— Filha, abre a porta que eu quero falar com você! — falou o homem depois de já ter batido várias vezes.
A jovem abriu a porta e perguntou com rispidez:
— O que você quer, pai? Não tá vendo que eu tô ocupada? — apontou para a tela inacabada em cima do cavalete, que ficava no canto do seu amplo quarto.
— O que eu tenho pra falar é rápido, Tina. Posso entrar?
— Só se você não me chamar mais de Tina! Você sabe que só a mamãe me chamava assim e, além disso, eu adoro meu nome sem abreviações.
— Ok, Valentina... Agora eu posso entrar pra falar com você?
Em silêncio, a garota abriu a porta do quarto e apenas apontou a cama para o pai sentar.
— Você poderia pelo menos desligar o som?
Enquanto Valentina desligava o aparelho de som que reproduzia uma música de rock num tom muito alto, o pai se sentou na cama e comentou com a voz suave, apontando para a tela inacabada:
— Tá ficando muito bonita...
— Obrigada. — a garota se resumiu a dizer e sentou-se ao lado do pai na cama.
— Bom, filha, eu vim aqui pra conversar sobre a Júlia. — ele tentou demonstrar tranquilidade na voz, pois sabia que aquele não seria um assunto fácil.
— O que tem ela? — a menina falou olhando para as unhas pintadas de preto.
— Você sabe que a gente já namora há quase um ano. E, depois de sua mãe, eu nunca mais encontrei uma mulher especial como ela, que eu quise...
A garota franziu a testa e interrompeu o homem:
— Ah, pai, deixa de enrolação e fala logo! Que saco!
Ele desviou o olhar para as próprias mãos e disse:
— Ok, vou direto ao assunto.
— É bem melhor...
— Eu e a Júlia vamos nos casar! — ele falou ainda sem olhar para a filha.
— Quê?! Casar?! Você vai casar com a Júlia?! — ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro. — Eu não acredito que você vai fazer isso, pai! — ela passou as mãos pelos cabelos.
Desde a morte da mãe, há dez anos, Valentina morava sozinha com seu pai, Agnelo, tendo em vista que não tivera irmãos. Mesmo ele tendo namorado outras mulheres, ela nunca imaginou que ele quisesse casar de novo.
— Calma, Valentina! Isso pode ser uma boa coisa pra você, minha filha!
— Não consigo ver nada de bom em você casar de novo. — seu rosto estava endurecido de raiva.
— Tem sim! Você vai ganhar uma irmã!
— Irmã?! — ela parou de andar e deu uma risada sarcástica. — Eu não quero uma irmã! Ainda por cima aquela garota sonsa, santinha do pau oco, que acha que é a perfeição em pessoa! Argh!
— A Amanda é uma ótima garota, Valentina. Você que nunca deu uma chance pra conhecê-la direito.
— Nem quero! E nunca vou querer, pode ter certeza! Não sou amiga dela nem na escola! — ela voltou a andar pelo quarto.
— Pois deveria, porque agora você terá que conviver com ela. — dessa vez a voz de Agnelo soou dura.
— Pai... — ela parou de andar novamente e se posicionou em frente a ele. — Eu até entendo que você gosta da Júlia. Você pode até amar ela de verdade! Mas pra que casar?! Vocês podem ficar namorando e tal, mas cada um na sua casa... Com suas filhas!
— Quando nós amamos alguém, Valentina, nós queremos essa pessoa por perto pra dividir a vida... Eu não espero que você entenda isso agora, mas um dia, quando você amar alguém de verdade, você vai entender.
Valentina bufou e, revirando os olhos, disse:
— Deus me livre de me apegar a alguém! Nunca vou casar! — ela silenciou alguns segundos. — E quando vai ser esse casamento?
— Daqui a três meses.
— Três meses?! Por que tão rápido?!
— Por que não vemos motivos para não fazer isso logo, se é o que queremos.
Então, com o semblante transparecendo raiva, Valentina falou em um tom de voz mais elevado:
— Eu não quero que você se case, pai! Quero que você saiba que sou totalmente contra esse casamento! E mais contra ainda ter essas duas morando com a gente! A casa também é minha! Eu tenho o direito a não querer que elas morem aqui!
Irritado com a infantilidade da filha, o pai se levantou e falou alterando a voz:
— A casa é minha e eu não estou pedindo sua autorização, Valentina! Estou apenas avisando a você o que irá acontecer! Quer você queria ou não, eu vou casar com a Júlia e ela e a Amanda vão vir morar aqui! — ele então saiu do quarto batendo a porta com força.
Quando sua esposa, Ana Maria, morreu Agnelo não soube lidar muito bem com a perda daquela que ele dizia que era o grande amor da sua vida. Assim, para tentar esquecer a sua dor, ele se encheu de trabalho. Em relação à filha, ele achou que preencher a vida dela de bens materiais ao invés de lhe dar a atenção devida iria ajudá-la a compensar a falta da mãe. Pelo contrário, a ausência de carinho fez com que Valentina crescesse com uma rebeldia que ele não compreendia de forma alguma.
Após a saída do pai, a adolescente ligou novamente o som no último volume, jogou-se na cama de casal que ficava no meio do quarto e pôs-se a chorar. Era um choro proveniente da raiva pelo casamento do pai com uma mulher que não lhe agradava e da saudade dolorida que sentia de sua mãe. Por que você morreu tão nova, mãe?!
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QUANDO MENOS SE ESPERA [DEGUSTAÇÃO]
Romantikhttps://www.amazon.com.br/QUANDO-MENOS-SE-ESPERA-LORAK-ebook/dp/B08LKF9T39/ref=mp_s_a_1_5?dchild=1&keywords=quando+menos+se+espera&qid=1626460713&sprefix=quando+menos&sr=8-5 Quando perdeu a mãe aos 7 anos, a adolescente Valentina se viu sozinha com...