CAPÍTULO 1

886 16 0
                                    

No fim da tarde do dia do casamento de seu pai, depois de tomar banho, Valentina ligou o som em um volume ensurdecedor e se deitou em sua cama. Era o seu jeito de pensar sobre a vida. Começou a refletir sobre o casamento e sobre o que poderia vir a acontecer depois dele com a vinda de Júlia e sua filha para morarem em sua casa. Como eu queria que isso fosse somente um pesadelo! E quando acordasse, tudo tivesse voltado ao normal!

A garota não conhecia muito bem nem a madrasta nem a filha dela, apesar de estudar na mesma escola de Amanda há anos. Para ela, Júlia era apenas uma perua dondoca e Amanda, uma garota metida a perfeitinha demais. Desde a morte de sua mãe, quando tinha sete anos, Valentina nunca tinha se permitido se aproximar muito de alguém, de conhecer as pessoas de verdade. Além disso, ela também não se deixava conhecer-se por ninguém. Naquele momento, ela era uma adolescente de dezessete anos que vivia no seu mundo particular. Crescera um pouco circunspecta, não tendo amigos na escola até o início da adolescência. Depois que saiu da infância, fez amizade com uma turma de colegas de sala, com a qual passava o tempo no colégio e os via apenas algumas vezes fora da escola. Mas, na verdade, ela não considerava nenhum deles amigo, apenas colegas de escola.

Decorrido alguns instantes, a vibração de seu celular, que estava próximo ao seu corpo, interrompeu seus pensamentos e ela atendeu sem entusiasmo:

— Oi, Bia.

— Oi. Tudo bem contigo? — do outro lado da linha, Beatriz perguntou com uma voz alegre.

Beatriz era uma garota da sala de Valentina, com a qual ela ficava uma vez ou outra. Bia, como todos a chamavam, era uma menina linda de olhos verdes, corpo benfeito, cabelos castanhos claros, longos e encaracolados.

— Tudo sim. — a filha de Agnelo respondeu com a voz transparente.

— O que você vai fazer hoje à noite?

— Vou ser obrigada a ir ao evento mais ridículo do ano! — Valentina bufou.

— Não me diga que o casamento do seu pai é hoje?

— É. Infelizmente.

— Puxa vida, quando você comentou que ele ia casar, pensei que fosse me chamar, afinal nós estamos ficando há algum tempo...

— Pois é, Bia. Como você mesma acabou de dizer, nós estamos ficando e é isso. Como eu já disse, não é nada sério. E esse casamento não vai ser nada divertido. Então, pensei que você não fizesse questão de ir...

Tentando demonstrar que não se importava com o que Valentina acabara de dizer, Beatriz falou:

— Ah, tudo bem. Então, depois a gente se fala, tá?

— Tá. — Valentina deu de ombros e desligou a ligação, soltando o celular desajeitadamente na cama.

Aos quatorze anos, ela descobriu sua homossexualidade quando se percebeu interessada por Bárbara, uma colega de sala. Certo dia, tomou coragem e declarou para a garota que gostava dela e, para sua enorme surpresa, Bárbara mostrou reciprocidade no sentimento. Assim, elas começaram a namorar. No entanto, quase dois meses depois, a garota teve que ir embora da cidade e Valentina sentiu novamente o peso do abandono. Uma semana antes de Bárbara partir definitivamente, Agnelo acabou descobrindo, entretanto, surpreendeu a filha, pois não houve repreensão da parte, não do jeito que ela pensava.

Três anos atrás

Agnelo abriu a porta do quarto de Valentina e viu uma cena que jamais imaginou ver: sua filha e a amiga aos beijos em cima da cama. Valentina então levantou depressa e disse fechando a porta antes mesmo de deixar o pai entrar ou falar alguma coisa:

QUANDO MENOS SE ESPERA [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora