camuflados sob as tatuagens. Ele passou a língua para umedecer os lábios e sentiu o sangue seco, repuxando o contorno do maxilar.
A dor dos ferimentos eram insignificantes, perto da sensação sufocante que crescia dentro de si, ao lembrar de abrir a porta com chutes e de encarar o namordado, antes da memória tornar-se apenas um borrão.
Katsuki sentiu o coração pesar como chumbo, a mão que antes passeava estava recolhida no ar, sem saber o que fazer, onde apoiar, se é que poderia tocar no homem de novo. Ele inclinou-se sobre o bicolor e antes de encará-lo, observou em cima da cômoda comprimidos para a dor.
Ele morreu tão lento, envenenado pelo álcool em demasia, morto pelas próprias mão. Doeu tanto que demorou a perceber o ar estagnado na garganta e os olhos que começavam a pesar por causa das grossas lágrimas.
A visão chocou-se com a imagem delicada coberta de escoriações, o lábio macio talhado por cortes, garras vermelhas rasgaram o pescoço como papel molhado, recortados até o meio do peito. A dor estampada nas pupilas inchadas, das pernas encolhidas em torno dos braços e do sono profundo induzido por remédios.
O choro caiu silencioso, os dedos tocando o ar, imaginando que não merecia mais a paciência e o amor de Shouto. Não merecia a intensidade dos olhos incompatíveis sobre si; era injusto arrancar sentimentos tão doces, apenas destruí-los dentro de seu ego.
O loiro lamentou em silêncio, mordendo o próprio lábio para não se bater, para não pegar a o revólver embaixo da cama e estourar a própria cabeça. Os machucados eram reversíveis, mas as marcas sempre ficariam em Todoroki.
Aquilo doeu tanto, mas tanto que Bakugou apenas desfragmentou-se da realidade, virou pó sobre a roupa de cama. E chorou com a testa apoiada sobre o ombro do namorado, enjoado da própria presença, odiando-se por ferir a única pessoa que valia alguma coisa para ele.
Beijou com absurda gentileza a pele manchada pelos raios de sol, pelas marcas feitas por seu aperto furioso, numa tentativa falha de juntar todos aqueles fragmentos. Ele era tão fraco, tão pequeno.
— Te amo tanto... — Engasgou-se nas próprias palavras, colando mais o peito nas costas do namorado, apenas para senti-lo, certificando-se que não era fruto de sua mente distorcida. — Me perdoe, por favor... me desculpe... — Acariciou as mechas vermelhas e brancas, viciado pela maciez dos fios, de tudo que era Shouto.
O loiro derreteu-se em lágrimas naquela preguiçosa manhã de domingo, despedindo-se do anjo imperfeito que se desmanchava em fragmentos de mágoas, quebrado sobre a possessividade e a insegurança dos punhos de Katsuki. E que mesmo assim, continuava amando-o como se aqueles erros fossem toleráveis, normais.
Não deveria, não era para ser.
Bakugou se foi.
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Numb • bnha | tdbk | todobaku
FanfictionNuma calorosa manhã de domingo, Katsuki nunca pensou que seria tão doloroso acordar ao lado do namorado. Ele chorou em silêncio, implorou por perdão, talvez o correto fosse sair para nunca mais voltar. Shouto estava quebrado por suas mãos. OTPtober...